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    Lejeune Mirhan

    Sociólogo, Professor (aposentado), Escritor e Analista Internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil

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    Bolsonaro afronta árabes e judeus no Brasil

    "A questão está colocada: a comunidade árabe como um todo não deve silenciar diante da maior afronta a esta", escreve o sociólogo Lejeune Mirhan e o jornalista Nathaniel Braia

    (Foto: Beatrix von Storch/Instagram)

    Por Lejeune Mirhan e Nathaniel Braia

    A Juventude Sanaud(Juventude Palestina no Brasil) condenou a recepção festiva e “sorridente” por parte do presidente Jair Bolsonaro a Beatrix Von Storch, “expoente do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, um partido xenófobo, racista, antissemita e islamofóbico”.   

    Na sua declaração de 1º de agosto, a juventude palestina (filiada à Federação Árabe Palestina do Brasil – Fepal) destaca que Beatrix, uma das lideranças do partido Alternative für Deutschland (AfD, Alternativa para a Alemanha) mantém a ideologia de seu avô, um dos líderes nazistas que, como ministro das Finanças da Alemanha no período hitlerista “liderou o confisco de bens dos judeus enviados para os campos de concentração e extermínio nazistas”.

    Afronta e genocídio

    A juventude palestina destaca que este encontro acontece em um momento em que há um genocídio em curso que já ceifou em meio à pandemia da Covid mais de 550 mil brasileiros. Acrescentamos que a declaração ocorre também diante da maior afronta que a comunidade árabe brasileira já sofreu ao longo de toda a sua história de imigração e formação em nosso país.  

    A deputada Beatrix Von Storch já declarou, entre outros absurdos, que a polícia alemã deveria se dirigir à fronteira do seu país e atirar nos refugiados sírios que tentam entrar no território nacional alemão sejam eles homens, mulheres ou crianças. Essa barbárie seria a forma de defender a “condição cristã da Alemanha” contra as “hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores”.  

    Islamismo como inimigo

    Em um pronunciamento ao Parlamento Europeu, a deputada sublinhou que “o terror islâmico e o islamismo são inimigos da Alemanha, Israel e Europa. A influência do lobby do Islã na Europa deve acabar”.

    Vale ressaltar que o AfD busca reabilitar termos como Volkish (para designar o povo alemão de suposta supremacia ariana). Um dos seus principais dirigentes Alexander Gauland, copresidente do AfD, já foi criticado por declarar que os alemães deveriam ter "orgulho" de seus soldados em ambas as guerras mundiais.   

    A vigilância sobre o AfD foi determinada após agressões a membros de coletividades de imigrantes com base em motivação racial como o massacre em Hanau que deixou 11 mortos e a uma sinagoga na cidade alemã de Halle. A chanceler Angela Merkel alertou que o racismo “envenena a sociedade alemã”.

    Muitos líderes políticos alemães se pronunciaram após o massacre. Entre eles, a dirigente da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer, que se declarou “chocada e triste” e que a “violência dirigida pelo extremismo de ultradireita não deve ser deixado à solta, devemos nos unir contra ele”.

    Conexões com o nazismo  

    Em meio aos encontros não apenas com o presidente, mas ainda com o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Eduardo Bolsonaro e com a presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Bia Kicis, a deputada alemã declarou que “para enfrentar com êxito a esquerda, os conservadores [leia-se nazistas] também precisam se conectar melhor internacionalmente”.  

    Recentemente a pesquisadora da Unicamp sobre o recrudescimento das manifestações neonazistas, Adriana Dias, acaba de publicar carta de apreço e louvor por parte de Bolsonaro aos sites neonazistas no Brasil que estão em expansão alimentados por esta ideologia que hoje infecta o planalto.  

    A questão está colocada: a comunidade árabe como um todo não deve silenciar diante da maior afronta a esta. Ela vem logo depois de outra afronta, a frustrada tentativa de transferência da embaixada do Brasil para a Jerusalém cujo setor árabe palestino está sob ocupação, forte repressão, profanação da mesquita Al Aqsa e contínuas ameaças de confisco de residências, como na assediada Sheikh Jarrah. A transferência só não ocorreu devido à mobilização da comunidade árabe brasileira e o repúdio dos países árabes.  

    Se podemos considerar que este encontro teve alguma virtude, foi a de escancarar o caráter e a identidade nazista, antissemita e islamofóbica do bolsonarismo, razões estas mais do que suficientes para que árabes e judeus se ponham em alerta e se mobilizem junto com toda a sociedade brasileira contra uma nefasta corrente que merece repúdio declarado em sua insana cruzada contra as instituições, à Constituição de 1988, ao sistema eleitoral, enfim, à democracia e, por outro lado, que a cada dia mais revela o seu apreço pela tortura, pela morte e pelos atos mais odientos da  ditadura, a exemplo dos atos pelo retorno do malsinado AI5.

    Lejeune Mirhan é sociólogo, professor universitário (aposentado), escritor e analista internacional;

    Nathaniel Braia é jornalista e editor internacional do Jornal Hora do Povo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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