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    Marcia Carmo

    Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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    Bolívia: Tanques do Exército contra o Palácio presidencial

    O que está acontecendo?

    Membros das forças armadas da Bolívia se reúnem ao lado de um veículo militar enquanto o presidente Luis Arce denuncia a "mobilização irregular” de algumas unidades do exército do país em La Paz, Bolívia, em 26 de junho de 2024. (Foto: REUTERS/Claudia Morales)

    Nesta quarta-feira, o presidente da Bolívia, Luis Arce, denunciou um golpe militar no país. O histórico Palácio Presidencial Queimado, em La Paz, foi rodeado, na tarde desta quarta-feira, por centenas de militares com rostos cobertos e fortemente armados. Ao mesmo tempo, tanques do Exército ocuparam a Praça Murillo, epicentro do poder no país, e as ruas estreitas de acesso à sede presidencial. “Denunciamos mobilizações irregulares de alguns setores do Exército boliviano. A democracia deve ser respeitada”, escreveu Arce em suas redes sociais. Logo depois, rodeado por seus ministros, Arce disse claramente que se tratava de um golpe.

    Há muitos anos não víamos, na América do Sul, imagens como as desta quarta-feira que ocorrem no país andino. O ex-presidente Evo Morales também escreveu na rede X (ex-Twitter) repudiando o atentado contra a democracia boliviana. “Convocamos uma manifestação nacional para defender a democracia diante do golpe de Estado liderado pelo general Zuñiga. Declaramos greve geral por tempo indeterminado”, escreveu Evo.

    A situação é grave. O ex-comandante do Exército, o general Juan José Zúñiga, que lidera a intentona militar, foi expulso do cargo, na véspera, por ameaças contra Evo. “Legalmente, Evo não pode mais ser presidente. Ele já foi presidente várias vezes e desrespeita nossa constituição. Nós (militares) somos um braço armado da pátria e vamos defender os interesses da pátria”, disse Zúñiga, horas antes da ocupação militar no Palácio Presidencial. Na porta do Palácio Queimado (que tem esse nome porque foi literalmente queimado no passado), militares fazem declarações dizendo que não desistirão do ato de agressão contra as instituições. “Estamos aqui em nome do povo. Evo ficou quanto tempo na Presidência? De que serve? Vamos destituir a democracia. Vamos reestruturar a democracia”, disse Zúñiga, com sua farda. Ele disse que os ‘presos políticos’ devem ser liberados, em referência a opositores de Arce e de Evo, como Luis Camacho e Janine Añez.

    A Bolívia tem uma longa história de intervenções militares. Os golpes são um fantasma permanente no país da América do Sul. Em 2019, os militares tiveram papel crucial para que Evo não continuasse na presidência, após a eleição. O ex-presidente apoiou, então, seu ministro da Economia, Luis Arce, responsável pelo plano de estabilidade da economia e de inclusão social no país, que inclui benefícios para os mais idosos, estudantes e crianças.

    Nos últimos tempos, Evo e Arce deixaram de se falar e passaram a travar uma disputa política pública a menos de um ano da eleição presidencial de 2025. Neste contexto, a economia passou a ser preocupante e o gás, principal fonte de recursos do Estado, encolheu. Nos últimos minutos, presidentes de vários países condenaram, enfaticamente, a ação dos militares bolivianos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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