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    JOÃO TAVARES

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    Chico, o artista brasileiro que não perde o humor e a ternura jamais!

     Sem firulas acadêmicas ou contorcionismos críticos descrevo 20 razões para se assistir ao show do artista e concluo com uma indiscutível certeza

    Chico Buarque  (Foto: JOÃO TAVARES)

    No novo show, Chico Buarque joga nas onze, leva a bola de ouro e vai pra galera 

    Belo Horizonte viu primeiro. Rio de Janeiro e São Paulo verão de janeiro a abril. E que outras capitais também possam ver a ‘Caravana’ passar cantando coisas de amor. Às vezes lembrando a dor, mas sem perder o humor e a ternura, jamais!

    Em cinco noites com ingressos esgotados antecipadamente, Chico Buarque estreou nova temporada – depois de seis anos em que o escritor sequestrou o músico – de bem com a vida, apaixonado pelo país, amando o que faz e com a cumplicidade do público renovada a cada verso de 31 canções onde a qualidade e o profissionalismo são correspondidos pelos aplausos insistentes a este que é um Concerto onde o superlativo ‘espetáculo’ chega a ser modesto diante do que se desfila para milhares de olhos e ouvidos extasiados.

     Sem firulas acadêmicas ou contorcionismos críticos descrevo 20 razões para se assistir ao show e concluo com uma indiscutível certeza.

    1)      Chico está ‘leve’ no palco. Domínio total do campo de jogo. Pisa nos corações, mas caminha com ‘pés de lã’.

    2)     Não é um show panfletário. Músicas e letras falam por si. Interpretações ou o uso de carapuças é livre.

    3)    O roteiro é montado de forma a encadear ‘historinhas’. Mas não é um indecifrável quebra cabeça. É um ‘lego’ musical para todas as idades. Com a vantagem de cada cabeça montar o seu próprio brinquedo/enredo.

    4)      Sambas, blues, boleros, valsas… Versatilidade de músicas executadas por 8 batutas.

    5)     As sete novas canções dialogam com as de outras épocas como se fossem feitas em um mesmo momento. Não existem músicas datadas ou agarradas em um tempo.

    6)     Assis Valente é resgatado em uma canção que Chico já havia pinçado para o filme ‘Quando o Carnaval Chegar’. O povo, através do samba e dos tempos, continua pedindo passagem.

    7)   Iluminação é um show à parte. Esmero e padrão internacional. E com a sensibilidade de manter todos os músicos em foco, com gradações diferentes, mas ressaltando a importância do conjunto.

    8)     A propósito da ‘banda’, tivessem os músicos a habilidade com os pés que eles têm com as mãos (exceção, claro, do ‘crooner’ que é bom de bola e bom de viola) e poderia ser chamada de ‘Buena Vista Futebol Clube’.

    9)    O músico Chico em seus melhores momentos. O violão solo, em ‘Retrato em Branco e Preto’, é antológico e orgulharia Tom Jobim.

    10)   Canta muito esse Chico que alguns ainda insistem que ‘ele não sabe cantar’. E os que afirmam isso com mais convicção são os que – de fato – não sabem cantar. Chico estraçalha essa ‘fake news’. Que voz, por exemplo, acompanharia melhor os acordes do solitário piano em ‘Todo o Sentimento’?

    11)   Os assobios de Chico são requintes de quem domina todos os recursos que uma música permite, sugere ou exige.

    12)  Luiz Claudio Ramos; arranjador, diretor musical. Atua como um Guardiola. Define onde cada um joga, tira o melhor de cada jogador e ainda entra em campo para mostrar como se joga. Um soberano maestro!

    13)   Chico Batera é brincadeira!  Na estrada a muitos anos. Mocidade eterna. Bateria nota dez. Dez! Nota Dez!

    14)   Jorge Hélder, discreto parceiro, músico de primeira, criando a emoção, o clima e a tensão que ‘Geni’ não teria sem a sua performance.

    15)   Bia Paes Leme, além dos teclados, uma bela voz que casa com a de Chico em diversas canções, especialmente em Iolanda e Dueto.

    16)   Marcelo Bernandes, o bom de boca. É capaz de transformar em música até o singelo ato de soprar uma vela em um bolo de aniversário. Sopros de vida.

    17)  João Rebouças: passando do piano ao Cavaquinho com a simplicidade de quem troca um smoking por uma camiseta regata. Sem perder a elegância.

    18)  Jurim Moreira, substitui a lenda Wilson das Neves, não deixa a baqueta cair e, estreante, já se torna imprescindível.

    19)   A ‘presença’ de ‘das Neves’, na merecida homenagem dançante do amigo Chico, é alegre e comovente. Sem contradições. Ô sorte!

    20)  Um show para levar os filhos. Fui com João Vinícius, o meu de 10 anos, que adorou. Entendeu as razões de Bia; solidarizou-se com a Geni; fez dele a Tua Cantiga e aprendeu que se alguém te desafia e bota a mãe no meio… é a senha para dar pernadas a três por quatro…

    Enfim, um espetáculo ‘Paratodos’. Uma homenagem ao Brasil – sem desnecessários proselitismos. Um presente aos que amam a boa música. Uma homenagem a cantores e compositores que através de suas canções traduzem em vozes, versos, acordes e rimas os sentimentos que – sem a intermediação deles – ficariam indefinidos, escondidos, alheios, por aí, ‘milênios, milênios’ no ar.

    ‘Caravanas’ responde a certeza prometida na abertura deste texto. Chico Buarque é ‘O Artista Brasileiro’.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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