Assim como no Brasil de Bolsonaro, ocultação de dados do coronavírus gera crise no Chile de Piñera
"O presidente do Chile, Sebastián Piñera, demitiu no sábado, 13, o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, após ser revelado que o governo estaria ocultando dados sobre a pandemia do coronavírus para a população"
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, demitiu no sábado, 13, o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, após ser revelado que o governo estaria ocultando dados sobre a pandemia do coronavírus para a população. Os dados do governo indicavam 2.870 mortos pela doença no país, mas ao anunciar à Organização Mundial da Saúde (OMS), aumentou para quase o dobro, com mais de 5 mil óbitos, colocando em dúvida todos os números apresentados pelo governo.
O governo teve que mudar o comando do ministério da Saúde, que passou para Enrique Paris, ex-presidente do Colegio Médico de Chile. No país, são - segundo os dados duvidosos do governo - cerca de 167 mil infectados pela doença e mais de 3 mil óbitos (dados que continuam sendo menores aos que foram anunciados para a OMS).
Ao mesmo tempo, no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro também foi criticado, nas últimas semanas, pela ocultação de dados do coronavírus. A medida do governo ocorreu em meio à escalada da pandemia no país, que ultrapassou o Reino Unido e é, neste momento, o segundo maior em número de infectados e de mortos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, mas já tendo uma média de mortes diárias acima dos norte-americanos. Algo que, para não ficar ruim para o Planalto, precisa ser escondido e manipulado.
Bolsonaro começou atrasando os boletins sobre a pandemia, que são atualizados às 19 horas. Eles passaram a ser divulgados por volta das 21h/22h para impedir a cobertura da imprensa, como ele mesmo disse: “agora acabou matéria no Jornal Nacional”. Em seguida, para esconder o tamanho da crise no País, o Ministério da Saúde buscou modificar a divulgação dos dados da pandemia para atender os interesses de Bolsonaro, que queria mostrar menos de mil mortes diárias - em um momento onde ultrapassar esse número é a lei.
Desta forma, podemos facilmente igualar os governos brasileiro e chileno. Tanto Piñera, quanto Bolsonaro são saudosistas das ditaduras latino-americanas do passado. E sendo assim utilizam seu método: a ocultação de dados para enganar o povo, como os militares dos dois países faziam com os corpos das pessoas que assassinavam e com outros números oficiais, se isto fosse conveniente para sustentar a ditadura. Em 1977, por exemplo, o movimento operário denunciou a falsificação dos índices oficiais da inflação de 1973, luta pela qual o ex-presidente Lula ficou famoso. Para citar um exemplo.
Essa política levada adiante no Chile e no Brasil é reflexo da intensa crise dos governos golpistas impostos na América Latina. Nos dois casos citados, a impopularidade dos governantes diante do povo é inquestionável. Em 2019, os chilenos tomaram as ruas do país durante meses, exigindo o Fora Piñera. No Brasil, nos primeiros meses do governo Bolsonaro, milhões participaram de manifestações nacionais “pela educação” (que na realidade já eram pelo Fora Bolsonaro) e, agora, estão voltando nos atos antifascistas - que nem o coronavírus conseguiu segurar.
A crise dos golpistas latino-americanos foi acelerada pela pandemia da Covid-19, que mostrou o total sucateamento do sistema público de saúde e a política de abandono completo da população mais vulnerável. No caso de Bolsonaro, isso fica ainda mais óbvio, uma vez que, desde o início da pandemia, há três meses atrás, já se foram dois ministros da Saúde. O ministério agora é controlado pelos pilares do governo federal, os militares. Mas a crise em outros ministérios (Sergio Moro) e na Polícia Federal (PF) também são expressão desta mesma crise política. No caso de Piñera, no início deste mês, também houve mudanças nos ministérios: Sebastián Sichel saiu do Ministério do Desenvolvimento Social e pessoas foram realocadas em novos cargos.
A instabilidade dos governos gera um problema dialético: ao mesmo tempo que são frágeis diante da mobilização popular, a tensão política para sustentar o governo cria uma tendência para o fortalecimento do regime, que procura, cada vez mais, apoiar-se em medidas ditatoriais.
Por isso, sair às ruas é o único remédio contra o fortalecimento do regime golpista sul-americano.
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