Ceitec: A retomada da ousadia
O Brasil precisa instalar um polo de produção de chips com escala adequada para ocupar parte do mercado nacional e da América Latina
Em 9 de abril de 1941, Getúlio Vargas assinou o decreto de criação da Companhia Siderúrgica Nacional. A CSN foi a primeira produtora de aço plano no Brasil, o que viabilizou a implantação da indústria nacional. Getúlio teve a audácia estratégica para aproveitar o momento histórico.
A partir daí o Brasil organizou instituições de ensino, pesquisa e uma infraestrutura que permitiram um parque industrial potente, capaz de abastecer, em grande medida, a sociedade brasileira em rápida urbanização.
A CEITEC - Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada – é parte deste esforço. Projetada como parte do Plano Nacional de Microeletrônica, a empresa pública inaugurada em 2008 no RS, se constitui até hoje na única da América Latina com capacidade de produzir solução completa em semicondutores. A fábrica resistiu à tentativa de liquidação pelo governo Bolsonaro e, agora, definitivamente, deixou para trás essa insensatez. Em 06 de novembro de 2023, o presidente Lula assinou um decreto para reverter o processo de dissolução. A CEITEC vai retomar sua operação enquanto o Brasil recupera sua posição mundial.
Para o país que já foi a 6ª economia do mundo, não há como renunciar à indústria de microeletrônica, hoje tão importante como foi a do aço plano há quase cem anos. É sobre o domínio desta atividade tecnológica, produtiva e comercial que se organiza a disputa geopolítica global.
O Brasil precisa instalar um polo de produção de chips com escala adequada para ocupar parte do mercado nacional e da América Latina, inclusive utilizando seu poder de compras governamentais (como outros países o fazem). Deve desenvolver ciência e tecnologia próprias, aprender, qualificar profissionais e constituir uma rede de suprimentos, estimulando parcerias com outros países. A CEITEC está preparada para ser este polo de produção brasileira.
Existem escolhas que definem por um longo período a história dos países. Esta é uma delas, olhando para o Brasil soberano, desenvolvido e justo que queremos construir, carregada de ousadia e confiança na capacidade do povo brasileiro.
Miguel Rossetto – deputado estadual (PT-RS), foi vice-governador do RS e ministro de Lula e Dilma
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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