Brasil: laboratório da extrema-direita
"Ainda que em 2026 tenhamos chances de reeleger Lula ou seu sucessor, é fundamental que tenhamos maioria de deputados(as) e senadores"
A recente notícia de que o cantor Gusttavo Lima (cujo nome verdadeiro é Nivaldo Batista Lima) se lançou como presidenciável para as eleições de 2026 virou piada nas redes sociais. Muitos até lançaram a política de governo dele: “Meu tigrinho, minha vida”. Outros disseram que sua vice seria a golpista Deolane Bezerra. Apesar das brincadeiras, é preciso fazer uma análise mais séria e aprofundada disso.
Alguns pontos quero compartilhar com vocês:
1) Figuras sem nenhuma experiência política, mas com status de celebridade, são tentativas da extrema-direita para tomarem o poder. Entre os possíveis partidos que o cantor poderá se filiar estão PL, União Brasil e PP. Lembremos do que aconteceu recentemente durante a disputa para o governo de São Paulo, com a surpreendente ascensão de um pilantra, o coach Pablo Marçal, que ganhou notoriedade com palestras defendendo a meritocracia, empreendedorismo e explorando a fé alheia.
2) Um sujeito abjeto como Gusttavo Lima, com relações suspeitíssimas com as tais bets e que atrai a juventude através do “agronejo”, tentam atrair a atenção através da música sem qualquer conhecimento político. Enquanto professor do Ensino Médio, é notável a quantidade de jovens que passaram a optar em cursar uma graduação voltada à agronomia, principalmente sob influência das músicas e de toda propaganda que o agronegócio faz. Sai de cena a “sofrência” e entra o “agro-ostentação”, que sem pudor algum, usa de letras com duplo sentido, perpetuando inclusive o machismo e misoginia.
3) O agronegócio percebeu que suas propagandas falaciosas e lesa-pátria não estão conseguindo mais ter espaço frente às disputas de ideias e divulgações de estudos científicos que desmontam sua tese capitalista. Mas isso não impede que eles recuem. Mudaram de tática
4) Não acredito que Gusttavo Lima, assim como Pablo Marçal (se não se tornar inelegível pelo TSE em função dos crimes eleitorais que cometeu) tenham fôlego para conseguir chegar à presidência. No entanto, o exemplo do humorista Volodymyr Zelensky na Ucrânia, e seu projeto antissistema nos faz ligar o alerta. Curiosamente, Zelensky conseguiu ser eleito justamente em uma sociedade nazificada, o que reflete a crise do capital, dando espaço para o caos político – tal como foi com a Alemanha nazista. Não nos esqueçamos também do desastre que foi o desgoverno de Jair Bolsonaro.
Assim sendo, acredito que essa seja mais uma estratégia da extrema-direita em atrair a atenção do público mais jovem, bombardeado pelas falas de coaches e de conseguir dinheiro fácil através de plataformas de jogos, sendo contrários aos estudos e coisas do tipo. E com isso, conseguirem votos não para esse tipo de candidato à presidência, mas para o Legislativo, que é onde as coisas realmente acontecem. Estão plantando esses discursos para perpetuarem um Congresso Nacional reacionário, conservador, teocrático e antidemocrático. É esse o real perigo.
Ainda que em 2026 tenhamos chances de reeleger Lula ou seu sucessor dentro do campo progressista, é fundamental que tenhamos maioria de deputados(as) e senadores(as) para um mínimo de governabilidade, sem ficarmos reféns do mercado especulativo e interesses da burguesia.
Enquanto não tivermos essa noção, e ganharmos as disputas ideológicas junto ao povo, principalmente entre a classe média, mas também na classe baixa que segue sob a ausência do Estado e sob a tutela de igrejas neopentecostais, cristãs carismáticas e ONGs alinhadas aos interesses de empresas estrangeiras e bancos, a extrema-direita seguirá ganhando terreno, colocando sob ameaça real não apenas as conquistas de governos progressistas, mas igualmente à democracia.
É urgente que a esquerda brasileira reveja e refaça suas rotas. A verdade é dura, mas é fato: perdemos o protagonismo. E com isso, a correlação de forças torna-se cada vez mais desigual. Precisamos voltar às bases, fortalecendo os sindicatos, os movimentos sociais, ocupar os espaços que historicamente eram nossos e abandonamos!
Outra importante solução é o fortalecimento da comunicação, que deve ser eficiente e assertiva. O governo precisa priorizar o setor de comunicação que está aquém das necessidades.
Além disso, nossa democracia, apesar de representativa, é ainda uma democracia burguesa. A verdadeira democracia deve ser participativa, mas isso infelizmente não acontece. Com a maioria no Congresso, sem a necessidade de alianças espúrias com o Centrão, talvez tenhamos a chance de promover verdadeiras e significativas mudanças em nosso país, conforme conseguimos no primeiro, e principalmente no segundo governo de Lula quando tínhamos maioria tanto no Congresso (347 de 513) como no Senado (46 de 81).
Lembremos também que os financiadores do agronegócio são corporações e multinacionais estrangeiras, que têm interesse na manutenção do país desindustrializado e mero produtor e fornecedor de commodities. E por trás delas estão os EUA e a União Europeia que, além de desejar o Brasil subserviente, tentam também minar nossa participação e representatividade da multipolaridade proporcionada pelo BRICS+.O tabuleiro da geopolítica, nacional e internacional, está movendo suas peças. Precisamos de inteligência para jogar o jogo. Afinal, como canta Gal Costa, tudo é perigoso...é preciso estar atento e forte.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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