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    Rubinho Giaquinto

    Ex-covereador da ColetivA-BH, guitarrista, escritor e professor. Graduado em Licenciatura Educação Musical (UEMG). Foi assessor da Coordenadoria para Assuntos da Comunidade Negra da Secretaria Municipal de Direitos de Cidadania de Belo Horizonte. Coordenou o “Movimento dos Sem Palco”, articulando artistas do Hip-hop, rock, literatura e samba da periferia de Belo Horizonte. Coordenador dos Fóruns Pró-Trabalho na questão racial, pessoas com Deficiência e Juventude do Ministério do Trabalho.

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    Bugigangas

    "Ele sempre sonhou em ser um artista famoso. Ela sempre sonhou em ser uma grande cientista e professora"

    (Foto: Shutterstock)

    O pau quebrou naquele apartamento minúsculo de 27m². Ficava num bairro conceituado de classe média. Era tudo que os dois tinham. Ela sempre o acusava de ser preguiçoso por não ter tido uma vida mais próspera como irmãos de ambos. Só eu trabalho duro nessa casa. Só eu coloco comida na mesa.

    Eles eram os “primos” pobres da família. Casaram-se ainda jovens. Ela, uma moça muito bonita de uma família muito rica. Muito disciplinada. Tocava piano. Viajava todo ano para passar as férias na Europa. Falava inglês, francês, espanhol e arranhava um alemão. Amava psicanálise.

    Ela o conheceu numa calourada das ciências humanas. Ele tocava violão muito bem. Ele também vinha de uma família de posses. Só que faliram. Sua família tinha uma rede de escolas de datilografia nos anos 70 e 80. Com a chegada do computador e da internet, veio a derrocada da sua família. Seu pai ajudou a acabar com a fortuna apostando em corridas de cavalos e farras intermináveis.

    Ele sempre sonhou em ser um artista famoso. Ela sempre sonhou em ser uma grande cientista e professora.

    Os problemas ficaram piores com o envelhecimento dos dois. Eles não viajavam. Não tinham plano de saúde. Não participavam de vernissage e nem comiam fora.

    Ela, cada vez mais “brigona” com ele, dizia:

    - Você é um lixo. Nunca trabalhou. Só ficou escrevendo bobagens a vida toda e amontoando bugigangas. Olha a vida que nós levamos? Toca esse violão o dia inteiro. O que você ganha com esses seus textos? Não dá para fazer a feira do mês. Já deu pra mim. Vou morar com a minha irmã riquíssima.

    Bateu a porta e foi embora. Ele adoeceu. Entrou em depressão. Começou a fazer terapia de grupo no posto de saúde perto da sua casa. Contou que se sentia um “lixo”. Não tinha dinheiro. Que só tinha um amontoado de bugigangas. Ele melhorou. Fez amizades. Começou a sorrir.

    Um dia de muita chuva e um trânsito infernal, ela foi atropelada por um carro em alta velocidade em uma avenida muito movimentada e arremessada muitos metros à frente. Por sorte, caiu em cima de um amontoado de bugigangas de um morador em situação de rua que lhe salvou a vida. Saiu sem um arranhão. Foi acordada no meio das bugigangas no velho apartamento de 27m², com todo aquele amontoado de bugigangas.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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