Bolsonaro quer uma foto com Trump para mostrar aos manés presos
“Seria estranho dar tratamento VIP ao líder do golpe, se até agora só os invasores de Brasília foram condenados”, escreve o colunista Moisés Mendes
Ninguém imagina que Bolsonaro possa participar da posse de Trump como parte de um plano de fuga para a Groenlândia. Não é essa a ameaça levada em conta por Alexandre de Moraes ao negar até aqui a liberação do passaporte para que o sujeito participe da festa do dia 20 em Washington.
Não há nenhum dilema grave na escolha de deixar ou não deixar ir. Não há nenhuma dúvida sobre o desrespeito a algum direito elementar, começando pelo de ir e vir, considerando-se a figura em questão, seu histórico e as suas circunstâncias.
Bolsonaro não pode ter o passaporte, porque o próprio pedido de liberação do documento já é uma afronta a Moraes. É também uma afronta a todos os manés presos pelo 8 de janeiro, em especial Fátima de Tubarão, encarcerada há dois anos e condenada a 17 anos de cadeia.
O estagiário do Supremo pode usar argumentos jurídicos inquestionáveis em defesa da liberação do passaporte. Podem dizer que nada deve impedir a entrega o documento. Assim como podem dizer que tudo deve impedir a liberação.
E tudo aqui é tudo mesmo. Não são questões subjetivas. São os dois anos de impunidade. Os ataques ao Supremo e as tentativas de intimidar ministros. A desqualificação de parceiros do golpe. A desmoralização de Mauro Cid como ex-faz-tudo. E a tentativa de liderar a rearticulação dos golpistas.
Dirão que esses não são ingredientes que ajudam a formar um conjunto de argumentações jurídicas. Como podem dizer, e o próprio Moraes disse, que se questões jurídicas fossem levadas a sério, todos os acampados nos quartéis – e não só os do QG de Brasília – deveriam ter sido presos por ataques à democracia e às instituições.
Todos, fora os manés de Brasília, ficaram soltos e nunca foram processados. Estão impunes os financiadores, não só do golpe, mas da estrutura do fascismo montada desde a campanha bolsonarista de 2018.
É nesse contexto que Bolsonaro pede para viajar, apresentando um convite que Moraes considera não oficial, com um email estranho (info@t47inaugural.com).
Uma busca simples no Google remete para o site oficial do Comitê Inaugural Trump-Vance. Pode ter sido de onde saiu o convite apresentado ao ministro.
O site informa que qualquer um pode se convidar para ir a festas paralelas, inscrevendo-se ali mesmo ou em outros endereços. Não é oficial? O que seria um convite oficial? Teria de ser em nome do presidente eleito?
Bolsonaro não precisa se inscrever nesse site para a festa diante do Capitólio. Ficará na rua, junto com milhares de trumpistas. Mas Eduardo Bolsonaro tenta vender que o convite apresentado a Moraes teria partido de Trump e que o pai poderia se misturar às autoridades do mundo todo.
Será? Bolsonaro pode estar tentando tirar uma foto com Trump como documento histórico, mas em eventos organizados em torno da posse, e não na cerimônia oficial.
A foto num bailão da extrema direita seria mostrada por advogados aos manés presos, como souvenir e como deboche. Em Buenos Aires, na posse e Milei, ele tentou sair na foto dos chefes de Estado e foi barrado.
O quase preso está jogando para a torcida. Se não conseguir o passaporte – que depende de parecer da Procuradoria-Geral da República, antes da decisão de Moraes – , atiça as hienas. Se conseguir, estará consagrado, porque tentará em algum momento ficar ao lado de Trump.
Enquanto isso, mais de 140 manés estão presos. Outros 100 estão foragidos. Mais de 40 não aceitam acordos de não persecução penal. Manezões endinheirados fazem banquetes para juízes. O extremismo golpista comanda o Congresso sob o disfarce de que tudo agora virou centrão
E o bolsonarismo se reorganiza em suas bases, porque as estruturas paroquiais do fascismo, dois anos depois, continuam inteiras e fortalecidas pelas eleições do ano passado.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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