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    Pedro Desidério Checchetto

    Psicologo Clínico, Pesquisador em Psicologia Social e Professor Universitário. Doutorando em Psicologia Social pela PUCSP/URV - Espanha

    8 artigos

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    Breves relatos de uma experiência com a juventude catalã

    O intercâmbio tem como foco trocar experiências e saberes sobre o modo de vida e as necessidades da população juvenil brasileira e espanhola

    (Foto: REUTERS/Enrique Calvo)

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    Desde setembro de 2023 tive a oportunidade de vir para a Espanha para realizar uma parte de minha pesquisa de doutorado na região da Catalunha, mais especificamente entre as cidades de Barcelona e Tarragona. O intercâmbio tem como foco trocar experiências e saberes sobre o modo de vida e as necessidades da população juvenil brasileira e espanhola. Em torno do “Máster interuniversitário em Juventud y Sociedad”, curso organizado por todas as universidades públicas da região, se concentra um Observatório sobre a Juventude Catalã, que reúne dados e  pesquisas com colaboração das universidades, centros de investigação, fundações e entidades do terceiro setor para dar subsídios para a elaboração das políticas públicas direcionadas para essa população.

    Em trabalho divulgado no final do ano 2022 pelo Observatório, foi constatada forte correlação entre a precariedade do mercado de trabalho e o consequente impacto na saúde mental, associado ao aumento de níveis de ansiedade, depressão,  uso de risco de álcool e outras drogas, além do sentimento de culpa, fracasso, frustração e desconfiança quanto às próprias capacidades de controlar o seu futuro. Segundo a amostragem, o grupo mais vulnerável é o de mulheres imigrantes entre 25 e 35 anos com filhos. Os jovens que possuem renda familiar de até 22 mil euros por ano sofrem mais os efeitos da exposição à insegurança econômica, pois envolve riscos sociais como insegurança relativa à habitação, alimentação e saúde. O respaldo financeiro familiar, embora seja tomado como algo desconfortável pelo jovem que majoritariamente deseja a independência e a emancipação financeira, possui efeitos de diminuir os impactos na saúde mental e sensação de insegurança dos mesmos. 

    A questão dos baixos salários e da descontinuidade no emprego estão muito presentes na Espanha pós-crise de 2008. Ao todo, 36% dos jovens Catalães se declaram muito ansiosos ou deprimidos. A dinâmica neoliberal de responsabilização e individualização dos problemas, aliada a precariedade do trabalho nitidamente permeia a dimensão subjetiva dos jovens, numa tendência a internalizar e individualizar a culpa pelos próprios fracassos, revelam a pesquisa. 

    No Brasil, alguns órgãos como o Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE) e o Atlas da Juventude publicaram relatórios entre 2021-2022 centrando informações sobre o impacto da pandemia para a população juvenil. Foi identificado aumento da interrupção dos estudos e se constatou maior insegurança associada a sentimentos negativos e comportamentos como ansiedade, cansaço físico, insônia, distúrbios de peso e uso excessivo das redes sociais. Embora o trabalho direcionado aos cuidados da saúde mental tenha aumentado nesse período e ganhando tons hiper-individualizantes, convocamos a reflexão sobre se mecanismos de políticas públicas não poderiam intervir de maneira mais efetiva nesse sentido. A ministra Yolanda Díaz, do PP (Partido Popular) tem gerado acaloradas discussões no parlamento e na sociedade espanhola por sua proposta de “Herança Universal” a qual direciona o financiamento de 20 mil euros para jovens que completem 18 anos com a finalidade de estudos e empreendimento a partir de um novo imposto sobre as grandes fortunas do país. O desdobramento dessa medida pode fomentar também no Brasil saídas políticas que visem mitigar a imensa desigualdade entre as condições juvenis brasileiras.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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