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    Umberto Martins

    jornalista e escritor

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    Bolsas abrem a semana em pânico no Brasil e no mundo

    O pânico nos mercados de capitais reflete problemas mais graves radicados na chamada economia real, onde se desenrola o processo de produção

    Baixa do índice CSI300, que aglutina as 300 principais empresas cotadas nas duas Bolsas, forçou a suspensão das cotações, na primeira vez em que foi aplicada a nova norma das autoridades de regulamentação; o objetivo da suspensão é conter a alta volatilidade e evitar a repetição do 'crack' da Bolsa do ano passado; a moeda chinesa caiu ao nível mais baixo frente ao dólar desde 2011 (Foto: Reuters)

    Os mercados de capitais foram dominados pelo pânico nesta segunda-feira (9). As bolsas fecharam em queda na Ásia, desabaram na Europa e caíram 10% em São Paulo pela manhã, o que ensejou uma interrupção temporária dos negócios. O dólar comercial subiu a R$ 4,74 por volta das 14 horas, quando este comentário estava sendo concluído.

    Os preços do petróleo derreteram, recuando cerca de 20%, o que configura a maior queda desde 1991, atribuída à desaceleração da demanda internacional e às divergências entre Rússia e Arábia Saudita sobre a oferta da commoditie. Em consequência, o valor das ações da Petrobras caiam 22%, provocando uma redução estimada em R$ 67 bilhões em seu valor de mercado.

    O clima de nervosismo e pessimismo inspirou novas revisões negativas nas projeções do crescimento do PIB do Brasil para este ano, que pela primeira vez foi estimado abaixo dos 2%. De acordo com o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda, o mercado financeiro baixou a previsão de crescimento para a economia brasileira em 2020, de 2,17% para 1,99%. Foi a quarta queda consecutiva do indicador e podem apostar que outras virão.    

    Economia doente

    O pânico nos mercados de capitais reflete problemas mais graves radicados na chamada economia real, onde se desenrola o processo de produção. É sintoma de uma economia mundial doente. A doença não é causada apenas pela difusão do coronavírus, que a China parece a caminho de controlar.

    A economia mundial, que não superou a crise de 2008, já andava de lado e vinha apresentando sinais de desaceleração antes do coronavírus, consumida por suas inúmeras contradições, com destaque para o avanço do protecionismo e a guerra comercial deflagrada pelo governo Trump contra a China.

    Crescem as apostas de que a economia dos EUA deve entrar em recessão ainda no curso deste ano, depois de um período relativamente longo de recuperação (iniciada em 2009) e crescimento, estimulado pela política de substituição de importações e defesa da indústria local. A crise cíclica, que a China desconhece, é uma característica básica do modo de produção capitalista e até hoje nunca falhou nos EUA.

    Impactos negativos

    No Brasil, por culpa de políticas governamentais desastrosas, a economia está atolada na estagnação desde o golpe de Estado de 2016. O Pibinho de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, em contraste com as promessas de campanha, fechou 2019 em 1,1% e todas as previsões, em baixa, indicam que ele permanecerá em marcha lenta em 2020.

    São visíveis os impactos negativos produzidos pelo cenário de crise internacional sobre a economia brasileira. As quedas sucessivas nas bolsas são acompanhadas de uma fuga bilionária de capitais. Estimada em US$ 44,8 bilhões até o dia 4 de março, a sangria deve ter aumentado expressivamente com as perdas verificadas nos últimos dias úteis da semana passada e nesta segunda-feira.   

    O dólar, por consequência, bate todos os recordes e subiu mais de 2% frente ao real (até 14 horas desta segunda) apesar do anúncio oficial feito pelo Banco Central de que venderia US$ 3 bilhões, recursos subtraídos das reservas, para valorizar a moeda brasileira.

    Impuseram ao povo trabalhador o peixe podre da reforma da Previdência com a promessa de que atrairia dezenas de bilhões em investimentos estrangeiros. Em vez disto estamos diante de uma brutal fuga de capitais. Mas o ministro da Economia do governo Bolsonaro, embriagado pela ideologia neoliberal e fiel aos interesses do capital financeiro, anuncia que o remédio é mais reformas na direção do Estado mínimo. Não será preciso bola de cristal para prever o agravamento da crise e dos conflitos sociais.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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