Cárcere em rede
O mundo conectado em rede é uma gaiola dourada. Estamos em uma gaiola dourada, mas uma gaiola dourada, continua a ser uma gaiola. Continua a ser uma prisão
Parte 1 - Sobre as Redes Sociais
Sabe quando você ouve alguém dizendo (ou algumas vezes nós próprios dizemos), por exemplo:
“Segue o meu canal no YouTube!”
“Segue a minha página no Facebook!”
“Entra no meu grupo do WhatsApp!”
“Segue a minha conta no X!”
“Segue o meu Perfil no Instagram!”
É tudo mentira! O canal não nos pertence, a página não nos pertence, o grupo não é nosso, a conta não nos pertence, o perfil não é nosso. Nós somos apenas funcionários não-remunerados ou mal-remunerados destas redes.
Entretanto, você pode dizer que esses ou aqueles ganham milhões com monetização, mas eu lhe digo, esses ou aqueles continuam a ser mal-remunerados, pois recebem uma parte ínfima do que estas redes ganham com o trabalho deles.
O que estou lhe dizendo é que todos que estão nas redes são:
- Trabalhadores precarizados, pois não têm quaisquer vínculos empregatícios.
- Ou trabalhadores mal-remunerados.
- Ou trabalhadores não-remunerados.
Até os que não geram conteúdo, são também trabalhadores não-remunerados, pois dão like, comentam e compartilham o conteúdo postado, ou seja, fazem o trabalho gratuito de divulgação.
Podemos assim constatar que a Precarização do Trabalho e a Mais-Valia ganharam uma nova face nas Redes Sociais.
Além disso, podemos constatar que um novo tipo de Escravismo também surgiu, pois o vício de dopamina provocado pelos contínuos e duradouros acessos, nos mantém aprisionados no mundo virtual das Redes Sociais sem possibilidade de fuga e inclusive nos mantém constantemente trabalhando para os seus donos. Mais adiante irei aprofundar um pouco mais sobre este vício.
É também importante mencionar que nossas ações nas redes estão totalmente sob controle do algoritmo que as gere. Suas ações nas redes, sejam elas quais forem, tem o alcance que o algoritmo permite. E quando o seu posicionamento não atende mais a linha estabelecida por ele, então você está fora, banido, cancelado.
Parte 2- Sobre os Serviços disponíveis na Internet
Além disso, é obvio que “privacidade” se tornou uma palavra arcaica, pois na Internet estamos totalmente controlados.
O Google sabe o que pesquisamos. O Google Maps sabe por onde andamos. O YouTube sabe quais lives assistimos.
O Facebook e o Instagram conhecem nossas preferências de assuntos. O WhatsApp sabe com quem conversamos e quais os nossos assuntos preferidos.
O X conhece as nossas preferências políticas.
O TikTok sabe quais tipos de vídeos assistimos.
E expandindo um pouco mais isso, pois tudo está atualmente interligado pela Internet, podemos dizer que:
- Nossos cartões de crédito e de débito sabem o que compramos e onde compramos.
- Os nossos tickets, refeição e alimentação, sabem onde almoçamos e em qual mercado compramos a nossa comida.
- Nosso vale-transporte sabe quais meios de transporte nós utilizamos e em quais horários os utilizamos.
- O Uber sabe para onde costumamos ir e quando costumamos nos deslocar.
- O Netflix conhece as nossas preferências de filmes, de séries e de documentários.
- O Spotify conhece os nossos gostos musicais.
Ou seja, estamos totalmente escaneados pelos serviços que utilizamos na internet.
Parte 3- Sobre o Marketing e a Propaganda na Internet
E isso vai muito além, pois devido às Redes Sociais conhecerem nossos gostos, então não tardou até termos sido enclausurados dentro de bolhas onde acessamos assuntos de acordo com nossas preferências. Essas bolhas são verdadeiras prisões. Nas quais entramos e não mais escapamos, pois nem sabemos que nelas estamos. Tudo que nos oferecem nas Redes Sociais é baseado no monitoramento que estas redes fazem sobre nós. As Redes Sociais conhecem os nossos desejos, os nossos anseios e baseadas nisso, nos oferecem os produtos que mais nos interessam.
