Até que ponto cada um pode fazer o que quer?
O jogador olímpico de vôlei Maurício Souza fez declarações homofóbicas e foi demitido. Enquanto isso, a Reitoria da UFRGS decide que não vai cobrar passaporte vacinal de quem retornar às aulas presenciais. O que tem a ver esses fatos tão distantes um do outro?
O jogador olímpico de vôlei Maurício Souza fez declarações homofóbicas e foi demitido. Enquanto isso, a Reitoria da UFRGS decide que não vai cobrar passaporte vacinal de quem retornar às aulas presenciais. O que tem a ver esses fatos tão distantes um do outro?
Nesses dois casos, o que está em debate é o limite da liberdade individual como um valor supremo e inquestionável. Até que ponto cada um pode fazer o que quer? No primeiro caso, a liberdade individual do jogador de ter uma opinião homofóbica em relação a um personagem de ficção de histórias em quadrinhos, que segundo ele teria que ser heterossexual e não bissexual, teve uma punição.
O argumento para a demissão sofrida pelo jogador é que a opinião dele incentiva a violência contra homossexuais, e portanto não pode ser considerada opinião, e sim crime. No Brasil em que um LGBT é agredido a cada hora, uma figura pública que faz uma fala contra homossexuais, tende a agravar esse quadro.
O pastor Silas Malafaia, entusiasta defensor de Bolsonaro, veio a público defender o direito a liberdade de expressão individual do jogador de vôlei. “A censura no século XXI é pior que o fascismo, nazismo, comunismo e radicalismo islâmico”, proferiu o líder religioso em vídeo. A extrema direita é muito entusiasmada para defender a liberdade individual que lhe convém. A liberdade de ser racista, machista, homofóbico, de explorar o trabalho alheio sem ter que pagar nenhum direito. Interessa a extrema direita a liberdade de ser escravagista e mercador da morte.
A liberdade individual não pode ser a justificativa para causar danos a outras pessoas. Da mesma forma como proferir uma declaração que incentiva a violência é crime, deixar de se vacinar e transitar em ambientes comuns, oferecendo com isso riscos a outras pessoas, é uma postura passível de sofrer sanções, inclusive a demissão. Portugal tomou uma dura e exemplar decisão nesse sentido.
O juiz Rui Pedro Fonseca e Castro foi demitido por ter agido de maneira negacionista no exercício de sua função, o que incluiu não usar máscaras. O Senado Federal brasileiro publicou em julho matéria afirmando que recusa a tomar vacina pode resultar em demissão por justa causa. Mas assim como o pastor Malafaia, a decisão do Reitor Calos Augusto Bulhões, indicado pelo presidente Bolsonaro contrário a decisão da comunidade acadêmica, é a da prevalência da liberdade individual em prejuízo do coletivo.
Segundo sua decisão, que contraria o Comitê COVID-19 de sua própria instituição, não deverá ser cobrado passaporte vacinal, ou seja, a exigência de que para circular nos prédios da UFRGS, as pessoas tenham que apresentar a comprovação de terem tomado a vacina cotra COVID-19. Essa decisão está totalmente dentro da lógica bolsonarista.
O presidente agiu para boicotar a vacina, conforme está fartamente comprovado no Relatório final da CPI da COVID-19. Dentre as muitas declarações absurdas que fez, está uma em que disse que as vacinas estariam disponíveis para quem quisesse tomar.
Ou seja, o presidente da República diz abertamente que tomar vacina é mera decisão individual. Não é surpresa nenhuma que o Reitor bolsonarista se negue a controlar a vacina na UFRGS. Para o bolsonarismo, a liberdade é para matar e morrer.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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