"Brasilien über alles"? Não à Anistia!
Em todo o mundo as células nazistas, sua ideologia, seus métodos, não são coisas do passado
“Se a bandeira da suástica estava jogada no chão,
está hoje reerguida pelos braços do bolsonarismo”
(Gustavo Freire Barbosa)
O horror do nazismo - As imagens registradas pelos soldados do Exército Vermelho em 27 de janeiro de 1945, quando entraram em Auschwitz, no sul da Polônia, mostraram a um mundo estarrecido o que era o nazismo. Vendo aquelas imagens, o mundo tomou conhecimento do real significado da palavra ‘horror’.
Judeus e judias de todas as idades foram transportados a mais de 40 mil campos de concentração, melhor dizendo, de extermínio ou de genocídio, em trens sem janelas, sem banheiros, água ou comida. Ali eram submetidos a uma triagem: quem deveria ser morto imediatamente; quem servia para trabalhar até morrer de exaustão; ou quem serviria de cobaia nos experimentos que os nazistas faziam para provar o acerto de suas teorias. Ali, os nazistas exercitavam seu racismo extremado, com a escravidão ou a extinção das outras raças.
Em Auschwitz, os soldados soviéticos encontraram cerca de sete mil pessoas, em condições física e psicologicamente deploráveis: como cadáveres que ainda se moviam; trapos humanos destruídos. Entre essas pessoas, crianças. As vítimas eram maioria de judeus. Ali foram gravadas, ainda, imagens das valas apinhadas de cadáveres insepultos.Ali estava a síntese da jornada promovida por Hitler: racismo; desapreço pela democracia; militarismo; mentiras; retórica de extermínio de adversários; controle da população pela propaganda e pelo fanatismo religioso. Jornada que incluiu culpar os comunistas pelo incêndio do Reichstag; incluiu os ataques aos judeus e a seu patrimônio na Noite dos Cristais, a prisão e a tortura de seus primeiros opositores; a acelerada e progressiva destruição de direitos civis e a construção dos primeiros campos de concentração, criados, inicialmente, para isolar os negros, os ciganos e os homossexuais da sociedade alemã.Da exibição dessas imagens pelos filmes da época, mundo afora, parecia ter nascido, dos destroços humanos e materiais da Segunda Guerra Mundial, um desejo inelutável de fazer Justiça e, sobretudo, a vontade de criar mecanismos para garantir que os crimes contra a humanidade como os cometidos pelos nazistas jamais se repetissem. Fez-se da arte do cinema arma de combate ao horror!
O antinazismo dos EUA sucumbe aos interesses do capitalismo - A Rússia, o primeiro país a se defrontar com essas imagens, perdeu, na 2ª Guerra, mais de 25 milhões de pessoas, a maioria homens, na idade adulta. Por isso, lutar contra o nazismo passou a ser um dever sagrado para o povo russo, assim como é sagrada para aquela nação a memória dos que tombaram nessa luta.
Após conhecer o horror, parecia que o mundo tinha se irmanado nessa convicção.
Mas a ilusão logo se desfaz quando os Estados Unidos proíbem o lançamento, em seu território, do filme dirigido por Stuart Schulberg, “Nuremberg: Uma Lição Para o Mundo de Hoje”, que mostrava imagens do terror nazista, colhidas em várias partes da Europa.
Já naquele momento em que o mundo ainda lambia as feridas provocadas pela guerra, o recente horror nazista se tornava passado para o governo norte-americano, que não tinha mais interesse em divulgar seus crimes.
Mais importante do que combater o nazismo era fortalecer o capitalismo em alianças estabelecidas com antigos inimigos. Mais importante era transformar, via propaganda incessante, a proposta de igualdade propugnada pelo comunismo em pavor dos pobres de todo o mundo, escudando-se, para tanto, nos crimes do stalinismo e, não, na ideologia. Assim, a exibição do filme foi censurada porque foi considerada prejudicial aos interesses da então instalada “Guerra Fria” contra a Rússia.
A Hidra de Lerna - Por que é preciso retomar essa História? Para que ela não seja esquecida e repetida, diriam alguns, mas sobretudo para mostrar o perigo que ainda não passou!
Pelo contrário, em todo o mundo e, particularmente, no Brasil mestiço, cujo povo seria, em sua maioria, vítima preferencial do nazismo, as células nazistas, sua ideologia, seus métodos não são coisas do passado.
O nazismo é como a Hidra de Lerna, um animal da mitologia grega, com corpo de dragão e várias cabeças de serpente que, cortadas pela espada de Hércules, faziam brotar outras no lugar. Mas no Brasil o nazismo não habita o Pântano de Argólida.
Habita a caserna que, anistiada por seus crimes na ditadura de 1964, está sempre pronta a dar o bote a qualquer tentativa de se aprofundar a democracia no Brasil, por mais tímida que seja essa iniciativa.
