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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    As perspectivas do governo Lula

    "Lula faz um excelente governo, frontalmente antineoliberal, privilegiando as políticas sociais", escreve Emir Sader

    Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia para lembrar os dois anos dos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes - 08/01/2025 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

    Lula faz um excelente governo, frontalmente antineoliberal, privilegiando as políticas sociais. A economia voltou a crescer, chegando a 3% este ano, e o desemprego baixou ao seu menor nível. Há um evidente processo de distribuição de renda, que se constata no aumento exponencial do movimento do comércio e das compras em geral. A situação da massa da população melhorou.

    Os programas antineoliberais do governo são colocados em prática, com um conjunto de medidas como nunca antes. No entanto, o eixo da economia continua sendo o capital financeiro. Não o que financia o desenvolvimento econômico, mas o especulativo, que vive da taxa de juros, a qual freia o crescimento.

    A reforma tributária é socialmente justa, com os ricos passando a pagar mais e os pobres, menos. O salário mínimo é elevado, garantindo-se o aumento do acesso ao Bolsa Família e a outros programas sociais do governo.

    No entanto, os índices de apoio ao governo deveriam ser muito mais altos do que os apontados pelas pesquisas. Bolsonaro está derrotado, mas distintas formas de oposição — do bolsonarismo aberto a outras expressões de direita e de extrema direita — seguem com apoios, sem que se consiga compreender esse fenômeno. Bolsonaro deixou um legado claramente negativo e não tem propostas para o país.

    É claro que o eixo da oposição ao governo é a mídia, com uma atuação reiterada de críticas totalmente irrelevantes, mas sistemáticas, ao Lula. Não podem criticar a diminuição do desemprego ou o crescimento da economia, mas buscam encontrar defeitos até mesmo na reforma tributária.

    Lula faz um bom governo, mas está perdendo a disputa no plano das comunicações. Lula é o maior comunicador da esquerda, mas é, ao mesmo tempo, alvo reiterado das críticas da mídia.

    Tentam desconhecer ou desgastar o inegável prestígio internacional de Lula. Ignoram os fortes argumentos a favor da melhoria econômica e social do país. Não divulgam dados reais sobre a situação do povo.

    Ao mesmo tempo, quaisquer que sejam os problemas reais que o governo enfrenta, ele tem uma margem muito grande de possibilidades de readequação de suas políticas. Caso Lula se reeleja, isso significará cerca de seis anos de possibilidades para a reformulação das políticas do governo e a projeção de um projeto renovado para o país.

    Uma questão que se coloca é saber o que vem depois do neoliberalismo. Essa ainda é a política que marca o período histórico atual do capitalismo. Como já dissemos, o capital especulativo continua sendo hegemônico no plano da economia. Combatemos o neoliberalismo, mas ainda sem condições de passar do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo.

    O que é isso? É o fortalecimento da retomada da expansão econômica, derrotando a especulação financeira e promovendo a centralidade do desenvolvimento econômico. O crescimento econômico atual não terá fôlego duradouro se a taxa de juros continuar em patamares altos. O fim do mandato do presidente do Banco Central herdado por Lula é a oportunidade fundamental para revisar a política de juros e propiciar condições mais favoráveis à transição para um ciclo longo e expansivo da economia brasileira.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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