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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Até a tática engana-mané não falha

“A repercussão de crueldades e mentiras da extrema direita é mais efetiva do que a reação aos esforços de Lula”, escreve o colunista Moisés Mendes.

(Foto: Reprodução / Redes Sociais)

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O estagiário de gestão pública da Câmara dos Deputados e o estagiário de direito penal do Supremo sabem de coisas que seus chefes não sabem ou fingem não querer saber. 

O estagiário da Câmara sabe que Lula se esforça para salvar o Rio Grande do Sul, mas não consegue ver essa dedicação percebida na sua real dimensão pelos próprios gaúchos, porque a sabotagem ao socorro começa com a direita e a extrema direita do Congresso.

E o estagiário do Supremo sabe que, enquanto Lula se dedicava aos planos de recuperação do Rio Grande e à gestão dos dribles que leva na Câmara e no Senado, três deputados bolsonaristas estavam em Buenos Aires pedindo asilo a condenados pelo 8 de janeiro pelo STF e que viraram foragidos.

Os dois estagiários sabem que os deputados Eduardo Bolsonaro, Júlia Zanatta e Marcel Van Hattem foram à Argentina jogar para a torcida, porque a idiotia de Javier Milei não chegaria ao ponto de afrontar o Brasil com asilo para os manés traídos pelos golpistas.

Mas os estagiários sabem que, mesmo jogando para suas torcidas, os três deputados fidelizaram suas bases e até alargaram seus apoios muito mais do que Lula conseguiu no esforço para dizer que o socorro aos gaúchos é mais relevante do que o arcabouço fiscal.

A tática engana-mané dos deputados que foram fazer o teatro do socorro aos foragidos é mais efetiva do que a dedicação de Lula às urgências gaúchas. Até os socorridos por Lula enxergam menos o que ele faz, no confronto com os agradecidos aos deputados pela encenação que fizeram na Argentina.

É um resumo que parece grosseiro, mas é a realidade. Porque o poder de articulação do fascismo foi restabelecido, a capacidade de comunicação em redes sociais está viva e renovada e as fake news, agora com aval do Congresso, chegaram a outro patamar.

O bolsonarismo transformou direita e centro em linha auxiliar da extrema direita, não só para empreitadas, e por isso consegue produzir em Buenos Aires, como espetáculo, o que Lula nem sempre consegue mostrar como ação de governo. O espetáculo deles é para todos, para extrema direita, centro e direita.

Nesse cenário, não há como duvidar que, se andasse de jet ski hoje no Guaíba, Bolsonaro conseguiria mais repercussão com sua performance do que Lula no encontro com os desabrigados. 

A foto de Lula com as vítimas da enchente, em São Leopoldo, em maio, não saiu na capa de nenhum jornalão. Nenhum. Todos esconderam a imagem. 

Mas todos os jornalões davam em manchetes as motociatas com os tios do zap vestidos de preto. E mostravam com destaque os passeios do sujeito de jet ski em Santa Catarina. 

Bolsonaro queria produzir e disseminar aquelas imagens, mesmo que as esquerdas achassem que aquilo era contra ele. Não era. Bolsonaro queria exposição, para fidelizar sua gente e atrair mais gente da direita.

É o que os congressistas fizeram com a sabotagem aos controles das fake news e à saidinha de presos. Jogaram para a galera, estreitaram laços e expandiram alcances. Tudo porque centristas, direitistas e fascistas disputam agora quase a mesma audiência e o mesmo eleitorado.

O que fazer? Se alguém souber, que avise os estagiários. Porque um estagiário enxerga coisas que seus orientadores muitas vezes não enxergam ou não querem enxergar.

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