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    Fernando Castilho

    Arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada

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    Cícera e Sarah

    "Sarah não contou a seus pais o que aconteceu, temendo ser chamada de filha do diabo"

    Manifestação de protesto contra o PL 1904/24 (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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    Cena 1: Cícera, de 11 anos, trabalhava na roça e estudava na escolinha rural sonhando em ser médica.

    Um dia, um dos roceiros, sem que ninguém visse, a pegou desprevenida. Depois do ato consumado, temendo ser descoberto e linchado ou preso por 10 anos, o bandido desapareceu. 

    Cícera não contou para seus pais, temendo levar uma surra. Resolveu guardar segredo, mas, aos poucos, uma barriguinha começou a surgir.

    No início, ela nem se deu conta porque não sabia como essas coisas aconteciam. Mas, um dia, seus pais desconfiaram e lhe deram a surra que tanto ela temia. Mais tarde, foram até a delegacia, onde foram informados que, caso a menina fizesse aborto, seria presa, talvez por 20 anos.

    A única saída possível para Cícera foi prosseguir na gravidez e esquecer o sonho de se tornar médica, afinal, iria ter um filho pra criar. As brincadeiras com outras crianças também cessaram, já que as mães não queriam que ela fosse companhia para suas filhas.

    Cícera, enfim, teve o bebê, mas nunca se recuperou do trauma. Viveria sua vida junto a uma criança que nunca seria bem tratada porque fora indesejada e nunca se casaria.

    Cena 2: Sarah, de 11 anos, filha de um deputado pastor, tinha o sonho de também se tornar pastora. Mas, apesar de ser rodeada por toda segurança, não conseguiu escapar de um obreiro da igreja que já a vinha assediando há meses.

    O obreiro, temendo ser preso por 10 anos, se escafedeu.

    Sarah não contou a seus pais o que aconteceu, temendo ser chamada de filha do diabo. 

    Mas, após 5 meses, a barriga já era visível. Seu pai, quando descobriu a xingou de tudo quanto é nome. Em seguida, mandou a esposa e a filha guardarem segredo.

    Caso Sarah prosseguisse na gravidez e tivesse o filho, o baque na reputação de seu pai seria enorme. A solução foi enviar as duas para os Estados Unidos onde um médico indicado por outro deputado, resolveria o problema.

    Passados dois meses, Sarah voltou ao Brasil onde poderia continuar a alimentar seu sonho de ser pastora e suceder seu pai à frente de seu conglomerado de igrejas.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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