Capitalismo predatório, Estado de emergência e redução de danos
Preparemo-nos para o pior!
Em entrevista ao UOL, no dia 6 de maio, acerca da catástrofe que se abate continuamente sobre o estado do Rio Grande do Sul, o renomado meteorologista brasileiro Carlos Nobre afirmou que 3 milhões de brasileiros que moram atualmente em áreas de altíssimo risco, e outros 10 milhões que residem em áreas de alto risco, precisam ser deslocados, num intervalo de tempo de não mais de uma década, para locais distantes de áreas sujeitas a deslizamentos de encostas, inundações e enxurradas.
Um esforço dessa magnitude implicaria a construção de algo em torno de 1 milhão de residências, para as populações que vivem em áreas de altíssimo risco, e 3,5 milhões de casas, para aquelas que habitam em áreas de alto risco, em todo o território nacional.
Lamento afirmar que o Estado brasileiro muito dificilmente conseguirá realizar uma tarefa de tamanha envergadura, no médio prazo, pelo simples fato de que este se encontra umbilicalmente vinculado, em termos estruturais, a um capitalismo predatório diretamente responsável por ter jogado a imensa maioria desses 13 milhões de brasileiros e brasileiras nessas áreas de alto e altíssimo risco – trabalhadores e trabalhadoras pobres, forçados à busca por moradia em áreas não recomendáveis, digamos assim.
Arrisco-me a dizer que, pelo contrário, em função da acelerada expansão da emergência climática, o número de famílias a viver em áreas de alto e altíssimo risco só fará crescer, no curto e médio prazo, porque tais áreas se expandirão, como o próprio exemplo atual do Rio Grande do Sul demonstra cabalmente, incorporando à tragédia setores da classe média.
Disso resultará que teremos que nos acostumar a situações catastróficas extremas, que se abaterão em particular, quando não exclusivamente, sobre os mais pobres, tendo a administrar a sua cronicidade um Estado de emergência (um Estado capitalista que passará a ter seu metabolismo atravessado pela necessidade de enfrentamento superficial de situações emergenciais, a exemplo da pandemia da covid-19, sem nunca ir à raiz dos problemas que as determinaram) que, no seu limite, a depender da existência de governantes situados no campo democrático, implementará políticas de redução de danos suficientes, talvez, para minorar o sofrimento dos que perderão vidas e bens, com o apoio solidário da sociedade civil, mas absolutamente incapazes de interromper os elementos que se encontram nas suas origens.
Preparemo-nos para o pior!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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