Bolsonarismo teve um momento tigre de papel
Ao exibir sua cumplicidade com uma iniciativa fascista, bancada bolsonarista fica em posição de extrema fraqueza, dentro e fora da Câmara, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite
Na Câmara de Deputados e no Supremo, a votação que confirmou a prisão de Daniel Silveira contém um sinal importante. Mostra o repúdio de nossas instituições a uma provocação tipicamente fascista.
No STF, o saldo foi 11 a 0. Na Câmara, o placar de 364 a favor e 130 contra a prisão de Daniel Silveira mostra uma matemática eloquente. Para cada voto a favor, a extrema direita recebeu 2,8 votos contrários.
Parlamentares que exibem patente das Forças Armadas ou de Polícias Militares possuem 9 votos no plenário. São 2 generais, 3 coronéis, quatro capitães e um subtenente. Todos votaram com o provocador -- um índice de fidelidade já esperado, mas significativo.
Na soma geral, o governo ficou com 26% dos votos e seus adversários somaram 74%. O saldo real talvez pudesse ser um pouco diferente, já que pelo menos uma bolsonarista assumida, a relatora Magda Mofatto, encaminhou a favor da permanência de Daniel Silveira na prisão.
Mesmo assim, viu-se a extrema direita em posição de imensa fraqueza, quando se recorda que, se tivesse que impedir um hipotético pedido de impeachment na noite de sexta-feira, a bancada governista precisaria ter um mínimo de 165 votos -- trinta e cinco a mais do que o obtido.
O saldo final mostrou uma lição clara. Ao se acumpliciar com uma escancarada tentativa de assalto à democracia, o bolsonarismo isolou-se, dentro e especialmente fora do Congresso, enfrentando uma noite de tigre de papel.
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