TV 247 logo
    Fábio Felix avatar

    Fábio Felix

    Deputado Distrital e Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa

    5 artigos

    HOME > blog

    Bolsonaro, cloroquina e a pseudociência como estratégia política

    O momento agora é de unidade nacional para salvar vidas, sobretudo da parcela da população mais vulnerável. Isso significa somar esforços para conter o avanço acelerado do coronavírus, combinado com medidas socioeconômicas de socorro aos desempregados e trabalhadores informais

    (Foto: Carolina Antunes - PR)

    Temos visto nas últimas semanas que Bolsonaro e Mandetta tem discordado frequentemente sobre a eficácia de um medicamento. Infelizmente ainda não existe uma cura para essa doença tão grave, mas algumas pesquisas parecem promissoras.

    Poderíamos estar falando sobre o coronavírus, mas é sobre a fosfoetanolamina. Em 2016, na Câmara dos Deputados, após 28 anos desde sua primeira eleição a um cargo público, Bolsonaro aprovou seu segundo (e último) projeto de lei, liberando o uso da substância no tratamento do câncer. Na época, o então deputado federal Mandetta e outros parlamentares denunciaram que a suposta “pílula do câncer” nunca havia tido ação cientificamente comprovada. Um mês depois de sancionada a lei foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal.

    A história se repete, e dessa vez como farsa e tragédia. 

    Desde o primeiro caso registrado de covid-19 no Brasil as respostas de Bolsonaro têm sido contraditórias. Se publicamente ele já disse até que a doença era uma fantasia, já faz algumas semanas que ele encontrou a “cura” para o que nem acreditava que existia. A pílula mágica, dessa vez, é a cloroquina.

    Em sua “saidinha” no último domingo (29/03) – desrespeitando as orientações das autoridades sanitárias – um vídeo chamou a atenção. Em registro feito por populares, Bolsonaro aparece conversando em uma farmácia no Sudoeste (DF). Logo ele pergunta: como tá a procura da cloroquina aí? E a atendente responde que está em falta.

    Poucos dias após ter feito declarações que provocaram uma corrida às farmácias, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que o Exército produziria cloroquina em seus laboratórios. Enquanto isso, o medicamento está em falta para as pessoas que realmente dependem dele para o tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite. Chegamos a receber denúncias sobre a falta do fármaco na Comissão de Direitos Humanos.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS), através do diretor-executivo Mike Ryan, já declarou que “não há tratamento efetivo ou drogas comprovadas contra a Covid-19”. Ainda que, daqui a alguns meses, seja comprovada alguma eficácia da cloroquina, a ampla divulgação de uma falsa cura como tem sido feita por Bolsonaro só gera prejuízos para a população. Nos Estados Unidos já há pessoas morrendo pela automedicação com cloroquina. Os alertas sobre efeitos colaterais dessa droga são graves, como síndrome hemorrágica e danos no fígado e rins.

    Não há solução mágica para a crise que passa o Brasil e o mundo. Vacinas podem demorar anos para chegar ao mercado. Como tem alertado o cientista Atila Iamarino, a melhor medida contra a pandemia neste momento é o isolamento social e suspensão de atividades. Não seguir essas orientações é o mesmo que condenar os brasileiros à morte.

    Bolsonaro nunca teve compromisso com a ciência e com a verdade. Não é a primeira vez que ele usa a pseudociência para se promover, e não será a última.

    O momento agora é de unidade nacional para salvar vidas, sobretudo da parcela da população mais vulnerável. Isso significa somar esforços para conter o avanço acelerado do coronavírus, combinado com medidas socioeconômicas de socorro aos desempregados e trabalhadores informais, bem como medidas econômicas de suporte a micro e pequenas empresas para a garantia dos empregos formais. Mas também se faz necessário articularmos um movimento cada vez mais amplo para impedir Bolsonaro de cometer seus crimes contra a humanidade.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: