Bolsonaro foi humilhado por Alexandre de Moraes
"Alexandre de Moraes poderia, daqui a alguns dias, anunciar decisões que não deixem dúvidas: não existe a mínima chance de trégua com Bolsonaro e com os seus militares e os seus milicianos", escreve o jornalista Moisés Mendes
Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia
Depois de ouvir o pedido de trégua de Bolsonaro, Alexandre de Moraes não precisa perder tempo pensando no que deve fazer. Não há encruzilhadas. Só há um rumo bem iluminado diante do ministro: seguir em frente.
Moraes não precisa mais provar a ninguém que não teme Bolsonaro e a estrutura militar e miliciana que o sustenta.
Mas não pode oferecer dúvidas aos que possam acreditar que andará para os lados ou que reduzirá o ímpeto do inquérito das fake news e dos atos pró-golpe.
Moraes não deve se preocupar em fortalecer a certeza de que continuará agindo para esclarecer o envolvimento dos filhos de Bolsonaro e dos cúmplices deles na produção de notícias falsas e de difamações e na organização de manifestações pró-ditadura.
Não precisa fazer nada além do que já vem fazendo. Só não há como recuar. Um ministro do Supremo não é imune aos humores da política e não há como não ser contaminado por pressões e armadilhas.
Mas hoje não há como aceitar que conversas com panos mornos possam ser algo razoável. Não há como negociar trégua com um criminoso que, dois antes de pedir clemência, definia Moraes como um canalha e anunciava que não cumpriria suas decisões.
Bolsonaro ameaçou o Supremo ao lado de três generais, o vice Hamilton Mourão e os ministros Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos.
Subiu nos palanques sob a proteção dos seus militares, e só não levou a preparação do golpe a uma nova etapa porque o mecanismo que acionaria o caos não funcionou. Se tivesse funcionado, não haveria pedido de trégua.
O pedido de socorro a Michel jaburu Temer e o reconhecimento público de que houve a conversa por telefone com Moraes são a prova da humilhação imposta pelo ministro.
Moraes deve ter deixado bem claro a Michel Temer: aceito a sua mediação, meu padrinho, e o recuo do sujeito dos blefes, mas desde que de forma explícita e com nota nas redes sociais.
Moraes impôs o roteiro. Nada de reuniões secretas e com desfechos encobertos. Fez o Brasil saber que Bolsonaro rezou ajoelhado no milho. Mas não pode ser tomado pelo engano de que o outro ficará ajoelhado por muito tempo.
Bolsonaro foi nocauteado pelos discursos de Luiz Fux e de Luis Roberto Barroso e está atordoado.
Não significa que seja outra pessoa, até porque já recuou inúmeras vezes e no dia seguinte foi ao cercado do Alvorada dizer que nada havia mudado.
O que Bolsonaro sabe hoje, depois do 7 de setembro, é que não tem suporte militar que lhe dê segurança para seguir adiante. Não teve o que mais esperava nas manifestações da Independência: a presença maciça, ostensiva, que pudesse ser notada fisicamente, de policiais militares.
Não conseguiu, por falta de repertório retórico, tirar proveito das duas manifestações. E não tem forças para continuar blefando em meio à degradação da economia e ao aumento da inflação e da miséria.
Podem dizer que agora ele assume, por escrito, o compromisso de respeitar o Supremo. E daí? Bolsonaro pode assumir todo tipo de compromisso, inclusive o de convocar o Conselho da República e depois despistar e nem comentar mais o assunto.
Pode reunir-se com Fux, como fez em junho, e anunciar que todos os poderes iriam convergir para a busca de soluções para os problemas nacionais. Bolsonaro pode até dizer amanhã que irá se vacinar.
Bolsonaro pode tudo. Só não pode achar que será favorecido pelo afrouxamento das investigações que o atormentam e que são a principal causa dos seus desatinos.
Alexandre de Moraes poderia, daqui a alguns dias, anunciar decisões que não deixem dúvidas: não existe a mínima chance de trégua com Bolsonaro e com os seus militares e os seus milicianos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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