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    Zeca Dirceu

    Deputado federal pelo PT do Paraná

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    Bodas de Ouro

    "Aproximação extrapola os interesses econômicos e comerciais. Os dois países atuam pela instalação de uma ordem mundial multipolar", escreve Zeca Dirceu

    Bandeiras de Brasil e China (Foto: Agência Brasil)

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    Brasil e China restabeleceram relações diplomáticas em 15 de agosto de 1974. Desde então, o entrosamento sino-brasileiro evolui significativamente nas áreas econômica, política e de cooperação, com os interesses desenvolvimentistas dos dois países se entrelaçando cada vez mais profundamente. Construiu-se  uma longa história de sucesso,  em diferentes fases. O adensamento das relações avançou decisivamente nos dois primeiros mandatos do presidente Lula, de 2003 a 2010, e, agora, ganha renovado e multiplicador impulso.

    O notável reforço da parceria estratégica é resultado da visita do presidente Lula a Pequim, no ano passado. Há perspectiva de incremento das exportações brasileiras e de investimentos chineses em projetos de infraestrutura no Brasil, inseridos em ampliado e diversificado novo quadro de cooperação.

    Os números, hoje, são superlativos. Em 1980, os negócios movimentavam apenas 316  milhões de dólares.  Em 2023, o comércio bilateral atingiu o patamar histórico de 157,5 bilhões de dólares, com potencial de crescer ainda mais. As exportações para a China chegaram a 104,3 bilhões de dólares, valor cerca de 3 vezes superior às vendas do Brasil para os Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial. O comércio Brasil/ China cresceu 22 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.

    Segunda potência econômica do planeta, a China é o principal fornecedor do mercado brasileiro e o maior investidor asiático no País. Foi árduo o processo para consolidar a parceria estratégica. Em 1971, a República Popular da China conquistou na Organização das Nações Unidas o reconhecimento de representante legítima do povo chinês e assumiu sua vaga como membro permanente no Conselho de Segurança. O cenário geopolítico mundial mudou profundamente.

    Em 1974, no governo do general Ernesto Geisel, o chanceler Antônio Francisco Azeredo da Silveira percebeu a importância que a China teria no cenário mundial, exercendo um protagonismo político-econômico também almejado pelo Brasil.  Ele abriu caminho para o reatamento das relações com Pequim. Em matéria política, os dois países tinham e têm posições convergentes na agenda internacional, inclusive sobre o tema crucial da multipolaridade. A criação dos BRICS, junto com outros emergentes do que hoje se chama Sul Global, é, talvez, o resultado mais notável no âmbito de um relacionamento político e diplomático ao longo de cinco décadas.

    Mas foi na década de 1980 que Brasil começou a descobrir a China do ponto de vista econômico e comercial. O primeiro passo foi em 1981, quando o Itamaraty organizou missão comercial, com empresários brasileiros, aos  então chamados “Tigres Asiáticos”. A ativação do relacionamento com a China viria em seguida, gradualmente.

    Em 1982, o general João Batista Figueiredo, então presidente do Brasil, viajou a Pequim. Seis anos mais tarde, foi a vez de José Sarney, que iniciou, de fato, um salto nas relações bilaterais. Estabeleceu-se, então, uma parceria única no campo tecnológico: o projeto CBERS (sigla para China–Brazil Earth Resources Satellite – satélite de sensoriamento remoto).  Na época, a China se abria para o mundo, com seu programa de quatro modernizações: agricultura, indústria, defesa, ciência e tecnologia, sob comando e inspiração do então líder Deng Xiaoping .

    Essa abertura ao exterior beneficiou notadamente os EUA e os demais países ocidentais.  Empresários brasileiros resolveram recuperar o tempo perdido. Avançamos significativamente, mas o Brasil tornou-se basicamente vendedor de produtos primários e comprador de itens chineses de alto valor agregado. É possível, contudo, mudar o cenário.

    No ano passado, em visita a Pequim, com um grupo parlamentar brasileiro, pude abordar as potencialidades das exportações do Brasil com diferentes autoridades, inclusive o presidente Xi Jinping.  Com Lula, retomou-se o diálogo com Pequim depois de quatro anos de omissões e desprezo no trato àquele país por parte do governo militarista passado.

    Lula e Xi Jinping assinaram mais de 15 acordos bilaterais – aos quais se somam os acertados entre empresas dos dois países – principalmente nas áreas de desenvolvimento de tecnologia, intercâmbio de conteúdos de comunicação e ampliação das relações comerciais.

    A aproximação Brasil-China extrapola os interesses econômicos e comerciais. Os dois países atuam pela instalação de uma ordem mundial multipolar, multilateral, simétrica e mais justa. Convergem ao considerarem que o advento dessa ordem internacional é o caminho para solucionar os graves problemas que afetam o planeta, tais como o aquecimento global, a fome, a degradação ambiental, a pobreza, as desigualdades, as guerras e o enfraquecimento das instituições multilaterais sob a égide da ONU. As relações bilaterais, hoje, já alcançam um inédito padrão estratégico e abrangente.

    Tal como o Brasil, a China, ademais, beneficia-se de não haver colonizado país algum. Não exibe, portanto, antecedentes de exploração de parceiros em desenvolvimento. Pelo contrário, atua pela instituição de uma nova ordem sem as mazelas do neocolonialismo, assentada em cooperação. É nesse cenário que os dois países atuam, com base em seus interesses mútuos, para reforçar o relacionamento já exponencial que mantêm nas áreas econômica e comercial.

    Infelizmente, a despeito de monumentais cifras econômicas e comerciais, das parcerias e da plena sintonia em torno de uma pauta global, baseada na paz, entendimento e cooperação entre os povos, persistem críticas sem fundamento de setores oligárquicos e reacionários à aproximação com a China. A realidade rebate, porém, essa demonização infundada: os números confirmam cabalmente a importância econômico-comercial da China para os interesses brasileiros.

    Podemos avançar ainda mais nessa parceria exemplar. E, assim, podemos e devemos celebrar os 50 anos do reatamento de relações diplomáticas sino-brasileiras, sobre bases sólidas de amizade e aproximação econômica e cultural. E com um trabalho político conjunto, dentro da diversidade de posições, pela reforma tão urgente, e tantas vezes postergada, do sistema internacional. Viva a calorosa e profícua parceria Brasil-China!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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