Bolsonaro e seus aliados enviam sinais
Três dias após seu depoimento à CPI do Genocídio, Pazuello acompanhou Bolsonaro na manifestação de motoqueiros no Rio de Janeiro. Segundo informações, esta manifestação contou com milicianos em sua organização e em sua segurança
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Genocídio entrou em sua terceira semana. Informações importantes já apontam para a responsabilidade do governo pelas medidas ineficazes utilizadas no combate à covid.
O general Eduardo Pazuello mentiu descaradamente em seu depoimento. Afirmou que apoiava o uso de máscara e o distanciamento social. Afirmou que o aplicativo TrateCov do Ministério da Saúde saiu do ar devido a um ataque de hackers. Este aplicativo recomendava o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e outros medicamentos aos pacientes com sintomas de covid.No depoimento à mesma CPI, a secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro declarou que o hacker é um conhecido jornalista brasileiro. De fato, ele não hackeou nada, posto que os dados aos quais teve acesso foram conseguidos a partir da utilização do próprio TrateCov. São dados aos quais todos poderiam ter acesso. O aplicativo foi retirado do ar porque recomendava o tratamento precoce com medicamentos ineficazes e devido à pressão da sociedade.
Três dias após seu depoimento à CPI do Genocídio, Pazuello acompanhou Bolsonaro na manifestação de motoqueiros no Rio de Janeiro. Segundo informações, esta manifestação contou com milicianos em sua organização e em sua segurança.
Bolsonaro passou toda a manifestação no Rio sem máscara e aglomerado com motoqueiros. Ao final subiu em um trio elétrico para discursar, falando as mesmas bobagens que vem repetindo, sob os olhos complacentes do Congresso Nacional e dos tribunais superiores. Criticou as medidas de distanciamento social, o uso de máscara e defendeu o tratamento precoce.
Pazuello subiu no trio elétrico. Em uma atitude francamente arrogante e desafiadora frente ao que havia declarado à CPI do Genocídio, ele apresentou-se sem máscara, participou de aglomeração e de um ato político, o que é proibido pelo regulamento militar.
Bolsonaro envia sinais nazifascistas claros para a sociedade atônita e seus apoiadores. Já bebeu leite em live. O leite é utilizado pelos supremacistas brancos para comunicarem-se entre si segundo a estratégia do “apito de cachorro” (dog whistle). Só os cachorros ouvem o apito. Só os supremacistas brancos entenderiam a mensagem. O leite é um símbolo utilizado pelos supremacistas para exaltar a superioridade dos brancos a partir da cor do alimento e de uma suposta, não comprovada cientificamente, dificuldade das pessoas não-brancas em digerir a lactose.
Outros símbolos associados aos movimentos de extrema direita já foram utilizados por Bolsonaro e seus apoiadores em manifestações e em mensagens difundidas em suas redes sociais.
A própria manifestação com motocicletas faz uma associação ao ditador fascista Benito Mussolini que gostava de organizar atos dos quais participavam muitos motoqueiros.
Bolsonaro procura sinalizar segurança e desdém pelas instituições brasileiras em seus atos, mesmo após a CPI do Genocídio reunir indícios contra ele.
Logo após o ato no Rio no último domingo embarcou para o Equador para participar da cerimônia de posse do presidente eleito, Guillermo Lasso. Ao contrário de suas andanças pelo Brasil, onde faz questão de mostrar quem manda e exibir seu desprezo pelo povo e pelas instituições brasileiras, Bolsonaro utilizou máscara enquanto permaneceu em solo equatoriano em respeito ao povo e às autoridades daquele país.
Ele sabe o que tem que ser feito para controlar a pandemia. Pazuello também sabe. Contudo, em seu isolamento político crescente, só lhe resta partir para o ataque e manter seus apoiadores motivados, prontos para qualquer coisa. No motocicletaço do último domingo, cartazes e faixas defendiam intervenção militar e quebra do regime democrático.
O alto comando do exército externou sua insatisfação com Pazuello, mas não com Bolsonaro, insatisfação que já vinha desde seu depoimento na CPI do Genocídio que desagradou algumas altas patentes. Contudo, o Ministro da Defesa, Braga Netto procurou minimizar as coisas. Alguns generais estão propondo uma punição branda para Pazuello, general da ativa, que não poderia ter participado de uma manifestação política. Estão propondo passá-lo para a reserva com data retroativa de 22 de maio, antes do motocicletaço, mantendo seus vencimentos integrais. Ele seria “punido” (ou premiado?) por ter manchado a imagem do exército ao mentir para a CPI. A punição prevista por participar de ato político engloba prisão e passagem para a reserva. Antecipando a punição para a sexta-feira os militares se poupam a delicada situação de terem que prender uma alta patente.
Quanto a Bolsonaro, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), se acovardou e nada fez, ao contrário do que fez o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que multou Bolsonaro por participar de atos contrários aos decretos estaduais que tratam de medidas de prevenção à pandemia.
O governador bolsonarista do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), também nada fez e ainda desperdiçou 550 mil reais com a segurança do evento que deveria ter sido proibido.
Por sua vez, as instituições, mais uma vez, se calaram. Os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF) assistiram a tudo calados e calados permaneceram. O ministro Luiz Edson Fachin esperneou de maneira fraca e pouco convincente, como sempre.
Bolsonaro gozará de blindagem institucional enquanto conseguir assegurar a margem de lucro do capital rentista e do agronegócio.
Dia 29 de maio a oposição está marcando manifestações em várias cidades contra Bolsonaro e a favor de seu impeachment. Os trabalhadores não aguentam mais seu governo impopular e genocida.
A batalha nas ruas irá começar. Esperemos que as ruas forcem as instituições a funcionarem e a cumprirem com seus deveres e obrigações constitucionais.
Fora Bolsonaro, Paulo Guedes e todos os milicos!
P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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