Austeridade a serviço do fascismo, ou vice-versa
"Os escritos de Clara E. Mattei são oportunos"
É seminal o livro “A Ordem do Capital”, da economista e professora Clara E. Mattei, da New School for Social Research. A partir da análise histórica dos fatos sociais, políticos e econômicos ocorridos no Reino Unido e na Itália depois da Primeira Guerra Mundial, ela explica como a austeridade tornou-se a principal bandeira daqueles que lucram com a desigualdade, os quais nunca hesitaram em patrocinar o fascismo para manter o status quo.
A obra de Mattei possui impressionante identificação com o Brasil de hoje e de sempre, em que a – vamos lá – Faria Lima e seus serviçais na imprensa tentam fazer pespegar no governo a imagem de perdulário, semeando uma sensação de caos econômico. Absolutamente falso, pois o verdadeiro caos foi herdado e a coisa agora entra nos trilhos. O Governo Lula, com Fernando Haddad à testa da Fazenda, tem buscado o crescimento econômico e a melhora de vida da população antes de tudo, ao passo que se esforça para que dinheiros não escoem pelo ralo.
Faz-se de “gastar” um palavrão e esperneia-se quando o governo procura vedar os reais ralos de dinheiro público. O Congresso tem sido exemplar na tarefa de preservar privilégios setoriais. Os fascistas, exímios produtores de fake news, agora podem servir-se das manchetes do Estadão, ouriçando-se, prontos para um novo bote sobre a democracia. Em punho, a bandeira da austeridade.
Por isso os escritos de Clara E. Mattei são oportunos. Como é este trecho, que parece indignar-se com este Brasil da Faria Lima, de Armínio Fraga e de Eurípedes Alcântara:
“Ao contrário do que os defensores da austeridade querem nos fazer pensar, o sistema socioeconômico em que vivemos não é inevitável nem deve ser relutantemente aceito como o único caminho a seguir. A austeridade é um projeto político decorrente da necessidade de preservar as relações de dominação das classes capitalistas. É resultado da ação coletiva para excluir quaisquer alternativas ao capitalismo. Portanto, pode ser subvertida por meio de uma ação contrária também coletiva. O estudo da lógica e do propósito da austeridade é um primeiro passo nessa direção.”
A turma da austeridade, claro está, é efusivamente austera com seu próprio dinheiro quando se trata de pagar imposto: paga pouco ou nada e acha muito. A crítica é que o governo “gastador” estaria tentando equilibrar suas contas pelo meio exclusivo do aumento de receita. Trata-se do suprassumo do cinismo. Mas, como vira-latas rodrigueanos, seguimos copiando os irmãos americanos. Nas terras do Tio Sam, a razão é salva por Paul Krugman, que nos brinda com isto:
“Quanta diferença faz para a qualidade de vida de um bilionário se ele tiver que se contentar com um iate um pouco menor? No topo da pirâmide, a riqueza é em grande parte sobre status e autoimportância; como Tom Wolfe escreveu há muito tempo, é sobre ‘vê-los pular’. E quando os políticos não se curvam, quando não tratam os muito ricos com a deferência e admiração que consideram merecer, alguns deles ficam enfurecidos. Vimos isso quando muitos de Wall Street se voltaram contra o presidente Barack Obama —depois que ele os ajudou a se recuperar na crise financeira— porque se sentiram insultados por suas críticas ocasionais. Biden não é exatamente um guerreiro da luta de classes, mas não adora os super-ricos. E muitos deles estão se voltando para Trump por pura mesquinhez.”
Austeridade e fascismo seguem de mãos dadas. E fortes.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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