As várias penas de Bolsonaro
"Isso tem que ter um fim", escreve Florestan Fernandes Jr.
Como dizia minha avó, você puxa uma pena e sai uma galinha. Tem sido assim nos arquivos eletrônicos apagados e recuperados do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. Os agentes da Polícia Federal puxaram uma pena e, mais que a galinha, veio o galinheiro inteiro.
Os últimos capítulos dessa série revelam detalhes de um plano macabro para raptar o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, no fatídico 8 de janeiro. Para isso, os golpistas previam confrontos armados com os seguranças do presidente da República e do ministro do STF. Nomes e o tipo de armamento usado pelos seguranças foram criteriosamente listados.
A trama golpista teria contado com a participação de parte de um setor especial das Forças Armadas, os kides pretos. Eles são a elite de combate do Exército, recebem um treinamento qualificado, são especializados em ações de sabotagem, como ataques a pontos sensíveis e estratégicos de infraestrutura (inclusive torres de energia e aeroportos).
Nas imagens da destruição da Praça dos Três Poderes, é nítida a ação de homens encapuzados e treinados abrindo caminho para a multidão invadir as sedes dos Poderes da República.
Por conta dessas e outras revelações, figuras importantes do entorno do ex-presidente estão sendo chamadas para depor na PF. No início de novembro foram ouvidos o ex-diretor da ABIN, Alexandre Ramagem, e o coronel que comandava o “kide preto” no governo passado, Nilson Dinis Rodrigues.
Certamente os investigadores já dispõem de detalhes dos ataques coordenados pouco antes da posse de Lula, no final de 2022, contra as torres de energia elétrica e o aeroporto de Brasília.
Aliás, um dos que chegaram a ser presos nas investigações da PF é o coronel da reserva Marcelo Câmara, kide preto que integrou o grupo especial do Exército, suspeito de treinar manifestantes golpistas. Ele era um dos assessores mais próximos de Bolsonaro e passou a acompanhá-lo mesmo após o fim do mandato, inclusive indo com ele para os EUA.
A decisão de Moraes indica que Marcelo Câmara era o responsável por um núcleo de inteligência paralela de Bolsonaro.
Ou seja, esses militares foram fortemente treinados, às custas do meu, do seu, do nosso dinheiro. Aprenderam estratégias especiais de sabotagem e inteligência para usar em situações específicas e contra inimigos externos. E usaram contra o próprio Estado, para solapar a democracia. Como bem disse um dos mais importantes juristas do país, Sobral Pinto, ainda durante a ditadura militar, um dos mais graves problemas no Brasil foi a Proclamação da República:
"Os militares, tendo proclamado a República, julgaram-se donos da República."
Isso tem que ter um fim, e isso passa necessariamente pela punição de todos aqueles que se levantaram contra o estado democrático de direito, sejam eles civis ou militares.
Do jeito que as coisas vão, é bom ficar de olho no Jair e suas pernoites em embaixadas de Brasília.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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