Bolsonaro e sua carreira construída a base de lamber botas
Jornalista William De Lucca resgata o histórico de Jair Bolsonaro de 'lamber botas', desde quando era deputado federal; "Depois de eleito, com o impulso de uma vida lambendo botas de viúvas da ditadura e de milicianos criminosos, Bolsonaro precisava ampliar seus horizontes. Para registrar sua subserviência à política externa dos EUA, o presidente tem feito de tudo para humilhar o Brasil internacionalmente", diz ele, criticando a nova posição de "satélite" de Donald Trump promovida pelo governo Bolsonaro
Se há algo que falta para o presidente Jair Bolsonaro é a altivez necessária para sentar-se na cadeira de presidente do mais importante país da América Latina e um dos mais importantes do mundo. Como presidente, Bolsonaro continua a se comportar como o personagem caricato do baixo clero da Câmara, com momentos semanas de exposição vexatória no CQC. Como sempre teve e sempre terá uma personalidade minúscula, ele viverá como sempre viveu: lambendo botas.
Nas primeiras eleições para deputado federal pelo Rio de Janeiro, o atual presidente lambia que sempre teve muito carinho: a dos militares. Saudoso da ditadura militar, Bolsonaro defendeu o regime que perseguiu, torturou e assassinou opositores até 1985. Seguindo ele, em entrevista nos anos 90, o grande erro dos militares no poder foi não ter assassinado 30 mil opositores, incluindo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), à época a frente do cargo.
Admirador do coronel Brilhante Ustra, um dos mais perversos torturadores do período, a quem homenageou durante a votação do pedido de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), Bolsonaro viveu como deputado do baixo clero defendendo o indefensável.
Um tempo depois, o presidente de extrema-direita resolveu mudar de bota. No lugar dos milicos, que sempre tiveram um lugar especial em sua memória gustativa, o então deputado federal passou a lamber botas de milicianos. Em pelo menos duas oportunidades em 2008, época em que os paramilitares já eram violentos, o deputado federal relativizou a atuação ou defendeu a legalização dos grupos.
"Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com "gatonet" e com venda de gás. Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de "gatonet", venda de gás ou transporte alternativo. Então, senhor presidente, não podemos generalizar", disse Bolsonaro, na tribuna da Câmara, em dezembro daquele ano.
Em março de 2008, em uma entrevista à BBC, ele disse que as milícias "oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas. E, talvez, no futuro, deveria legalizá-las".
Anos antes, em 2003, Bolsonaro disse que se as milícias não tinham espaço em outros estados, deveriam ir para o Rio de Janeiro, onde seriam bem vindas e homenageadas. A relação com os milicianos, alias, extrapola o próprio Jair. Seus filhos já homenagearam os criminosos paramilitares com medalhas e comendas e chegaram a empregar parentes de alguns deles em seu gabinete. Graças a esta ligação íntima, toda a família sempre foi muito bem votada em áreas controladas por milícias no Rio de Janeiro.
Depois de eleito, com o impulso de uma vida lambendo botas de viúvas da ditadura e de milicianos criminosos, Bolsonaro precisava ampliar seus horizontes. Para registrar sua subserviência à política externa dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro tem feito de tudo para humilhar o Brasil internacionalmente. Os exemplos são vastos: propor mudar a embaixada brasileira para Jerusalém para agradar a sanha anti-palestina de Trump, aceitar a instalação de uma base militar norte-americana no Maranhão, promover ataques descabidos à China, maior parceira comercial do país e, mais recentemente, prometer o fim da necessidade de visto para ianques no Brasil, sem a tão famosa reciprocidade requerida nas relações exteriores.
Como não tem capacidade de liderar, Bolsonaro entrega suas rédeas para quem achar melhor segurá-las. Quando era um deputado de carreira medíocre nos bastidores da Câmara, isso não era lá muito problema nosso. Agora, como líder de uma das nações mais importantes do mundo, sua subserviência nos coloca em uma posição constrangedora.
Ser satélite dos Estados Unidos, uma vocação a muito defendida por tucanos e neoliberais, não combina com a vocação de liderar que o país desenvolveu durante anos de política externa altiva do Ministério das Relações Exteriores nas gestões de Lula e Dilma.
Ser capacho ianque para reforçar uma falsa dicotomia de "liberais x comunistas" em um mundo de economia global, onde é preciso fazer negócios sem este tipo de amarra, trará para o Brasil um atraso irresponsável na construção de um país soberano de verdade.
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