Habita o parlamento brasileiro na figura de deputados e senadores que apoiam suas políticas; habita o palácio de governadores imbuídos dessa orientação política. Habita igrejas comandadas por pastores lavadores de dinheiro, que levam seu rebanho para o matadouro com suas pregações em favor de candidatos nazistas; habita a mente carcomida de católicos que têm saudade da Inquisição e odeiam o Papa Francisco; habita a mente das viúvas da ditadura que se mobilizam pela volta dela. Habita no disseminado combate à Universidade pública, à Ciência, à inteligência, à Arte e à Cultura.
Vejamos nossa própria história recentíssima!
A ascensão do nazifascismo no Brasil atual - A eleição de Jair Bolsonaro, sua atuação e a de seus aliados durante todo o seu mandato são prova contundente e palpável da ascensão da Hidra de Lerna do nazifascismo no Brasil.
Desde sua trajetória no Exército, na Câmara dos Deputados e em sua campanha eleitoral jamais escondeu sua antipatia à democracia, ou o seu perfil racista, misógino, homofóbico, supremacista, seu desprezo à formação étnica do povo brasileiro e àquilo que é caro ao Brasil, quais sejam, sua História, sua democracia, seu patrimônio, sua soberania e sua cultura.
Do púlpito da Câmara, exaltou, sem ser molestado, o mais famigerado torturador da ditadura brasileira, quando do acolhimento da farsa do processo de impeachment de Dilma Rousseff. E não saiu de lá preso!
Ameaçar de extermínio os que considera seus adversários, característica profundamente nazifascista, foi e é seu discurso desde sempre.
Com “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, troca Alemanha por Brasil, e recupera o sentido do lema de Hitler, que se tornou seu bordão de campanha, de mandato, de comícios e motociatas, repetido à exaustão no País em que nazismo é crime, desde a lei tardiamente aprovada em 1989.
A atuação de Bolsonaro e equipe durante a pandemia não deixou dúvidas também quanto à política higienista de incentivar as pessoas a se contaminarem; de divulgar o uso de remédios não recomendados pela Ciência; de atrasar a compra de vacinas. Dos mais de 700 mil mortos pela Covid, mais de 300 mil mortes teriam sido evitadas se não fosse ele o presidente.
Em abril de 2020, em plena pandemia de Covid-19, e sob o olhar que pareceu complacente dos 3 Poderes, do governo do DF, responsável pela segurança na Esplanada dos Ministérios; de parte da imprensa corporativa, instalou-se, em frente ao Congresso Nacional, "Os 300 do Brasil", grupo paramilitar, defensor das políticas de Bolsonaro.
O objetivo do grupo, chamado pela imprensa de “Guarda Pretoriana de Bolsonaro” na Esplanada, era uma claríssima tentativa de preparar um golpe militar, nos moldes do promovido pelos neonazis da Praça Maidan, em Kiev, capitaneado por mais de 20 grupos nazistas, inclusive o Azov, aquele que organizou o genocídio de mais de 14 mil russos, pró-russos ou de língua russa na região do Donbass.
Dizendo-se treinada na Ucrânia e com um grupo disposto a “ucranizar o Brasil”, chefiava o grupo Sara Fernanda Giromini, que adotou o codinome Sara Winter para homenagear uma inglesa que se tornou espiã nazista e viveu de 1870 a 1944
Conforme registra o UOL, “em um dos atos, os manifestantes usavam tochas e máscaras em frente ao prédio do STF”, no melhor estilo Ku Klux Klan.
Em 2019, fora nomeada coordenadora nacional de políticas à maternidade do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sob a gestão da então ministra Damares Alves, na casa de quem chegou a morar, segundo matéria do Correio Braziliense, e mantinha, segundo a toda a imprensa, estreita relação com parlamentares como Alê Silva, Aline Sleutjes, Bia Kicis, Carla Zambelli, Caroline De Toni, Daniel Silveira, General Girão, Junio Amaral e com o senador Arolde de Oliveira.
Em 2022, os acampamentos em frente aos quartéis, uma reedição dos 300 e dos neonazistas da Praça Maidan, foram criados, sustentados, mantidos com o incentivo e a conivência do Palácio do Planalto, velada ou abertamente.
Em 2 novembro de 2022, em São Miguel do Oeste/Santa Catarina – o Estado com maior número de células nazistas - golpistas se reuniram diante do quartel do Exército, solicitando intervenção militar para impedir que Lula da Silva tomasse posse na Presidência da República.
Aos gritos de “Deus, Pátria e Família”, o gesto nazista sieg heil, tão comum nas manifestações de apoio a Bolsonaro, foi feito pelos manifestantes, que cantavam o hino nacional.
Vereadora da cidade, Maria Tereza Capra, do Partido dos Trabalhadores, manifestou-se cobrando providências das autoridades locais sobre o acontecido. O Ministério Público catarinense concluiu que nada havia para ser investigado e que o gesto era uma prática comum na comunidade(!?!?)
Assim que a denúncia da vereadora começou a ser divulgada, ela e sua família passaram a ser vítimas de diuturna e feroz perseguição, que desaguou na cassação de seu mandato em 3 de fevereiro de 2023, por quebra de decoro parlamentar.
