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    Marcos Coimbra

    Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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    Bolsonaro, a culpa é sua!

    "É mais difícil apostar na memória curta do distinto público e na capacidade de moldá-lo com meia dúzia de tiradas de efeito. As mutretas que funcionaram um dia não servem mais", diz Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, em referência a Jair Bolsonaro

    (Foto: Reuters)

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    Picareta é sempre picareta e Bolsonaro não foge à regra. Faz tempo que tenta se esquivar das cobranças por suas palavras e atos, mas, uma hora, a conta chega. E chega pesada. 

    Talvez o capitão imagine que seus tempos de obscuro deputado não acabaram e que pode fazer como sempre fez: uma bravata de cá, uma mentira de lá, uma irresponsabilidade por dia, a preguiça de quem acha que só deve satisfações aos outros uma vez a cada quatro anos, na hora de renovar o mandato. Coisa facilitada por nunca ter saído dos currais eleitorais da Vila Militar, os clubes de aposentados das três armas, as viúvas da ditadura e os redutos controlados pelas milícias no Rio de Janeiro. 

    Agora, no entanto, como ocupante do Palácio do Planalto, é mais difícil apostar na memória curta do distinto público e na capacidade de moldá-lo com meia dúzia de tiradas de efeito. As mutretas que funcionaram um dia não servem mais. 

    Desde quando começou a pandemia, Bolsonaro cismou que ia conseguir ser mais esperto que todo mundo. Em primeiro lugar, que ela faria com que as pessoas se esquecessem que o Brasil estava em péssima situação, sem ser capaz de lidar com uma crise econômica que sua própria campanha havia pintado como de fácil solução. Dizia que bastava que a “confiança dos investidores” fosse recuperada (a golpes de desmonte da Constituição de 1988) para que a economia brasileira levantasse voo, algo que nunca aconteceu. 

    Preenchido por nulidades, seu governo claudicava em muitas áreas e andava para trás em outras. A luta contra a corrupção e a mão firme contra a falta de segurança pública, prometidas e aguardadas pela população, tampouco vieram, sepultadas por laranjais, rachadinhas, associações com o crime organizado e o bacharelismo de um juiz incompetente.

    O capitão enxergou uma saída na pandemia. Que ela vinha a calhar, que desviaria a atenção popular de seu fracasso administrativo e funcionaria como motivo para pedir mais tempo, desculpando-lhe a inépcia. 

    Mas o lance verdadeiramente ousado era maior, uma jogada para fazer do limão da pandemia uma limonada que beberia com a galera. Do alto de sua ignorância e prepotência, apostar que a medicina e a ciência estavam erradas e que o capitão era o único certo (liderando, naturalmente, essa turma de militares de última qualidade que se agarra a ele). Que a pandemia seria branda no Brasil. 

    Bolsonaro nunca pensou no presente ou no futuro imediato da doença. Para ele, só interessava o dia da vitória, que supunha logo viria e no qual achava que se tornaria um milionário da politica. Imaginou um duplo triunfo: sair da pior crise sanitária e econômica dos cem últimos anos como aquele que soube responder ao vírus e como “homem de visão”, que não deixou que houvesse um “excesso de preocupações” que colocasse em perigo a economia. Era uma gripezinha que não abalaria a rocha econômica que estava em construção. 

    A mais recente pesquisa Vox Populi mostra que todos esses planos deram errado. Aos três meses do início da epidemia no Brasil, a imagem do capitão é muito ruim, seja na resposta à doença, seja na gestão da economia. A aposta de ganhar nas duas frentes deu no oposto. 

    De abril para cá, a proporção de pessoas que avaliam positivamente seu desempenho no enfrentamento da epidemia caiu de 34% para 24%, enquanto a opinião de que é “ruim” ou “péssima” chegou a 49%. Ou seja, hoje, a reprovação é o dobro da aprovação.  

    Três quartos dos entrevistados acreditam que a situação da epidemia no Brasil estaria melhor se Bolsonaro não tivesse “incentivado as pessoas a saírem de casa”. Quase a metade, 48%, atribui a Bolsonaro a “única responsabilidade” ou “a maior parte da responsabilidade” pelo fato de o Brasil ter o segundo maior número de óbitos do mundo. 

    É um pouco maior a proporção das pessoas, 52%, que acham que o governo federal é o único ou o maior responsável por “milhares de pequenas empresas haverem quebrado e milhões ficarem desempregados”. É ainda maior, 58%, a taxa dos que entendem que o governo “tem obrigação de socorrer pequenas empresas na crise, mas não quer ou não tem interesse”. 

    A propósito de coronavírus e economia, Bolsonaro só falou bobagens para a grande maioria da população. Pequenas minorias acreditam nele: 16% acham que a situação atual da epidemia “é menos grave do imaginavam no princípio”, a mesma taxa dos que acham que a “economia vai se recuperar assim que a pandemia passar”. 

    O otimismo do capitão é motivo de chacota para quase todo o País e o resto do mundo. Achava que era muito esperto e que escaparia das responsabilidades, mas, nem bem se passaram três meses e elas já o alcançaram. Aos olhos da maioria, é dele a responsabilidade pelo que estamos passando e vamos passar. 

    Salvo para o fundo de tacho que ainda o apoia.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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