Assange precisa que o povo grite por sua liberdade
"Imaginemos se ele tivesse permanecido livre e solto nesses últimos 12 anos? Estariam os terroristas de estado aterrorizando o mundo agora?"
"Eles farão da minha vida um inferno, mas é minha obrigação garantir que o público tenha esta informação."
Julian Assange em 2010, pouco antes de publicar os Arquivos da Diplomacia dos Estados Unidos - o Cablegate.
E, de fato, eles fizeram da vida de Assange um inferno.
Depois de assassinarem seu caráter, o colocaram num caixão de concreto chamado de prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres.
Tal como Antígona, Assange está enterrado vivo, esperando que os cidadãos de consciência e coragem o libertem.
Tão somente por que Assange, tal como Antígona, ousou devolver a dignidade aos mortos (das "guerras ao terror"), e também dignidade aos vivos (sequestrados em prisões ilegais como Guantánamo e Abu Ghraib), aos mutilados e aos despojados pelas guerras, pela destruição do meio ambiente, pela corrupção dos bancos, pelas mentiras da mídia corporativa (poder não se legitima tão somente pela força, o WikiLeaks escancarou o papel da grande mídia em mentir, omitir, ofuscar, distorcer para confundir o público).
Enfim, Assange ousou dar dignidade aos despojados pelo capital.
E ousou mais: Assange deu nome, RG, CPF e CNPJ de cada criminoso do capital dos últimos 70 anos. E registrou tudo em pedra eletrônica com a proteção mágica de todos os selos da criptografia.
"Privacidade para indivíduos. Transparência para governos, instituições e corporações." Esse é o norte do WikiLeaks.
Com o mesmo sigilo da criptografia, Assange protegeu suas fontes. Com inteligência e ainda mais coragem, ele ousou mais. Moveu diplomatas, aviões e twitter para salvar de morte certa Edward Snowden - ele que nem era sua fonte.
E continuou seus muitos trabalhos de vazar os crimes dos poderosos. Assange, um mero mortal, afrontou pessoas tão poderosas que se comportam como se fossem deuses - esses que usam a lei da força e a chamam de força da lei.
A internet é eterna. E a fúria dos poderosos feridos também.
Eles esperam, os operadores do império anglo-estado unidense. Eles esperam, tal como o rei Creonte (mas sem a razão de estado e muito menos a dignidade de Creonte).
Esperam que Assange se enforque como Antígona se enforcou em desespero, ou que apodreça até à morte, como Assange está apodrecendo em vida há quase 12 anos seguidos sem sua liberdade, sem vida social, sem assistência médica, quase inteiramente incomunicável, sem direito a um julgamento justo.
São quase 12 anos de vilipêndio via mídia corporativa ocidental (a assessoria de imprensa da OTAN) e ameaças de morte de políticos e funcionários de estado.
E ainda assim, Assange pulsa e aterroriza aqueles que produzem o terrorismo de estado.
Imaginemos se ele tivesse permanecido livre e solto nesses últimos 12 anos? Estariam os terroristas de estado aterrorizando o mundo agora com tamanha liberdade e tamanha tranquilidade?
Se a imprensa realmente comprometida com o povo fosse majoritária, a OTAN seria bem sucedida em assassinar a imagem de países inteiros como classes dominantes fazem com grupos minoritários? Tantas guerras continuariam a ocorrer para levar "a liberdade e a democracia" aos "bárbaros" com o orçamento público? Tanto ódio e negacionismo grassariam? Palhaços sinistros seriam eleitos? Pessoas dignas seriam desonradas publicamente a ponto de cometer suicídio ou morrer de AVC? Juízes ladrões seriam candidatos a presidente? Dinheiro público de trilhões seria transferido automaticamente para bancos? Direitos e patrimônio público seriam destruídos?
Depois de ousar trazer a maior invenção da comunicação para a humanidade, desde Gutemberg, o fogo da informação bruta - informação à mão cheia e mandar o povo se informar, pensar e agir; como Prometeu acorrentado no alto do monte Cáucaso, o inventor do WikiLeaks passou a ser bicado diariamente por calúnias e difamação em escala industrial de forma implacável - o que constitui tortura segundo relatório da ONU.
Ainda vivo, Assange resiste através da esperança, tão somente.
Em suas próprias palavras em carta escrita no cárcere, Assange diz:
"Estou indefeso e contando com você e outros de bom caráter para salvar minha vida.
Estou intacto, embora literalmente cercado por assassinos, mas os dias em que eu podia ler, falar e me organizar para me defender, meus ideais e meu povo, acabaram até que eu seja livre.
Todo mundo deve tomar o meu lugar.”
Na mitologia grega, Prometeu foi finalmente libertado por Hércules, quando ainda este era um mortal.
Como? Hércules subiu ao Cáucaso, abateu a águia que mutilava Prometeu todos os dias, e quebrou as correntes que aprisionavam o Titã que mais amou a humanidade.
Prometeu amou a humanidade tanto a ponto de roubar dos deuses para dar aos homens o domínio sobre o fogo, dando aos mortais a possibilidade de liberdade através do conhecimento e assim retirando dos imortais um pouco de seu poder.
E agora Assange precisa que o povo grite por sua liberdade tão alto que a imprensa corporativa não possa mais abafar essa exigência. É assim que se abate a águia e se quebra os grilhões que o prendem ao monte Cáucaso/prisão em Londres.
A luta pela libertação de Julian Assange é uma luta hercúlea, é uma das muitas lutas na guerra entre o trabalho e o capital. É uma luta para salvar da criminalização o verdadeiro jornalismo, aquele que serve ao povo e não aos poderosos. É uma luta pelo direito de informação, direito que dá sustentação a todos outros direitos humanos.
E, como toda luta, só pode ser ganha se for lutada.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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