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    Eric Nepomuceno

    Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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    Chegou a hora da China. E agora?

    Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia, analisa que a China, tão atacada pelo governo Bolsonaro, tem agora o poder sobre a vacinação no Brasil. "O Butantan precisa receber o insumo básico para poder continuar a fabricar a vacina que já começou a ser aplicada, a CoronaVac. E o governo chinês atua com lentidão preocupante"

    Instituto Butantan e CoronaVac (Foto: Marcos Santos/USP Imagens | Reuters)

    Por Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia

    Desde que ocupou a poltrona presidencial Jair Messias vem lançando críticas azedas contra a China, principal parceiro comercial do Brasil. Imitando seu ídolo Donald Trump, fez de tudo para criar um clima adverso entre os dois países.

    Foi rigorosamente seguido pelo mais delirante de seus filhos, o deputado Eduardo, e pelo ministro de Aberrações Exteriores, Ernesto Araújo. Que, aliás, também criou atritos com a Índia.

    Alguma hora a conta dessa ausência absoluta não só de responsabilidade, mas de um mínimo de sensibilidade, iria chegar.

    Será agora? E com um detalhe escabroso: não serão nem o Ogro que habita o palácio presidencial, nem a anta que ocupa a poeira do que restou do Itamaraty, que irão encarar a fatura. É alto o risco de que ela caia no colo dos 200 milhões de brasileiros.

    O general da ativa Eduardo Pazuello, instalado no ministério da Saúde, esgrime uma justificativa patética para a não chegada da vacina indiana: o fuso horário dificultaria as negociações. 

    Ora: essa aberração ambulante chegou a anunciar o envio de um avião especialmente fretado e adaptado para ir buscar dois milhões de doses de vacina compradas. Só esqueceu de combinar com o governo da Índia.

    Agora, o governo indiano começou a exportar vacina. O Brasil não está na lista inicial dos países que recebem essas primeiras doses, e ninguém sabe quando – e se – estará. “Faltam poucos dias”, diz o general do Exército que ocupa o ministério crucial na pandemia.

    Alguém acredita nele? Nas suas palavras sem rumo nem base?

    Com a China, o problema é outro, mas igualmente grave: o Instituto Butantan precisa com urgência receber o insumo básico para poder continuar a fabricar a vacina que já começou a ser aplicada, a Coronavac. E o governo chinês atua com lentidão preocupante.

    Tanto a anta ativa do Exército que ocupa o ministério da Saúde como seu par de Aberrações Exteriores tratam de dialogar com a China. 

    Já o Ogro convidou – ou diz que convidou – o embaixador chinês para uma conversa.

    Diante da constatação de que nada disso serviu para avançar com a rapidez necessária, o sempre oportunista Rodrigo Maia entrou na dança, junto a alguns poucos diplomatas experientes que, correndo à margem de Ernesto Araújo, tratam de convencer os chineses a despachar rapidamente o que o Butatan espera com ansiedade.

    O vice-presidente Hamilton Mourão, por sua vez, disse estar às ordens para conversar com os chineses, se for preciso.

    Neste caso, não se trata de oportunismo: afinal, desde que ficou claro o grau de desequilíbrio do psicopata instalado na presidência, é justamente ele, Mourão, a ponte de diálogo não só com boa parte das embaixadas em Brasília, mas também com empresários estrangeiros.

    Suas relações pessoais com o número dois do governo chinês, por exemplo, fluem efetivamente, apesar de todos os absurdos disparados por Jair Messias, seu filho Eduardo e Ernesto Araújo.

    Além disso, manter sua atuação no cenário externo pode fazer parte de um treino de Mourão para o caso de assumir a presidência se o atual ocupante for efetivamente catapultado.

    Enquanto isso, o país espera, atônito, pelos insumos e vacinas. E também pela hora de levar aos tribunais os responsáveis pela tragédia que graças às suas respectivas incompetências, somadas aos seus delírios, se abateu sobre os brasileiros: o general da ativa incapaz de qualquer coisa além de espalhar colegas de farda pelo ministério, Eduardo Pazuello, e seu chefe, Jair Messias.

    Nesta terça-feira morreram mais pessoas no interior do Amazonas e do Pará por falta de oxigênio. 

    Em Manaus, as cenas de desespero se sucedem num redemoinho angustiante.

    E os dois continuam, inacreditavelmente, onde estão. E como estão.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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