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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    Brasil, Reino Unido e França aliviaram o mundo; falta os Estados Unidos

    "Muitos afirmam que basta Joe Biden renunciar à candidatura, e outro nome democrata se encarregaria de vencer Trump em novembro. Não é tão simples"

    Donald Trump (à esq.) e Joe Biden em debate (Foto: Reprodução (YT))

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    O show de horrores que se viu em Balneário Camboriú careceu da presença de Donald Trump para ser completo. Jair Bolsonaro e o descabelado Javier Milei são fascistoides modelares, mas Trump é a efígie global da ultradireita, personificando a xenofobia, a misoginia, a mentira estratégica e o neoliberalismo mais grosseiro. Reino Unido e França deram respiro ao mundo nesta semana ao colocarem a direita para escanteio, ainda que temporariamente. Falta os Estados Unidos darem a Trump um merecido passa-fora.

    Muitos afirmam que basta Joe Biden renunciar à candidatura, e outro nome democrata se encarregaria de vencer Trump em novembro. Não é tão simples. Não é nada simples. Boa parcela dos americanos médios dá de ombros para os crimes do laranjão, aplaude seu machismo e sua xenofobia, considera-o corajoso quando na verdade é um covarde, um falastrão cuja biografia é muito mais podre do que se fala.

    Donald Trump já foi desmascarado, foi condenado pela Justiça, mas seu apelo eleitoral não se desfez. O que explica tamanha insanidade dos eleitores? Como é possível que um cidadão razoavelmente esclarecido escolha um candidato abertamente sem caráter?

    “Não basta dizer não”, livro de 2017 da consagrada jornalista Naomi Klein, precisa ser revisitado. A autora, que escreveu o seminal “A doutrina do choque”, destrinchando a onda neoliberal que fulminou o estado de bem-estar social a partir dos anos 70, relata coisas escabrosas sobre o laranjão.

    Presidente dos Estados Unidos, Trump nomeou Patrick Shanahan vice-secretário de Defesa. Shanahan, um alto executivo da Boeing , escreve Klein, “foi responsável pela venda de equipamentos caros para o Exército americano, incluindo helicópteros Apache e Chinook. Ele também supervisionou o programa de defesa antimísseis balísticos da Boeing – uma parte da operação que deve lucrar imensamente se as tensões internacionais (em 2017) continuarem a aumentar sob o governo Trump”.

    Klein explica que oficiais de alta patente reformados costumam assinar contratos com empresas de armamento ou mesmo assumir cargos executivos nessas companhias. A diferença do governo Trump foi “o número de generais com laços lucrativos com prestadores de serviços militares nomeados para cargos em seu gabinete com poder de alocar fundos, incluindo aqueles oriundos de seu plano de aumentar gastos com os militares, com o Pentágono e com o Departamento de Segurança Nacional em mais de 80 bilhões de dólares em apenas um ano”.

    Trump presidente teve Rex Tillerson como secretário de Estado, cujas relações umbilicais com a gigante do petróleo Exxon Mobil eram conhecidas. Todo mundo sabe o que acontece com o preço do petróleo quando há guerras envolvendo países produtores. Escreveu Naomi Klein: “Há outra razão pela qual o governo pode se apressar em explorar uma crise de segurança a fim de começar uma nova guerra ou acirrar um conflito já existente: não há maneira mais rápida ou mais eficaz de aumentar o preço do petróleo, especialmente se a violência interferir nos suprimentos de petróleo que vão para o mercado mundial”.

    O planeta correrá sérios riscos, agravando-se os que já corre, se o laranjão voltar à Casa Branca. Sob sua presidência os Estados Unidos realizaram movimentos concretos para aumentar a produção de combustíveis fósseis, desmontar boa parte da legislação ambiental e solapar o Acordo de Paris, pavimentando o caminho para novos acidentes climáticos.

    O mundo respirará aliviado se os Estados Unidos negarem a Trump uma volta ao poder, a exemplo do que o Reino Unido e a França fizeram nos últimos dias com seus líderes de direita. A exemplo do que fez o Brasil em 2022, mandando para casa – e em breve para a cadeia – seu representante na concertação global neofascista.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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