Bolsonaro faz papel de gandula de Trump na ONU e assusta o mundo
Para Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, "Jair Bolsonaro saiu da ONU do mesmo tamanho que entrou: um nanico folclórico que assusta o mundo pelas besteiras que fala e faz". A viagem a Nova York "só serviu para piorar ainda mais a imagem do Brasil, que já não é mais levado a sério fora dos jardins da Casa Branca", escreve o colunista
Por Ricardo Kotscho, do Balaio do Kotscho e do Jornalistas pela Democracia
Em tempo (às 18h30): “Câmara dos EUA anuncia processo de impeachment contra Trump” (agora, no UOL). Mais uma do pé-frio… Por isso, o chefe dele estava tão de farol baixo hoje na ONU, com o topete caindo na testa…
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Jair Bolsonaro saiu da ONU do mesmo tamanho que entrou: um nanico folclórico que assusta o mundo pelas besteiras que fala e faz.
Durante meia hora, com dificuldades para ler o teleprompter, fez o Brasil passar a maior vergonha depois do vexame dos 7 a 1 para a Alemanha.
Não por acaso, declamou um discurso na mesma linha beligerante de Donald Trump: afinal, o guru deles é o mesmo, um certo marqueteiro chamado Steve Bannon, líder da extrema-direita mundial e amigo do astrólogo Olavo de Carvalho, que o apresentou aos filhos de Bolsonaro.
Na véspera do calamitoso, ridículo e doloroso pronunciamento contra o mundo civilizado, salvando só a cara do presidente americano, Eduardo, o filho 03, futuro embaixador nos EUA, teve um encontro privado com Bannon para afinar os últimos detalhes.
Na tribuna da ONU, o capitão só não fez arminha com os dedos nem defendeu o terraplanismo do seu chanceler.
De resto, foi o mesmo capitão furioso da campanha eleitoral, com o discurso pedestre dos fundamentalistas, que se imaginam enviados por Deus.
Repetiu os ataques a outros países, à ONU, às ONGs, à imprensa mundial, aos médicos cubanos, aos ambientalistas, à globalização e ao socialismo.
Em sua Guerra Fria particular, contra tudo e contra todos, exatamente como faz Trump, ele defendeu o nacionalismo, o patriotismo, a soberania, o combate sem tréguas aos inimigos, reais ou imaginários.
Ao final, diante da perplexa platéia, não ganhou nenhum aliado novo nem perdeu os poucos que já tem, mas estão ameaçados no poder.
Nos Estados Unidos, segundo as últimas pesquisas, Trump perde com folga de todos os pré-candidatos democratas; em Israel, o aliado Bibi tomou uma lambada nas eleições e, na Argentina, Maurício Macri vai devolver o poder aos peronistas dentro de poucos dias. Do coitado do autoproclamado presidente Guaidó, na Venezuela, nem se fala mais.
Bolsonaro se superou nas fake news. Fez juras de amor à “democracia e à liberdade”, ao dizer que “salvou o Brasil do socialismo” e elogiar a ditadura militar, mentiu sobre a situação da Amazônia, citou dados falsos sobre desmatamento e queimadas e teve o desplante de afirmar que quem botou fogo na floresta foram os índios e os pequenos agricultores.
No Brasil, teve comentarista que achou seu discurso “razoável”, mas no resto do mundo causou constrangimento e preocupação.
Sem noção do ridículo, o capitão levou uma desconhecida nativa a tiracolo, colocou até um cocar no jantar da véspera e leu a carta de uma “associação de agricultores indígenas”, da qual nunca se tinha ouvido falar, para fazer a sua defesa e provar que é um defensor do meio ambiente desde criancinha.
Não sei quanto custou esta viagem de 30 horas a Nova York, mas foi dinheiro jogado fora.
Só serviu para piorar ainda mais a imagem do Brasil, que já não é mais levado a sério fora dos jardins da Casa Branca.
Tanto ele como Trump falaram para os seguidores fiéis em seus países, um contingente cada vez menor à medida em que o tempo passa. No Brasil, os “bolsonaristas de raiz” não passam hoje de 12%, segundo as pesquisas.
Quem mais deve ter ficado preocupado com a fala rancorosa e agressiva do capitão, fora o resto do mundo, são os empresários e banqueiros brasileiros que bancaram a campanha de Bolsonaro, e agora estão vendo a debandada de investidores diante do desastre ferroviário federal.
Bastou uma imagem de 10 segundos para resumir o festival de sabujice proporcionado pelo presidente brasileiro, que se comportou como o gandula num jogo de golfe entre as grandes potências.
Ao esbarrar em Trump nos bastidores do encontro, Bolsonaro não abriu a boca e fez acenos com a cabeça, ao ouvir seu êmulo pronunciar algumas palavras e o guiar para fazer uma pose diante dos fotógrafos.
Parecia o recruta zero diante do general.
O Brasil não merecia passar por isso, mas agora é tarde.
A maioria do eleitorado quis assim.
Na moita, o Steve Bannon é que deve ter ficado feliz com seus pupilos.
E vida que segue.
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