Carta aberta ao ministro Silvio Almeida
Todos entendemos que a insanidade é do governo israelense, isso é óbvio e ululante, senhor ministro. E o senhor?
Senhor ministro,
Como velho militante pelos direitos humanos (depois de mais de 60 anos de luta, tenho o direito de dizer isso), tendo sido “hospede” do famigerado Brilhante Ustra em sua Sucursal do Inferno como eles chamavam o DOI-CODI-SP, mais tarde fundador do primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia no Rio de Janeiro, além de pesquisador da anistia no Brasil e no mundo, sinto-me no dever de dirigir-me ao senhor em face de sua desastrada declaração sobre o massacre perpetrado contra o povo palestino pelo Estado Terrorista de Israel.
Em primeiro lugar, senhor ministro, o senhor não age como homem que coloca sua dignidade acima da posição que ocupa. O senhor procura esconder-se atrás da posição de ministro e das declarações do presidente Lula para não revelar as suas próprias. Seja claro, diga o que pensa. Se o senhor defende o massacre palestino pelo “direito à autodefesa” de Israel, porque não o diz?
O senhor diz que o presidente Lula já deixou clara a necessidade de um cessar-fogo imediato para pôr fim à “insanidade” contra as crianças. E o senhor, o que pensa? Todos entendemos que a insanidade é do governo israelense, isso é óbvio e ululante, senhor ministro. E o senhor?
O senhor está ocupando um cargo para o qual, pela sua nota, revela não estar capacitado. Ora, o senhor alega: “não posso ser bravateiro e irresponsável e me manifestar sobre tema tão delicado e que sequer é de minha competência funcional...” Claro que é de sua competência, senhor ministro. Quando verdadeiramente se defende os direitos humanos, não importa se ele é do branco, do amarelo ou do negro; não importa se ele é do sul, do norte, do leste ou do oeste; não importa se ele é africano, europeu, brasileiro, árabe ou israelense: importa apenas, senhor ministro, se ele é ser humano! Se é ser humano merece nossa solidariedade e apoio não importa nem mesmo o eventual delito que tenha cometido. E essa é a função do ministro dos direitos humanos do governo que nós ajudamos a construir a partir da derrocada dos que queriam reerguer a dinastia dos Ustra!
Será, senhor ministro, que é uma bravata se indignar quando a cada 10 minutos uma criança palestina é assassinada?
Será irresponsável perguntar quem é terrorista quando se usa fósforo branco para bombardear um povo: o que bombardeia ou o que é vítima da arma proibida que arde até os ossos?
Vamos repudiar com firmeza o terror israelense, ou vamos esperar que primeiro que eles joguem uma bomba atômica em Gaza, como ministros de Netanyahu cogitam? Então não será tarde demais?
O senhor diz pela boca dos outros que condena veementemente os atos terroristas do Hamas! Eu lhe pergunto se é que o senhor estudou história: o senhor conhece algum povo que mereça este nome, ao longo da história, que não fez todo o possível, inclusive praticou atos de terror para defender sua existência? O direito de resistência, senhor ministro, é um direito natural, tão natural quanto o direito à vida. O povo palestino tem o direito de resistir à ocupação de suas terras, à opressão dia e noite ao longo de décadas. Por certo que na resistência há excessos. Mas os excessos, sim, são naturais. O que não é natural é um Estado adotar o terror como norma de Estado. Vá o senhor viver na Palestina e escolha: resistir, ou viver como um rato!
Israel, senhor ainda ministro, não apenas “viola” as leis humanitárias internacionais. Israel tem se constituído como um Estado Colonial e Terrorista e Genocida! E a diplomacia brasileira, mais cedo do que o senhor pensa, e apesar do senhor, reconhecerá isso.
Não confunda, senhor ministro, as habilidades da diplomacia com a dignidade dos princípios: os direitos humanos são universais!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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