É estarrecedora a desenvoltura com que Bolsonaro et caterva demonstraram sua ideologia e suas intenções golpistas esse tempo todo, sem que fossem molestados com o rigor da lei, antes dos acontecimentos de 8 de janeiro.
Não por acaso, o diligente Gabinete do Ódio, que funcionava no Palácio do Planalto, durante seu governo, guardava todas as semelhanças da propaganda nazista, com sua estratégia de inventar, divulgar e repetir mentiras.Não foi apenas o 8 de janeiro - A barbárie de 8 de janeiro de 2023 foi o ápice de uma intensa jornada de propaganda e de práticas neonazistas, assim como de ataques à democracia, que deveriam incluir, ainda, o assassinato de Lula, Alckmin e de Alexandre de Moraes
Os exemplos são tantos que não cabe aqui citar todos, mas vale lembrar que, mesmo com todos os ataques, essa gente está sendo julgada apenas pelo 8 de janeiro de 2023!
Mas cabe dizer como são revoltantes a leniência, a complacência de autoridades constituídas e instituições “Em pleno funcionamento”, da maioria do parlamento e da maior parte da imprensa corporativa com a prática, a retórica, os gestos, os lemas neonazistas na História recente do Brasil!
Por que até agora não há uma denúncia do ressurgimento, do incremento e do crescimento do nazismo no Brasil?
A questão sequer foi tema de qualquer programa eleitoral de 2018 e de 2022. Não foram mostradas as semelhanças que entre o candidato e Hitler não eram meras coincidências!
Por que os militantes desse ódio não foram, desde o início de sua jornada, punidos na forma da lei?
Por que Bolsonaro não foi punido pela homenagem a um torturador?
Tendo em vista o lema e a retórica nazista, por que sua candidatura não foi cassada?
Por que todo o mundo que deveria denunciar, punir, repudiar faltou a essa aula de História e, por isso não reconheceu ou denunciou o lema e a prática protonazifascista de Bolsonazi e aliados?
Então, como afirma a professora Anete Maia, saímos de uma falsa abolição da escravidão no século XIX, o que garantiu um leque de usurpações aos descendentes dos negros escravizados no Século XX. Agora, no Século XXI, teremos que suportar o comando do País por protonazifascistas?
A sanha colonialista ocidental, que submete gente considerada inferior, ainda inspira gente daqui? O que dizer desses compatriotas sem espelho?
Que não passam de traidores da pátria, de racistas supremacistas? Que serão alvos futuros da Justiça? Que a História lhes reservará sua (alardeada e desconhecida) lata de lixo?
E o que estamos fazendo hoje para que sejam condenados e tragados por um container de dejetos?
Não existe futuro promissor com uma atualidade conivente, preguiçosa, pouco investida em fazer com que nossa gente se veja e se perceba sendo enroscada em mais exploração, subjugação e morte, por meio da palavra de cristãos hiperliberais a serviço de um capitalismo sem controle.
Cordão sanitário contra a ultradireita - Em vez de política higienista, é preciso para ontem, imediatamente, criar um cordão sanitário, como defende a deputada Heidi Reichinnek, da Alemanha, contra a ultradireita no Brasil. E esse cordão sanitário se constrói com informação, com esclarecimento, com educação e arte. Material não falta! Que se exibam nas praças, nas televisões - concessões públicas! -, nos cinemas, nas escolas, para professora/es e alunos/as e nas igrejas, filmes como “O Filme Perdido de Nuremberg”. Existem vários filmes com esse conteúdo, exibidos on line gratuitamente.
Que se exibam esses filmes nas rodoviárias das cidades! Que sejam distribuídos pequenos panfletos nos locais de concentração de público, explicando e denunciando o nazifacismo e denunciando os nazistas daqui, da Argentina, de todo o mundo! Chega de preguiça, chega de tolerância com o intolerável!
E é o povo que tratará de identificar as coincidências entre Hitler e Bolsonaro. O povo perceberá que Israel, hoje, repete contra os palestinos o que fizeram com o povo judeu. É o povo que, finalmente, perceberá que, sendo não branco, é a vítima preferencial dos nazistas!
Autor desconhecido já teria dito: “se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas numa mesa”. Chega de dormir com inimigos! O povo tem que ser ajudado a reconhecê-los.
Bolsonaro e apoiadores não são ‘povão’, não são ‘largadões’, não são “sincerões”; não são apenas grosseiros e mal-educados, sem compostura. Eles são coisa já registrada pela História: protonazifascistas! É preciso não ter medo das palavras; a palavra ‘cachorro’ não morde.
Se o golpe tivesse se concretizado, já estaríamos, hoje, chorando nossos desaparecidos, nossos torturados e mortos!
Espalhemos, pelo Brasil, nosso repúdio ao nazismo; nossa inconformidade diante dessa ideologia assassina e nosso apoio às suas vítimas de ontem, de hoje e de sempre!
Anistia para essa gente? NUNCA!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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