Bolsonaro reaparece para assombrar o andar de cima
"O casamento de interesses entre Bolsonaro e a turma da Faria Lima vive seu momento de maior tensão," escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
De olho na sua única prioridade -- manutenção do poder em 2022, em qualquer alternativa -- Bolsonaro entrou em guerra aberta com o pessoal do dinheiro grosso e do ganho fácil.
A demissão de Roberto Castello Branco da presidência da Petrobras nada tem de ideológica, mas responde a uma necessidade eleitoral elementar.
Num país com 14 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados, o lucro fácil da Petrobras não é apenas uma obscenidade social.
É uma cunha aberta entre Bolsonaro e o conjunto dos brasileiros, em particular aquela multidão para quem cada centavo a menos na feira faz uma imensa diferença no almoço da família e, claro, na hora do voto.
Nem é preciso aguardar pelo próximo Datafolha para imaginar como está o Ibope de Bolsonaro depois que os combustíveis subiram entre 24% (diesel ) e 37% (gasolina) de 1 de janeiro para cá, contaminando o preço de mercadorias e bens de primeira necessidade, que uma família só dispensa quando está perdendo a batalha contra a fome.
Responsável pela entronização da mais reacionária equipe econômica à frente do Estado brasileiro desde a abolição da escravatura, Bolsonaro é 100% responsável pela pauperização do país, produto inevitável de um conjunto de medidas regressivas que produzem desemprego alto e salário baixo. Ajudou a desindustrializar aquele que já foi o principal parque fabril do Hemisfério Sul. Também prejudicou a agricultura familiar.
Como presidente da República, Bolsonaro preservou uma barbaridade econômica no mercado de combustíveis e por essa razão a Petrobras está no centro da roda.
O nome é "Política de Preços de Paridade de Importação (PPI)", foi criada no governo Temer-Meirelles e a finalidade é garantir que os brasileiros e brasileiras, habitantes de um país que atingiu a auto suficiência no abastecimento de petróleo e derivados, sejam obrigados a pagar preço de produto importado, o que implica num ataque cotidiano a seus bolsos e na capacidade do país investir. Também permite, é claro, ganhos fabulosos para a máquina econômica empenhada em vender combustível na estratosfera.
"Com os preços da PPI, passou a ser viável a importação de óleo diesel e gasolina, o que é de exclusivo interesse das multinacionais", explica o engenheiro Pedro Celestino Pereira, presidente do Clube de Engenharia, num texto obrigatório sobre o tema ("Preço de Combustíveis e Interesse Nacional").
"Com isso, as refinarias da Petrobras passaram a operar com ociosidade superior a 30%. Voltamos à situação anterior à sua criação, dependentes das multinacionais no suprimento de derivados" acrescenta Celestino.
Aprumando o foco para disputar o voto popular, Bolsonaro ensaia mudanças no elenco e no discurso.
A demissão de Roberto Castello Branco foi acompanhada de números escandalosos sobre a remuneração de executivos da estatal. Em sua chegada, o general Joaquim Silva Luna, indicado para ocupar a presidência, incluiu declarações sobre a necessidade da Petrobras "enxergar as questões sociais" e estar "totalmente incluída na sociedade".
Num mini-comício, o próprio Bolsonaro falou sobre Castello Branco em tom de escândalo. “O atual presidente da Petrobras está há 11 meses de casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem de estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível," disse, antes de sugerir que os vencimentos do presidente da empresa poderiam chegar a R$ 200.000 mensais.
Entre os trabalhadores da Petrobras, a esperança é de outro tipo. Lembrando uma velha lição das boas lutas políticas, onde se aprende que a briga nas cúpulas costuma aquecer o ânimo das bases, o petroleiro Radiovaldo Costa, diretor do Sindicato que organizou a greve contra a venda da refinaria Landulfo Alves, a primeira de uma lista de 9 a caminho de privatizações anunciadas pelo governo Bolsonaro, afirma uma verdade simples. "Nossa esperança é ganhar tempo e impedir qualquer novo retrocesso até a situação política melhorar", afirma, descartando qualquer mudança relevante sob o governo Bolsonaro.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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