Bolsonaro, isso não é afronta, é medo
Bolsonaro já percebeu que uma mentira contada mil vezes jamais se tornará verdade. Neste Brasil assolado pela pandemia, pela fome, pelo desemprego e desalento, o medo do povo trabalhador é barriga vazia. É filho doente. É perder o teto, a dignidade
Desde que assumiu o mais alto cargo do País, Jair Bolsonaro parece guerrear o tempo todo. Seus inimigos, reais ou imaginários, estão sempre prestes a atacar sua vida, sua família, seu governo e, na irracionalidade bolsonarista, os mais altos interesses do Brasil.
Essa narrativa usada por Bolsonaro desde a campanha eleitoral se sustenta num tripé muito bem orquestrado, com ares de improviso. Uma frase de efeito ou notícia enviesada dita pelo mandatário, compartilhada de diversas maneiras por seguidores e robôs, seguida de inumeráveis repercussões de um país atônito, que se vê na obrigação de responder, negando ou contradizendo os atos e palavras do presidente. Bolsonaro aposta na velha máxima de Goebbels, ministro da propaganda nazista alemã, de que uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade.
A estratégia que impulsiona a rede bolsonarista, especializada em distorcer, ofender e mentir, vem sendo usada à exaustão à medida que Bolsonaro vê sua popularidade e sua preferência eleitoral despencar pesquisa após pesquisa. Bolsonaro hoje não é presidente, ele não governa. Ele é um especialista em afrontar.
Afronta os familiares dos mais de 560 mil mortos na pandemia quando promove aglomerações e manda às favas as regras de distanciamento social e protocolos de higiene. Todos os fins de semana, participa de motociatas Brasil afora, afrontando prefeitos e governadores em exercício e mantendo seus seguidores em alerta máximo. E gasta dinheiro público. Parlamentares do PT, inclusive este que aqui escreve, ingressou com representação para saber o custo das motociatas no estado de São Paulo e quem pagou por elas. Mas além de atos, Bolsonaro afronta com palavras.
Afronta os poderes constituídos, espalhando mentiras sobre a segurança das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral brasileiro, sem apresentar sequer uma prova. Ameaça instituições, ameaça as eleições de 2022, xinga magistrados. Se vende para o centrão em busca de apoio às suas pautas, manobrando o debate do voto impresso, quando o tema já foi derrotado em Comissão Especial da Câmara Federal. Só falta sair na mão com alguém, como diriam os meninos nas brigas de bairro.
O último episódio da narrativa intimidatória de Bolsonaro ao Estado Democrático de Direito aconteceu hoje, no controverso desfile cívico-militar que percorreu as ruas da Esplanada dos Ministérios a pedido do presidente. Tanques de guerra e armas bélicas expostas junto a uma massa de militares treinados para prestar continência ao mandatário chefe da República Federativa do Brasil. Parece um ultimato, mas é apenas medo.
Bolsonaro agora é investigado formalmente pelo Tribunal Superior Eleitoral no inquérito que apura “fake news" contra a confiabilidade das urnas e ataque às instituições. Também é alvo de uma notícia crime em que o Tribunal Superior Eleitoral o acusa de vazar dados sigilosos sobre um suposto ataque hacker às urnas eleitorais. O cerco se fecha e as argumentações jurídicas para um impeachment se acumulam.
Bolsonaro já percebeu que uma mentira contada mil vezes jamais se tornará verdade. Neste Brasil assolado pela pandemia, pela fome, pelo desemprego e desalento, o medo do povo trabalhador é barriga vazia. É filho doente. É perder o teto, a dignidade.
Bolsonaro sabe que são poucos os militares que se rendem aos seus delírios ditatoriais. A maioria entre os dois milhões de militares das Forças Armadas do Brasil, ativos e inativos, tem consciência do papel constitucional que lhes cabe: proteger 211 milhões de brasileiros que não se renderão às ameaças golpistas contra a democracia.
O povo brasileiro sabe que sua vida piorou nos últimos anos, desde o golpe na presidenta Dilma, em 2016. O povo, atordoado, acreditou nas mentiras contadas diversas vezes com jeito de verdade. Mas o nocaute das fake news, o sonífero que buscou apagar as políticas públicas dos 13 anos de governos petistas não tem mais efeito sobre o povo brasileiro. Bolsonaro e seus seguidores sabem disso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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