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    Chico Alencar

    Professor, escritor e ex-deputado federal pelo PT e pelo PSOL

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    Breve reflexão para cristãos ou não

    Assunção de Maria. E de Margarida, e de Marielle, e de Mãe Bernadete…

    Mãe Bernadete (Foto: Reprodução/Instagram)

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    Neste domingo, na liturgia católica, é celebrada a Assunção de Nossa Senhora: sua elevação, sua glorificação, sua eternização, vencendo as amarras do tempo, superadas todas as fragilidades. Quem não tem essa aspiração?

    O Evangelho de Lucas (1, 39-56) é arrebatador! A jovem Maria caminha seis dias, da planície da Galileia às montanhas da Judeia, apressada para ver sua prima, Isabel, idosa e… grávida!

    No encontro das duas, a saudação linda de Isabel: “Salve, Maria, você é bendita entre as mulheres, e é bendito é o fruto do seu ventre!”.

    E Maria, então, entoa o cântico revolucionário. Louva um Deus que faz maravilhas, que “dispersa os soberbos, derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, sacia os famintos de bens e despede os fartos de mãos vazias”.

    Belo o encontro de Maria e Isabel, gestando Jesus e João. Mães que viveram a dor extrema de perder seus filhos, torturados e mortos pelo poder político e religioso do Império.

    Isabel e Maria, abençoadas, precursoras, na sociedade patriarcal, da afirmação das mulheres em sua dignidade. Caminhantes na dor e no amor. Ascendendo do mais doloroso sofrimento à plena libertação.

    Maria que é Margarida Alves, Maria também, líder camponesa assassinada há 40 anos, que ressurge em milhares de margaridas, colorindo a secura do Planalto Central do Brasil.

    Maria que é Marielle, executada covardemente há 5 anos, com Anderson. Homicídio político com mandantes ainda desconhecidos. Jovens corpos destruídos que viraram semente de luta e emancipação, contra a inominável brutalidade.

    Maria das Dores que é Mãe Bernadete Pacífico, quilombola, ialorixá, lutadora aguerrida e da paz, morta com 12 tiros no rosto há 3 dias, em sua própria casa, ao lado de seus três netos!

    Crime hediondo que não pode ficar impune, como o que levou seu filho Binho, também quilombola, assassinado há 6 anos.

    Celebremos, em Maria, a saga de tantas Marias que, ao longo dos séculos, entre lágrimas e alegrias, resistem à barbárie machista, à opressão racista, à dominação sexista.

    Elas proclamam a grandeza da vida, de geração em geração! O Deus do Amor, e todos os orixás, e todas as generosas energias as protegerão – e à sua descendência de coragem, para sempre!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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