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    Givanildo-Giva M. da Silva

    Educador, Indígena do contexto urbano, articulador da 1ª Conferência livre popular nacional de indigena do contexto urbano, idealizador da Tv Imbaú, organizador do livro Desmilitarização da Polícia e da Política: uma resposta que virá das ruas.

    7 artigos

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    Carta da Parahyba

    Leia a manifestação do 1° Encontro e 1ª Conferência Livre Popular de indígenas do contexto urbanizado

    (Foto: Divulgação)

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    A Conferência Livre e Popular de Indígenas do contexto urbano, tem trazido uma questão nova , que é o debate sobre indígenas que vivem nos contextos urbanizados, desde que as cidades invadiram as aldeias e tem assumido corpo o debate, em movimentos, sindicatos , partidos, nos coletivos territoriais e identitários, nos últimos dias do mês de abril e primeiro dia de maio, um grupo de indígenas do contexto urbanizado da Parahyba, se reuniram em Pitimbu-PB,  para debater a situação dos indígenas no estado e em todo território de Pindorama,que sintetizou em uma carta as suas reflexões sobre o momento e apontou alguns caminhos a seguir, que publico em minha coluna.


    Carta da Parahyba  

    “Estamos apreensivos, para além de nossa própria vida, com a da terra inteira, que corre risco de entrar em caos. Os brancos não temem, como nós, ser esmagados pela queda do céu. Mas um dia talvez tenham tanto medo disso quanto nós!” Davi Kopenawa  

    Reunidos durante 4 dias, em Pitimbu, Parahyba, no 1o Encontro e 1a Conferência Livre Popular de indígenas do contexto urbanizado, ao analisar a conjuntura em que nos encontramos, que tem exigido de todes um enorme esforço para compreender a gravidade em que se encontra o planeta e consequentemente a vida, a irracionalidade é a grande marca que podemos compreender dessa cultura da destruição e autodestruição, que foi se impondo e consolidando, a partir da invasão do território de Abya Yala e Pindorama, que teve no controle e violação dos corpos, uma de suas marcas; a escravização, estupros, genocidio, epistemicídio, eugenia, políticas assimilacionistas, ecocídio e etnocídio foram algumas das ações desses 523 anos, que provocou processos diaspóricos dos diversos povos do território de Pindorama.  

    Não é redundante constatar que essa cultura, impôs nas relações humanas, uma forma de ser, misógina, machista, racista, lgtbfóbica, aporofóbica, que vai deixando permanentes pegadas de sofrimento às pessoas que são racializadas, indígenas, negras,negros,mulheres, quilombolas, LGBTQIA+, dentre outres, que não se encaixam dentro da sua lógica de mundo.  

    Violências, violências e mais violências. Tem sido essa forma adotada, por aqueles que advogam em favor de um mundo construído à partir dos seus interesses e visão próprias, que é o mundo em que não existe o outro e sim uma única visão, como nos lembra Davi Kopenawa: ”Os brancos não sonham tão longe como nós. Dormem muito, mas só sonham com eles mesmos.”, essa visão unilateral, rompe a relação com os outros seres vivos e o ser vivo mais importante, o planeta, que é a nossa sagrada casa. Não é irrelevante constatar que esse olhar unilateral provocou profundas feridas em nossa morada, ação humana hoje conhecida e denominada como Antropoceno e o capitalismoceno, onde o fruto dessa ação, tem mudado as possibilidades da existência de todas as vidas do planeta.  

    O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, nos alerta que estamos vivendo uma emergência e que à partir de 2030, muitos dos fenômenos climáticos que ocorrem hoje esporadicamente, se tornarão permanentes e afetarão milhões de seres vivos pelo planeta, comprometendo em definitivo a vida. Porém, os setores mais vulneráveis(as e os pobres) , sofrerão mais rápidos tais efeitos.  

    É nesse cenário devastador, que entendemos que a relação dos povos indígenas com a natureza, é elemento fundamental na mudança que necessitamos fazer para, literalmente, adiar o fim do mundo, a urgência em repactuar a relação ser humano com a natureza e os outros seres vivos, mudando a lógica de reprodução da vida humana no planeta, que permitirá frear esse processo de autodestruição da vida.  

    Por isso é imprescindível, a demarcação de todos os territórios indígenas, colocar imediatamente na ilegalidade, os 1.692 casos de sobreposição de fazendas em territórios delimitados pela FUNAI, que representa 1,18 milhões de hectares, o que agrava e degrada a situação ambiental e a vida dos povos desses territórios.  

    Em particular, o caso dos Tabajaras e Potiguaras da Paraíba, exige uma rápida resposta, pois a demora na homologação dos seus territórios, permite o agravamento ambiental e ficam reféns da especulação imobiliária e de grandes empreendimentos turísticos, sem nenhuma responsabilidade ambiental.  

    Apoiamos todas as retomadas dos territórios ancestrais, das e dos parentes, repudiamos o Marco Temporal, defendemos toda ação que leve a democratização da distribuição da terra, que tem no MST o seu maior expoente, entendemos que lutar por igualdade, não pode ser crime, queremos saudar a Teia dos Povos, enquanto espaço fundamental de articulação, reflexão e ação dos povos que lutam pela terra.

    É urgente que as autoridades se engagem de fato na defesa ambiental, casos de degradação ambiental nos litorais sul e norte do estado da Parahyba, são alarmantes, um pequeno exemplo é da barreira da praia dos Mariscos, que teve as suas matas violadas, causando erosão e colocando em risco de morte dezenas de pessoas e de outras vidas daquele local .  

    Diante desse quadro, convocamos a unidade dos povos indígenas da Parahyba, os movimentos populares, os sindicatos , os partidos comprometidos com a causa ambiental, a realizar a 1a Conferência Popular do Clima na Parahyba, para debater e propor ações no sentido de conter o processo destrutivo em curso e garantir uma possibilidade de futuro para a atual e as gerações vindouras

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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