Até quando Lula vai conviver com a alta da taxa básica de juros?
A extorsiva alta da Selic tem como objetivo oficial a redução da atividade econômica
O presidente Lula tem mais ou menos um ano e meio para resolver a equação da Taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, teoricamente o principal instrumento de política monetária usado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Concomitantemente, o processo inflacionário é outro grande desafio, conjugado à marcha da Selic. Ambos têm potencial para desidratar os índices de popularidade do atual inquilino do Palácio da Alvorada. Mais do que isso, Selic e inflação têm trazido não apenas uma percepção negativa em relação à política econômica de Brasília.
Os dois vetores – combinados ou não – estão causando perda do poder aquisitivo, frustração e irritação popular, o que não é nada bom para o presidente. Combustíveis e alimentos infelizmente estão muito caros, afetando sobretudo as classes média e as ainda menos favorecidas. Juros e inflação, o binômio que não pode sair do foco, das prioridades máximas do Planalto. Porém, essa necessária preocupação parece menosprezada por quem está no poder central, que precisa urgentemente se desvencilhar da suprema sabotagem protagonizada pelo ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Bolsonarista de carteirinha, Campos Neto manteve a Selic na estratosfera ao longo dos dois primeiros anos do governo Lula, obstaculizando o processo de retomada do crescimento econômico, articulado, no entanto, com êxito pelo governo atual. Na galeria dos piores presidentes da história do BC, Campos Neto não apenas forçou a Selic a permanecer nas alturas, mas criou todo um ambiente de desconfiança usando como argumento repetitivo a tese do descontrole ou irresponsabilidade fiscal. De quebra, conseguiu deixar duas bombas-relógio para estourar no País depois do término de seu mandato.
Bombas-relógio - Uma delas já explodiu no colo de Lula, do ministro da Fazenda, Fernando Hadad, e do atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado, por Lula. A outra está armada para estourar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para definir o percentual da Selic. Campos Neto deixou bem claro, na última reunião do Copom sob seu comando, que a Selic aumentará 1% por duas vezes consecutivas no início deste ano, alegando forte pressão inflacionária, desconfiança sobre a tal responsabilidade fiscal, cenário externo, etc.
Sob grande pressão do chamado mercado, o BC cumpriu à risca a ordem de seu ex-presidente. Então, é forçoso perguntar: até onde a política econômica do atual governo vai, sem sinalizar no sentido da necessidade dramática de reduzir a taxa básica de juros? Certamente, se acontecer, a conta da redução do crescimento econômico, consequentemente da geração de emprego e renda, não será paga pelo Banco Central. Quem corre grande risco de pagar o respectivo custo político é o atual mandatário do Palácio do Planalto, em 2026 ou até antes das próximas eleições presidenciais.
De acordo com a ata da reunião do Copom, realizada no final do mês passado, a extorsiva alta da Selic tem como objetivo oficial a redução da atividade econômica, ou seja, do crescimento econômico, com o subterfúgio de controlar a inflação. “O Comitê segue avaliando que o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade (econômica), a qual é parte do processo de transmissão de política monetária e elemento necessário para a convergência da inflação à meta”, é o que diz a ata. Trata-se de uma pérola do pensamento neoliberal, tudo aquilo que o governo Lula sempre disse combater.
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