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    Heba Ayyad

    Jornalista internacional e escritora palestina

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    As tarefas sujas da mídia francesa

    "As autoridades francesas decidiram tomar medidas de segurança excepcionais para impedir que a bandeira palestina fosse hasteada nas arquibancadas"

    Bandeira da França (Foto: Reuters)

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    A França da liberdade, fraternidade e igualdade vive um estado de alerta extremo às vésperas do confronto de futebol agendado para esta quinta-feira, em Paris, entre França e Israel, pela sexta rodada das competições da Liga Europeia das Nações. A tensão aumentou especialmente após as autoridades de segurança decidirem proibir que torcedores carregassem bandeiras palestinas e gritassem slogans de apoio à Palestina, tendo como pano de fundo os eventos na partida do Paris Saint-Germain pela Liga dos Campeões, quando torcedores parisienses exibiram uma grande faixa com os dizeres “Liberdade para a Palestina”, temendo a repetição do que aconteceu em Amsterdã, confrontos entre árabes, europeus e torcedores da seleção israelense durante o jogo entre Ajax e Maccabi Tel Aviv pela Liga Europeia de Clubes. Os confrontos foram desencadeados quando torcedores israelenses removeram bandeiras palestinas das varandas de algumas casas e as queimaram.

    As autoridades francesas decidiram tomar medidas de segurança excepcionais para impedir que a bandeira palestina fosse hasteada nas arquibancadas do Stade de France, onde o jogo será realizado. O presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu assistir ao jogo para enviar uma mensagem de “irmandade e fraternidade”, conforme comunicado do gabinete presidencial, que descreveu os eventos em Amsterdã como um ato de antissemitismo. Macron sublinhou anteriormente que as ações de Israel em Gaza e no Líbano constituem legítima defesa, enquanto nem ele, nem seu gabinete, nem o ministro do Interior fizeram qualquer pronunciamento sobre os ataques da polícia israelense contra gendarmes franceses em uma sede de propriedade francesa em Tel Aviv, onde foram maltratados e presos na presença do ministro das Relações Exteriores francês, que estava no local. Esse incidente foi coberto pela mídia francesa com cautela, “para proteger os sentimentos dos israelenses”.

    Em troca de seu silêncio e até mesmo de sua justificativa para os atos israelenses em Gaza e Beirute, muitos meios de comunicação franceses, por sua vez, começaram a promover uma mobilização contra árabes em Amsterdã e Paris, alertando para supostos atos de violência iminente nesta quinta-feira, cometidos por quem descreveram como árabes e muçulmanos extremistas antissemitas, acusando-os de atacar torcedores do Maccabi Tel Aviv em Amsterdã. Isso, apesar de diversas reportagens mencionarem o comportamento agressivo e antidesportivo de torcedores israelenses nas arquibancadas e fora do estádio, onde entoaram cânticos racistas contra árabes e palestinos, provocando altercações violentas após o término da partida, que foram retratadas pela mídia francesa conforme desejado pelo lobby israelense e suas extensões políticas.

    Quanto aos meios de comunicação israelenses, que relataram que milhares de israelenses assistiriam ao jogo da seleção nacional de seu país em Paris, apesar dos avisos emitidos pelas autoridades para que se abstivessem de fazê-lo, seguiram a mesma abordagem de incitação ao comercializar a hostilidade árabe e islâmica contra os judeus na Europa. Mesmo com a bandeira hasteada no jogo do Paris Saint-Germain contra o Atlético de Madrid contendo apenas a frase “Palestina Livre”, foi como se a liberdade para a Palestina trouxesse consigo a morte para Israel, ou como se o levantamento da bandeira palestina cancelasse a bandeira israelense ou eliminasse a realidade agressiva e criminosa que Israel tem praticado em Gaza, Beirute e em todos os territórios palestinos ocupados durante décadas.

    O que era apenas uma impressão agora se tornou uma certeza nos círculos midiáticos: a comunicação social francesa não pratica jornalismo imparcial, como muito acontece no Brasil, tendo-se transformado em um instrumento de hostilidade contra muçulmanos, árabes, africanos e imigrantes, enquanto comercializa a tese do antissemitismo. Isso chega ao ponto de alguns veículos recorrerem à calúnia e à desinformação em várias plataformas para direcionar a opinião pública francesa. O simples levantamento de uma faixa com os dizeres “Liberdade para a Palestina” foi considerado um convite à violência e à glorificação do terrorismo. O ministro do Interior francês criou um estado de emergência extrema por ocasião do jogo França-Israel, mas não levantou um dedo para denunciar o que aconteceu com dois policiais franceses em Tel Aviv, quando foram submetidos à violência e presos pela polícia israelense dentro dos muros de uma propriedade francesa. Emmanuel Macron não pronunciou uma única palavra sobre o incidente. Pelo contrário, decidiu comparecer ao confronto desta noite para expressar sua simpatia por Israel e pelos israelenses, além de sua oposição ao que chamou de “antissemitismo”.

    Quanto às vozes francesas livres nos círculos populares do futebol, elas apelaram ao boicote ao confronto franco-israelense, em que não há espaço para a Palestina e sua bandeira, nem para a mistura de esporte com política. É como se a presença do presidente francês fosse apenas para apoiar a seleção nacional de seu país, e não para demonstrar apoio a Israel, cuja guerra contra Gaza ele descreveu como um direito de autodefesa. Ele negou aos palestinos o seu direito à vida ao considerar que a resistência à ocupação era terrorismo, da mesma forma que os seus antepassados consideravam a luta dos argelinos contra o colonialismo francês como terrorismo e crime.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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