Bolsonaro: o gato molhado que se achava leão
"A realidade se aproxima com a ducha gelada, mas ele continua se debatendo, miando promessas de candidatura", escreve Sara Goes
Você já deu banho em gato? Sim, é uma maldade, é desnecessário. Gatos são criaturas perfeitas e autolimpantes, mas, ocasionalmente, acidentes acontecem e se faz necessária essa tortura. Gatos são criaturas orgulhosas e autossuficiente. Quando sentem a primeira gota de água, reagem como se o universo o estivesse traindo. O humano, por sua vez, enfrenta uma verdadeira batalha. Segurar o gato parece impossível; de repente, ele desenvolve uma força sobrenatural e habilidades de contorcionismo que te fazem duvidar que gatos têm esqueleto. A cada tentativa de ensaboá-lo, o gato dispara miados dramáticos, se contorce e tenta escapar. Ao final, o pobre humano está com arranhões por todo o corpo, roupas encharcadas, o banheiro parece ter passado por um dilúvio e gato anota se nome em uma lista de vingança. Ambos saem dessa batalha abalados e ligeiramente traumatizados.
Sei que é mais fácil imaginar Bolsonaro como aquilo que o gato enterra, mas faça um esforço: Imagine Bolsonaro como um gato enfurecido ao ver uma gota d’água, insistindo que ainda domina o território político mesmo quando a realidade tenta lhe esfregar a verdade na cara. Ele se vê como o grande "felino" de Brasília, um leão de juba farta, quando na verdade o que temos é um gato trêmulo no banheiro, em pleno delírio felino, recusando-se a aceitar que o banho – ou o fim de sua era política – é inevitável.
Segundo Igor Gadelha, do portal Metrópoles, Bolsonaro tem feito apelos diretos em uma tentativa desesperada de reafirmar sua influência, O ex-presidente inelegível pediu a senadores aliados que deem prioridade à reeleição em 2026, em vez de se aventurarem em disputas estaduais para o governo. Convenhamos, é um sacrifício que só se propõe com boas garantias — algo que definitivamente não é o ponto forte de Bolsonaro, conhecido por largar aliados à própria sorte, com exceção dos próprios filhos. Esse tipo de comportamento é frequentemente, e injustamente, atribuído aos gatos, mas, na verdade, a deslealdade é uma marca muito mais humana, especialmente entre figuras da extrema direita, enquanto os felinos, ao contrário, são criaturas de muita dignidade. Bolsonaro precisa assegurar uma bancada robusta no Senado, com a esperança de atingir os 54 votos necessários para aprovar um possível impeachment de Alexandre de Moraes. Essa estratégia audaciosa, que exige o sacrifício de aliados que já sentiram na pele a deslealdade do ex-presidente, foi confirmada por seu filho, Flávio Bolsonaro. No início de outubro, Flávio declarou ao portal Metrópoles acreditar que, em 2027, a direita terá o controle boa parte dos senadores, número suficiente para pôr fim ao que ele descreve como as “maluquices” de Moraes. Pois tá.
Nas mesmas 72 horas em que Dona Fátima de Tubarão, símbolo da intentona de 8 de Janeiro, e Ives Gandra, o respaldo jurídico daquela marmota, ganham destaque por suas punições, Bolsonaro tenta, tenta e tenta. A cada nova tentativa de “limpá-lo” com os fatos, ele responde com mais acrobacias: “Eu sou o Messias, quem decide é o povo!”, brada com a mesma fúria de um gato molhado. A realidade se aproxima com a ducha gelada das leis, das urnas e das condenações, mas ele continua se debatendo, miando promessas de candidatura enquanto corre em círculos, alheio ao próprio fim.
Enquanto o “banho” se desenrola, os apoiadores tentam convencê-lo a aceitar o fato, mas ele só responde com “fake news!” e, em um último ato de desespero, declara: “2026 será meu!” – um miado final para convencer a todos (ou a ele mesmo) de que ainda tem a dignidade intacta. Quando finalmente se retira, ele se olha no espelho e vê um leão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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