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    Miguel Paiva

    Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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    Bolsonaro e a Democracia não se conhecem

    "A hora é essa. Temos que exigir, seja nas ruas , seja em Brasília, que a democracia se defenda através das suas ferramentas. A esquerda que concordou com a pizza generalizada depois da ditadura tem que rejeitar o pão jogado no chão agora a guisa de refeição", escreve o chargista Miguel Paiva

    (Foto: Miguel Paiva)

    Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia

    Que houve um golpe parlamentar que tirou Dilma Roussef da presidência todo mundo sabe, principalmente quem dele participou. O que eles que participaram não imaginavam, ou se imaginavam não acreditavam, é que uma pessoa totalmente desprovida de talento e inteligência assumisse o poder. Não acho que Bolsonaro seja um gênio do mal que está articulando a derrocada da democracia no Brasil. Não acredito, mesmo. Ele está tentando atingi-la assim, a esmo, meio à deriva nesse mar de incertezas que mergulhamos depois que foi eleito. Ele atira daqui, atira de lá e, tirando sua família e auxiliares próximos, ninguém leva mais fé. Quem ainda defende, é porque defende uma política neoliberal que eles acham que o Guedes é capaz de implantar. Mas isso não vai durar.

    Os militares, desacostumados do poder desde que convidamos todos para uma pizza de encerramento da ditadura, estavam quietos em seus quartéis. Conviveram de modo civilizado com os governos de esquerda e foram chamados, alguns felizes e outros à revelia para fazer parte desta comédia grotesca.

    Claro que vocês dirão que alguns acreditam. Pode até ser, mas acreditam sem terem se preparado antes. Estão ali um pouco querendo acreditar no que inventam de notícias e um pouco achando que têm um dever a cumprir em relação à pátria amada.

    Bolsonaro, de capitão medíocre que sempre foi, passando por deputado do baixo clero e da baixaria, acabou se elegendo e mandando em todos os seus generais superiores. 

    Agora eu pergunto: isso não incomoda certos setores estrelados da caserna? Claro que sim. Mesmo para um militar de carreira, com todos os vícios e ideologias que a farda impõe, deve ser constrangedor ter que dividir com o presidente certas situações. Ser de direita é uma coisa, discutível mas prevista no espectro da democracia. O que não é previsto nem aceitável é ser de extrema direita violento e destruidor desta mesma democracia que o tolera. Fica difícil. 

    Do mesmo jeito que qualquer manifestação simpática ao nazismo é proibida na Alemanha pela constituição, aqui no Brasil ignoramos atitudes que ameaçam a democracia e que pela constituição também são proibidas. Acabamos passando um pano em tudo aquilo que cria uma ideia contrária a noção meio cristã de conciliação e entendimento. A direita porém, não tem esse sentimento na hora em que ameaça a democracia. Nós também temos preferido sentar em volta de uma mesa e comer a tal pizza do que ter o trabalho de enfrentar o julgamento real dos fatos, a condenação dos culpados e a punição pelos crimes cometidos pelos ditadores. 

    Os argentinos colocaram na cadeia seus antigos algozes militares. A Argentina passou a conviver com a democracia tendo acertado contas com o passado. Mesmo o último governo neoliberal de Macri era de direita mas jamais cometeu os abusos e as insanidades do Bolsonaro. Meu cunhado peronista antes duvidava. Achava que era tudo farinha do mesmo saco. Hoje ele concorda comigo. Bolsonaro é muito pior e aqui no Brasil se não tomarmos uma atitude real , onde a justiça de fato tenha a palavra acabaremos vítimas da punição que queríamos para os inimigos da democracia. 

    A hora é essa. Temos que exigir, seja nas ruas , seja em Brasília, que a democracia se defenda através das suas ferramentas. A esquerda que concordou com a pizza generalizada depois da ditadura tem que rejeitar o pão jogado no chão agora a guisa de refeição. Tem que ir para rua e fazer aquilo que sempre soube fazer. Reivindicar, ser oposição de verdade. 

    O Congresso e o Judiciário têm que defender o seu ganha-pão para falar a linguagem que todo mundo entende e concorda. É a democracia que paga os salários dos parlamentares e dos juízes. Mentiras que já viraram verdades, como a dos políticos inúteis, dos artistas vagabundos, dos roqueiros drogados e dos esquerdistas terroristas precisam ser denunciadas pelo que ainda sobra da grande imprensa, essa também dependente direta da democracia. 

    Basta olhar em volta, minha gente. Ninguém mais deseja viver sem o que nos cerca. Nem os militares, acredito eu, querem entrar nessa roubada de fechar o congresso. Se esse está ruim elejam outro. Não há no mundo sistema melhor para se criticar livremente este mesmo sistema. O que existe hoje no Brasil, só existe porque vivemos ainda numa democracia, meio capenga, mas democracia. Só que existe um limite e esse limite é justamente quando a liberdade é usada para ameaçar a democracia e com ela a própria liberdade.

    Essa turma que assumiu o poder por uma conjuntura e por um eleitorado irresponsável e sem conhecimento precisa encerrar seu ciclo e voltar pra casa. Está na hora de retomarmos essa aventura deliciosa e cansativa que é viver num regime democrático e lutar pelo desenvolvimento social da população.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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