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    Paulo Moreira Leite

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    Bolsonaro quer modelo sueco contra covid-19 - que deu errado até na Suécia

    "Ao dizer que pretende quebrar a quarentena e enfrentar a covid-19 com um modelo que deu errado numa das sociedades mais equilibradas do planeta, Bolsonaro mostra que quer usar a pandemia para prestar novos favores ao mercado financeiro", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

    (Foto: Marcos Correa - PR)

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    Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

    Na tenebrosa conversa com empresários onde anunciou que está preparando uma  guerra aos governadores,  Bolsonaro disse tem um modelo para enfrentara covid-19,   inspirado na Suécia.  

    É uma afirmação terrível. Mostra que os erros, desvios e manobras desastrosas  que Bolsonaro tem cometido desde que a pandemia chegou ao país não são fruto do desconhecimento nem de mal-entendidos. É caso pensado. 

    Conhecida por ter inventado o Estado de Bem-Estar Social, em 1920, ponto de partida para o nascimento de uma das sociedades mais prósperas e equilibradas do planeta, o desastre acumulado pela Suécia na luta contra o coronavirus é um caso antológico  

    Recusando o regime de quarentena,  aplicado na quase totalidade da Europa, inclusive entre os demais países nórdicos,   o governo da Suécia cruzou os braços, evitando qualquer medida mais severa que implicasse em impor controles  sobre a população.  Argumentando que cada família e cada cidadão seria capaz de cuidar de si, deixou a pandemia espalhar-se livre e solta. 

    O resultado é que hoje o país cumula um dos piores desempenhos entre os países desenvolvidos  -- e o mais ruinoso entre os nórdicos, que possuem um grau de desenvolvimento social semelhante.   

    Assim, conforme  dados publicados pelo portal Nexo, em 8 de maio número de mortos na Islândia era de 10 pessoas. Na Noruega, 217. Na Finlândia, 255 e naDinamarca, 514. Já na Suécia, o total, já batia em 3040 -- um número quase seus vezes superior ao segundo  da lista.    

    Avaliando-seo total de habitantes pelo número de vítimas fatais, também se encontra uma diferença enorme: : 300 mortos por um milhão de habitantes na Suécia. Na Dinamarca, 89, naFinlândia, 46 e na Noruega 40.  

    O aspecto grave no anuncio de Bolsonaro, é outro, porém. Estamos falando num desastre ocorrido num país  que possui um elevado grau de desenvolvimento econômico e equilíbrio social, sem comparação com a realidade brasileira.  A renda per capta na Suécia fica um pouco acima de US$ 30 000 -- a brasileira é de US$ 8900 -- e é infinitamente melhor distribuída. 

    A diferença entre o bloco dos 20% mais ricos é 4 vezes superior a dos 20%, enquanto a situação brasileira é aquele conhecido  escândalo mundial. Conforme dados do IBGE,2,7% das famílias brasileiras concentram 20% do total de renda.   

    Outro dado  envolve o mercado de trabalho. Na Suécia, 77% dos homens têm emprego regular, acessível também para 68% das mulheres. Há muitos anos vigora, ali, uma versão pioneira de um programa de renda básica semelhante ao projeto de Eduardo Suplicy. Atinge não só as camadas mais pobres, mas também jovens universitários que precisam de renda própria. 

    Neste quadro, cresce hoje um consenso de que a opção de cruzar os braços foi um erro terrível. Países como a Inglaterrado conservador Boris Johnson chegaram a seguir o mesmo caminho de Estocolmo, mas já voltaram atrás.  

    Cabe considerar, também, um aspecto previsível. Não há dúvida de que os defeitos deletérios de uma orientação  errada puderam ser em parte  minimizados pelo colchão de políticas públicas construído ao longo de um século.  E é claro que, em países com uma realidade social perversa, como o Brasil, ainda mais sob Bolsonsaro-Paulo Guedes, o impacto só pode ser muito maior.  E aí chegamos ao ponto essencial. 

    Quando os cientistas de todo mundo já consolidaram conhecimento sobre a natureza indispensável da quarentena como única alternativa disponível para minimizar os danos do novo coronavírus,  a única razão para Bolsanaro  falar em "modelosueco" nada tem a ver com saúde pública ou bem-estar de brasileiros. Esta não foi nem será uma prioridade para seu governo, o que até ajuda compreender  a permanente instabilidade de seus ministros da Saúde, incapaz de atingir os graus de crueldade que o presidente gostaria. 

    Como fez coma  Previdência, as leis trabalhistas e um pacote inédito contra os direitos dost rabalhadores e da população superexplorada, Bolsnaro quer aproveitar a pandemia para produzir multiplicar novos favores ao mercado financeiro. Só isso. 

    Alguma dúvida?  

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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