Estamos aprisionados em “Paraísos Artificiais” digitais, virtuais e deles não conseguimos mais escapar. E neste caso, não é do haxixe, do ópio e do vinho que estamos dependentes, como descrito anteriormente na famosa e brilhante obra de Charles Baudelaire. A droga agora é outra, é a dopamina, a qual é produzida pelo nosso próprio organismo. E sabedores do potencial dela causar extrema dependência, as Redes Sociais estimulam o nosso organismo a produzir cada vez mais doses elevadíssimas desta substância. Ou seja, cada vez precisamos de doses mais elevadas deste neurotransmissor, também conhecido como sendo um dos Hormônios da Felicidade. Foi assim que adictos digitais e virtuais nos tornamos. Como diz a canção do Barão Vermelho: “Mais uma dose? É claro que eu estou a fim”. E como Hedonistas Contemporâneos, mais e mais doses tomamos.
Como estamos enclausurados nestes “Paraísos Artificiais”, isso facilita sermos alvos do marketing de produtos, serviços e de propaganda política personalizada, já que nossas preferências são conhecidas e exploradas para expropriar o nosso dinheiro, o nosso pensamento e o nosso coração.
Todo o planeta está conectado em rede. Nós somos marionetes controlados por fios em bolhas digitais e virtuais. Cremos estar em um mundo de liberdade plena e de prazer eterno. Nestas bolhas são oferecidos produtos, serviços e ideologias que nos agradam, que nos dão prazer, pois não existe o contraditório nas bolhas. Estamos em uma prisão fazendo as escolhas que querem que façamos e não conseguimos perceber isso, pois sofremos uma manipulação pesada a partir de nossas preferências.
Parte 4- Sobre a IA (Inteligência Artificial)
Agora para aprofundar ainda mais o problema, apareceu na Internet um desenvolvimento tecnológico que é um divisor de águas no mundo do trabalho: a Inteligência Artificial. Este novo desenvolvimento tecnológico tem mostrado que não é mais necessário manter tantas pessoas trabalhando, já que a “automação” digital e virtual chegou em um nível, onde é possível substituir também o trabalho intelectual.
O Fordismo e o Toyotismo feriram de morte boa parte do trabalho braçal. Motivo pelo qual, nunca mais veremos aquelas antigas e imensas mobilizações sindicais do Grande ABC de São Paulo. E agora veio a IA, a qual já está substituindo muitos trabalhos intelectuais e criativos.
Então o Mercado pensa assim: “Não vale mais apena lançarmos mão da Mais-Valia e da Precarização do trabalho. Agora vamos partir para a Eliminação do Trabalho, pois afinal, para que precisamos de tanta gente?! Vamos reduzir ao mínimo os postos de trabalho e assim maximizar os nossos lucros!”
Entretanto, as coisas continuarão sendo feitas através do mesmo modus operandi caótico de produção:
- Os recursos naturais continuarão a ser consumidos desenfreadamente.
- As empresas continuarão poluindo extremamente.
Só que agora, sem mais a necessidade de tantos funcionários para manter a máquina de lucros exorbitantes funcionando.
Parte 5 - Conclusão
O mundo conectado em rede é uma gaiola dourada. Estamos em uma gaiola dourada, mas uma gaiola dourada, continua a ser uma gaiola. Continua a ser uma prisão.
Os passarinhos, nós, cantamos como se estivéssemos no galho de uma árvore, respirando o ar puro da liberdade, mas este ar em realidade é poluído com ilusão. Cárcere. Prisão.
Para piorar ainda mais, estão tentando nos transferir, por meio de propagandas enganosas, a responsabilidade do caos que está sendo gerado pelo consumo desenfreado dos recursos naturais, como se nós, a população, fossemos os maiores responsáveis pela degradação do planeta. E quem diz que somos, ou está enganado, ou enganando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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