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    Joaquim de Carvalho

    Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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    Chance de Boulos em São Paulo depende da nacionalização do debate. Ou seja: Lula x Bolsonaro

    Quem elogia Tarcísio são os mesmos que enalteciam Doria há 4 anos. Eles não têm densidade política, são o sonho de uma elite à procura de um outro Collor ou FHC

    Guilherme Boulos e Ricardo Nunes (Foto: Brasil 247/Wikimedia)

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    A eleição para presidente tem uma dinâmica muito diferente da eleição nos municípios, embora esta sirva para acumular força proporcional, ou seja, é bom para quem quer o poder no Congresso ou mesmo na Esplanada dos Ministérios.

    Nesse sentido, a força que emerge dessas eleições é o PSD de Gilberto Kassab, embora seja muito difícil que, um dia, esse partido venha a vencer uma eleição para o Planalto. 

    Seu papel é o mesmo do MDB, que sempre venceu as eleições municipais, mas nunca um pleito nacional. 

    O MDB teve dois presidentes, é fato, mas pela via indireta – um pelo golpe do destino, a morte de Tancredo Neves, que abriu oportunidade a Sarney, e outro pelo golpe político, a derrubada de Dilma Rousseff, que permitiu a Temer subir a rampa.

    A eleição para presidente conecta diretamente o povo a um ideal de soberano, que se imagina com força para resolver os graves problemas sociais do País. 

    É a mesma dinâmica da eleição em São Paulo (nesse ponto, é diferente da de outros municípios) e, por isso, a única chance que Guilherme Boulos tem de vencer Ricardo Nunes é nacionalizar radicalmente a eleição municipal. 

    A disputa tem que ser entre o projeto político de Bolsonaro – Tarcísio é seu poste – e o projeto político de Lula. Nunes, por sua vez, deve ser apresentado como o poste do poste.

    Com 11 milhões e meio de habitantes e o quinto maior orçamento do Brasil, São Paulo é uma cidade-estado e é por isso que, mais do que comporta, exige que o debate seja nacionalizado.

    Isso já aconteceu no passado, com a eleição de políticos como Paulo Maluf e Luiza Erundina, esta à esquerda, aquele à direita. 

    Erundina foi eleita depois que o Exército invadiu a CSN em Volta Redonda, e matou três operários, no governo Sarney. 

    Maluf foi um peixe fora d 'água no final da ditadura e, depois, no início da Nova República. 

    Se Boulos levar a campanha para o debate puramente administrativo, facilitará o trabalho de Ricardo Nunes.

    É preciso denunciar as contradições da cidade e mostrar ao povo por que um município tão rico como a capital paulista tem tanta gente miserável, excluída, que não consegue nem as migalhas que sobram da Faria Lima.

    Mais de 80 mil pessoas moram nas ruas, 80 mil estão em moradias precárias sem água encanada, mais de 300 mil não têm coleta de lixo, ônibus e trens em horários de pico transportam gente como se fossem sardinhas em latas.

    Há pessoas que ainda caminham quilômetros para chegar ao emprego, porque não têm dinheiro para a passagem, há mãe que deixa criança sozinha em casa ou com vizinho porque faltam creches, a cidade ainda convive com o trabalho infantil.

    Tarcísio de Freitas será apresentado como estadista, por patrocinar Ricardo Nunes, mas ele não é nada disso. Jamais ocuparia o espaço que foi de Collor e FHC, que não eram estadistas, mas tiveram popularidade, apesar de governarem para a direita.

    Militar do Exército, que serviu no Haiti, Tarcísio é um serviçal a quem a elite do dinheiro entrega o marreta, inclusive aquela que se usa nos processos de privatização, e faz o papel de Robin Hood às avessas, ajudando a concentrar renda.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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