Ausência econômica
A meta de superávit de 2,3% do PIB, reforçada e comprometida por Mantega, ficará cada vez mais difícil, para não dizer impossível
De todos os devaneios na condução da política macroeconômica do Brasil, uma é a que mais me incomoda: déficit fiscal crescente. A perda de credibilidade e a forma como o governo conduz tal processo demonstra fragilidade institucional, desautoriza o ministro da Fazenda e cria uma situação de degradação da responsabilidade fiscal em prol de gastos descontrolados.
A meta de superávit de 2,3% do PIB, reforçada e comprometida por Mantega, ficará cada vez mais difícil, para não dizer impossível. A necessidade de se cumprir tais acordos fará com que o governo busque alternativas e restrinja valores gastos com seguro desemprego, abonos salariais e custeio da máquina pública, apenas para citar algumas poucas contas que passarão por pente fino.
As projeções para o próximo ano já trabalham com o rebaixamento da qualidade fiscal brasileira, o que se traduz em juros mais caros e dificuldades em captação de recursos acima do que hoje estamos acostumados.
Com absoluta certeza, a farra da gastança em prol de acordos políticos deverá passar por um forte ajuste nos próximos anos. Independente do governante que se postará na presidência, a meta fiscal é política de Estado, e não de governo. Está acima das ambições e desejo de um ou outro grupo político.
A perda de confiança externa sobre nossas contas agrava a relação política, e faz com que altos quadros petistas entrem em ação para garantirem as verdadeiras intenções do governo. Empresários sabem que, ao continuar nesta situação degradante, há grande possibilidade de sobrar para eles a conta a ser paga, via aumento de carga tributária.
A balança comercial é outra fonte permanente de preocupação, principalmente nas contas de petróleo, que puxam para baixo nossos resultados. Graça Foster vem fazendo um trabalho eficiente dentro da estatal, principalmente por substituir quadros políticos por pessoas técnicas, alinhadas a estratégia da Petrobras e não as estratégias pessoais que influenciaram os rumos da empresa por anos.
Briga-se agora para manter os preços de petróleo dentro de níveis aceitáveis e lucrativo para a Petrobras. Idéias de criação de gatilhos para reajustes dos preços da gasolina estão em discussão. Hoje, trava-se uma luta entre as idéias de Mantega e Graça Foster, sobre como deverão ser realizados os ajustes entre as partes. Acredito que o método apresentado pela presidente da Petrobras seja o mais correto, justo e transparente.
Os índices inflacionários passam pela chancela de Dilma, que trata a situação como honra e glória, ficando sempre amarrada a sua batuta a evolução dos preços. Não podemos deixar que tais índices corroam os ganhos de renda aferidos nos últimos anos sejam perdidos.
Romper esta fase de gastança desenfreada é fundamental para a manutenção dos índices inflacionários sob controle. O dinheiro público vem sendo usado de forma torpe, apenas em custeios da máquina pública.
A perda de credibilidade fiscal permeia todo o processo decisório da política econômica, pois sobrecarrega outros agentes em prol de uma conjunção de resultados. Se por um lado o esforço fiscal atrapalha a conjuntura, o peso da mão monetária deverá ser acentuado para que tentemos reequilibrar o modelo.
Ou seja, o que está em jogo é algo muito maior do que as péssimas conseqüências fiscais, que deverão ser ajustadas ao longo do tempo. Os erros operacionais de agora será o castigo do próximo governo, e trarão consigo os estados brasileiros com altas contas de empréstimos acertados agora mas com desembolso no médio prazo.
Mais uma vez o intervencionismo de Dilma segue com rompantes desorganizados e desarticulados. Prova disso, é a guinada ostensiva do BNDES para projetos de infraestrutura, que para inflar as estatísticas, deverá acatar propostas sem embasamentos técnicos suficientes para mobilizar qualitativamente a economia. Falta visão de longo prazo, e mais uma vez, o desgoverno momentâneo trará consequências severas para os próximos governantes.
Se Dilma for reeleita, será a colheita do descontrole dos gastos. Para todos, os ajustes serão severos, impopulares e desgastantes. Infelizmente, a continuar neste caminho despreocupado com as metas fiscais, perderemos bases importantes de sustentação de nossa política macroeconômica.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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