Celso Amorim e a "confiança quebrada"
"O Brasil 'confia' em cada um dos integrantes do BRICS? A Venezuela seria mesmo um ponto fora da curva?", questiona Valter Pomar
Segundo Celso Amorim explicou, em entrevista ao Globo, o veto à entrada da Venezuela “não se trata de democracia, mas de confiança que foi quebrada”.
A declaração está aqui: https://oglobo.globo.com/google/amp/mundo/noticia/2024/10/24/com-a-venezuela-quebrou-se-a-confianca-diz-amorim-sobre-negativa-do-brasil-a-apoiar-entrada-do-pais-no-brics.ghtml
“Confiança quebrada”!
Semprei achei o oficio diplomático algo muito difícil. Mas para quem adota a “confiança” como critério, deve ser duríssimo.
Uma verdadeira montanha russa emocional.
Afinal, a esmagadora maioria dos Estados tem o hábito de colocar seus interesses acima de quaisquer outras considerações, inclusive das solenes declarações feitas na noite anterior.
Os Estados Unidos, por exemplo, vivem decepcionando quem tem “confiança” nas promessas deles. Vide o caso das negociações do Brasil com o Irã, a pedido de Obama.
Aliás, pergunta: o Brasil “confia” em cada um dos integrantes do BRICS? A Venezuela seria mesmo um ponto fora da curva?
Seja como for, o que um Estado deve fazer quando há uma “confiança que foi quebrada”?
Fazer uma “DR” e recomeçar outra vez?
“Dar um gelo”? Retaliar? Mostrar quem manda? Romper relações?
Mudar de continente (e de vizinhos)?
Ao colocar o problema nesses termos - “confiança quebrada” - somos levados a abordar uma questão de Estado de um ponto de vista muito louvável nas relações pessoais, mas pouco apropriado, digamos assim, à selva da política, especialmente, mas não só, da politica internacional.
Reconheço, entretanto, que a teoria da “confiança quebrada” ajuda a entender os acontecimentos dos últimos dias. Pois o fato de uma teoria ser errada, não impede que as pessoas acreditem e se orientem por elas.
Entretanto, mesmo deste ponto de vista, nossas relações com a Venezuela não começaram ontem. Assim, se é para falar de “confiança”, é bom lembrar de tudo que aconteceu em nossas relações bilaterais, especialmente desde 2016.
Quando se faz isso, é impossível desconhecer que, se existiu “quebra de confiança”, não foi unilateral.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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