Coordenador da campanha de Moro é advogado da Petrobrás
"A Petrobrás perdeu com Lava Jato e o combustível ficou mais caro, mas advogados ligados a Moro estão firmes e se deram bem", escreve Joaquim de Carvalho
Por Joaquim de Carvalho
Sergio Moro voltou a usar a Petrobras numa manifestação no Twitter em que tenta polarizar com Lula.
"Canalha é quem roubou o povo brasileiro durante anos e quem usou nosso dinheiro pra financiar ditaduras. E quadrilha é o nome do grupo que fez isso, colocado por você, Lula, na Petrobras”, escreveu.
A empresa controlada pela União já foi o trampolim para a carreira política do ex-juiz, mas a relação dele com a empresa criada com o dinheiro do povo brasileiro pode ser para ele muito mais do que uma oportunidade de exposição midiática.
Direta ou indiretamente, ele se beneficia dos cofres da empresa. De acordo com o colunista Lauro Jardim, de O Globo, o coordenador da pré-campanha de Moro à presidência é o advogado Luís Felipe Cunha, de Curitiba.
"Coordenador da pré-candidatura, o advogado paranaense Luís Felipe Cunha é a pessoa mais próxima de Sergio Moro nesta campanha. É o homem de confiança número 1, 2 e 3 do ex-juiz”, informou o jornalista.
Cunha é também advogado da Petrobras, sobretudo em ações trabalhistas. Na segunda-feira (17/01), perguntei a ele quando foi contratado pela empresa.
Ontem, em resposta, ele me direcionou para a assessoria de comunicação do escritório, mas ainda não recebi a informação.
A pergunta é importante porque, com a Lava Jato, escritórios com relações de amizade com Moro ou a esposa, Rosângela, tiveram ganhos diretos ou indiretos com a Petrobras.
Em junho de 2019, Ronsângela Moro foi admitida como associada do Instituto de Advogados do Paraná, que tinha na época Cunha como vice-presidente.
Em dezembro de 2014, o escritório de René Ariel Dotti (ele já falecido, mas a banca em plena atuação) foi aceito por Moro como assistente de acusação da Petrobras, depois de assinar contrato com a empresa, ainda na gestão de Graça Foster.
Pelos termos do contrato, o escritório recebeu da Petrobras pelo menos R$ 14 milhões.
Outro advogado beneficiado pela ação da Lava Jato foi Marlus Arns, parceiro de Rosângela Moro em pelo um caso de administração de massa falida, conduzido pela família Simão, apontada como protagonista num caso que ficou conhecido no Paraná como Máfia das Falências.
Marlus conduziu diversos acordos de delação sob a jurisdição de Sergio Moro, entre os quais o do ex-diretor Renato Duque, e os dos ex-executivos da construtora Camargo Correa Dalton Avancini e Eduardo Leite.
Marlus Arns foi acusado pelo advogado Rodrigo Tacla Durán de participar de um operação de extorsão de dinheiro.
A conta do escritório Arns de Oliveira & Andreazza no Banco Paulista S/A recebeu uma transferência bancária de 612 mil dólares (cerca de R$ 3,5 milhões) em 14 de julho de 2016.
O dinheiro saiu de uma conta de Genebra, na Suíça, administrada por Tacla Durán.
Um mês e meio antes, nos dias 24 e 25 de maio, outro amigo de Sergio Moro, o advogado e lobista Carlos Zucoloto Júnior, trocou mensagens com Tacla Durán, em que este recebe a proposta de pagar 5 milhões de dólares em troca de benefícios em um acordo de delação premiada.
As mensagens foram apresentadas à CPI da JBS em novembro de 2017, depois de serem periciadas na Espanha.
Zucolotto foi sócio de Rosângela Moro em um escritório de advocacia.
“Paguei para não ser preso”, contou Tacla Durán a Jamil Chade, do UOL.
Sergio Moro foi beneficiado por outro escritório de advocacia contratado pela Petrobras, o de Nelson Wilians, que nasceu em Cianorte, cidade vizinha de Maringá, terra do ex-juiz.
Wilians patrocinou palestra que Moro realizou em Nova York, em 2017, quando ainda era juiz e responsável pela Lava Jato.
A ligação de Moro com advogados que se beneficiaram da Lava Jato extrapola as fronteiras brasileiras.
O advogado Adam Kauffman, de Nova York, se apresenta como especialista em casos da Lava Jato/Petrobras.
Kauffman tem uma relação antiga com Sergio Moro. Ele era promotor em Nova York quando o então juiz conduzia os processos do caso Banestado.
Em 2007, o criminalista Miguel Reale Júnior denunciou Moro aos tribunais superiores no Brasil por dar consultoria informal a Kauffman num caso em que este foi acusado de violar as leis brasileiras para citar um doleiro que era processado em Curitiba e também em Nova York.
Juízes não podem dar consultoria às partes em processo sob sua jurisdição.
Moro respondeu a uma ação por exceção de suspeição, mas conseguiu se safar com argumento de que Kauffman era parte em Nova York e não no Brasil, ainda que isso prejudicasse o réu no processo conduzido por ele em Curitiba.
Depois de atuar por 20 anos na promotoria em Nova York, Kauffman cruzou a porta giratória e foi ganhar dinheiro na banca privada, exatamente como Moro faria alguns anos depois, ao ser contratado pela Alvarez & Marsal.
Um dos clientes de Kauffman envolvidos na Lava Jato seria o lobista Júlio Camargo, que depois de ser preso no Brasil colaborou com o Departamento de Justiça dos EUA em duas ações contra a Petrobras.
Essas ações foram extintas depois que a empresa brasileira, no governo de Michel Temer, concordou em pagar 3,85 bilhões de dólares (cerca de R$ 22 bilhões), que beneficiaram acionistas estrangeiros, o governo dos EUA e beneficiariam a turma da Lava Jato em Curitiba, se o caso não tivesse sido denunciado no Brasil e levado o STF a obrigar a entrega do dinheiro à União.
Outros beneficiários foram as bancas de advogados que representaram os acionistas dos EUA. Kauffman seria um deles?
Com a Lava Jato, a Petrobras perdeu, e o combustível ficou muito mais caro, mas os advogados ligados Moro continuaram ganhando. Um deles é "o homem de confiança número 1, 2 e 3 do ex-juiz”.
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As perguntas ainda não respondidas pelo advogado Luís Felipe Cunha:
1) Qual o papel que o senhor tem na pré-campanha do ex-juiz Sergio Moro à presidência?
2) O sr. apoia a candidatura dele a presidente?
3) Que relação tem o seu apoio à campanha, como coordenador ou não, com a atuação sua como advogado da Petrobras?
4) Desde quando o senhor atua em processos da Petrobras?
5) Essa atuação na pré-campanha, como coordenador ou não, poderia caracterizar como uma situação de conflito de interesse, já que vc advoga ou advogou para a Petrobras?
6) Caso o senhor não tenha nenhuma relação com a pré-campanha do ex-juiz Sergio Moro, pode-se considerar que o colunista Lauro Jardim, de O Globo, mentiu? Por que faria isso?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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