As bactérias, o PT e a formação política
Trago à baila o olhar de alguém que acredita num único caminho para mudar essa realidade: o da formação política
A sobrevivência das bactérias quando em contato com um tecido vivo está calcada num fenômeno reprodutivo chamado de cissiparidade, que consiste em que uma bactéria, ao partir-se ao meio origina outra. Não pude ao longo dos dias de lutas eleitorais passar ao largo do vaticínio da extrema direita raivosa e, de algumas vezes, da própria esquerda, de que novamente o PT está desaparecendo. Não discutirei números, fatos ou elucubrações. Seguirei convicto de que esses adversários extra e “intra corporis” possam estar cheios de razões e me concentro em como buscarmos uma saída.
Trago à baila o olhar de alguém que acredita num único caminho para mudar essa realidade: o da formação política. Há anos aqueles que conhecem a minha trajetória sabem que com todos os percalços a fiz cotidianamente. Ao longo da jornada olhei com reticências às críticas de sempre, escoradas num saber acadêmico e fatalista que sempre desenharam e que agora continuam prenunciando: “O PT afastou-se das bases”. Sempre perguntei quem é o PT? Que entidade metafísica seria essa, que paira sobre todos e sozinha, se afasta ou se aproxima? Seríamos nós os parlamentares, muitas vezes preocupados apenas com “eternas” reeleições? Seriam a nossa base social tão mergulhada em sua sobrevivência? Ou seriam os diversos companheiros focados em suas duras lutas identitárias?
Este jogo de empurra nos levou a um olhar desfocado sobre o nosso partido. A nós parece que o problema dorme no colo do outro. Falta-nos assumir que a aproximação ou o afastamento da base se dará quando nos entendermos como artífices de tais movimentos. Somos nós e não os outros os que podem modificar tal realidade. Somos inúmeros filiados que temos o condão de criar as ditas pontes com a nossa base.
A minha formação acadêmica me ensinou muito sobre bactérias e nada de política. Nos caminhos de damasco de minha vida fui conduzido ao encontro de Dom Helder Câmara, Lula e Paulo Freire. De todos procurei aprender algo, mas de todos entendi, que se não partilhasse o que aprendia, de nada teria valido o privilégio de encontrá-los. Assim, ao longo de anos, me atirei como militante do PT, da Pastoral Operária e com toda a convicção freiriana, na busca de ensejar formação política. Repetidas vezes. Não tive medo de tentar, a minha proposta sempre foi a mesma: Estudar, ensinar, aprender, cantar, poetizar, viver e amar. Fiz do espaço da formação um imenso psicanalisar, onde diferenças são desconsideradas e a busca permanente de um relacionar-se amoroso, sem dogmas ou fronteiras, constroem o nascer de uma militância com estima elevada e sem medo de se encontrar.
Após esse périplo elucidativo volto à nossa busca. Cada filiado ou filiada tem uma grande capacidade de ampliar os nossos quadros. Primeiramente precisamos compreender a conjuntura ofertada pela extrema direita, que nos atraiu ao “pântano da superficialidade”, que ela domina e que paradoxalmente chamamos de redes sociais. Assim como Napoleão e Hitler viram sucumbir seus exércitos na neve russa, nós militantes petistas, passamos a frequentar tais redes acreditando que ali encontraríamos o segredo para ganhar mentes e corações. Assim, fomos atraídos para o campo do adversário, lá a metodologia de Goebels, minta primeiro, destrua primeiro, e se explique depois, prevalece.
Nós da esquerda não somos afetos à falácia, à mentira, ao ludibriar multidões. Caso existisse regulamentação adequada de tais redes, ainda assim, seria questionável nossa capacidade para formar uma militância crítica neste espaço. Ali pululam influencers para todos os gostos, muitos e muitas desfilando caras e bocas, fazendo do existir um monumento ao consumismo e à solidão. Uma sociedade narcisista, carente de reconhecimento do efêmero e assim também, na insustentabilidade da validação contínua, absolutamente deprimida.
Voltando à analogia da reprodução das bactérias e a relação com a expansão do Partido dos Trabalhadores. Essa reprodução pode ser ofertada como modelo simples e objetivo de ocupação de espaço, a partir de um único indivíduo, politizado e convicto, dedicando à formação um dia do seu mês, e convencendo a quem o encontra que traga apenas mais uma pessoa para o espaço de convívio fraterno entre companheiros. Assim teríamos ao longo de doze meses o número de quatro mil e noventa e seis pessoas. Parece pouco provável que em nossos dias tenhamos gente disposta a isso, e que não haja imperfeições em tal prática, mas nos arremete ao convívio, tão esquecido de nossas práticas e tão deixado para trás em dias de militância digital.
Mãos à obra, basta buscar um, só um, mais um. Somos milhões!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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