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    Ruben Bauer Naveira

    Pai de dois filhos, tricolor de coração e cidadão brasileiro

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    Como derrotar um golpe militar?

    Se Erdogan tinha a maior parte das tropas do seu lado (e ele tinha), por que não mandou suas tropas leais sufocarem o golpe, ao invés de convocar nas redes sociais os civis a fazê-lo?

    Se Erdogan tinha a maior parte das tropas do seu lado (e ele tinha), por que não mandou suas tropas leais sufocarem o golpe, ao invés de convocar nas redes sociais os civis a fazê-lo? (Foto: Ruben Bauer Naveira)

    O golpe militar na Turquia foi derrotado pelo povo nas ruas!

    Esse foi o mote que correu o mundo. A imagem de civis em cima dos tanques rebelados, braços erguidos com os dedos em V e bandeiras desfraldadas, diz tudo. Aqui no Brasil, isso encheu de júbilo muitos corações de esquerda.

    Só que... isso foi apenas um pedaço da história.

    Nem todas as imagens do episódio foram amplamente divulgadas, como por exemplo esse vídeo, que mostra o enfrentamento entre civis e as tropas rebeladas sobre a ponte que atravessa o estreito de Bósforo, então tomada pelos golpistas (alerta: imagens fortes e perturbadoras)

    O que o vídeo mostra são pessoas sendo metralhadas e mortas pelas tropas.

    A pergunta: Se Erdogan tinha a maior parte das tropas do seu lado (e ele tinha), por que não mandou suas tropas leais sufocarem o golpe, ao invés de convocar nas redes sociais os civis a fazê-lo?

    A resposta: Porque as tropas rebeladas estavam justamente buscando a adesão das demais tropas, para que o golpe tivesse sucesso. Militares não gostam de ser chamados a combater (e matar) os seus companheiros de farda, assim Erdogan correria o risco de não ser obedecido, ou, pior, de que suas tropas acabassem por se juntar ao golpe.

    O agravante: Erdogan sabia que o golpe ocorreria. Então, tudo pôde ser antecipadamente planejado – inclusive o seu vídeo de chamamento à população divulgado por celular (era preciso aparentar improviso).

    Erdogan e o governo turco tinham plena consciência de que vidas inocentes acabariam sacrificadas. Como bem descreveu o analista Tayfur Hussein, da Bulgária (nessa entrevista): "The call, which he made to his excited supporters had come out against the plotters. This call only mean death for many innocent people. We have the military who are trying to carry out a coup, carrying military weapons. It is assumed that they will take all measures to achieve their success, including to kill people."

    Tradução: "O chamamento feito por ele [Erdogan] aos seus entusiasmados adeptos voltou-se contra os golpistas. [Entretanto] aquele chamado somente poderia significar a morte para muitas pessoas inocentes. Havia os militares, portando armamento militar, que estavam tentando fazer um golpe dar certo. O pressuposto é que eles fariam qualquer coisa para atingir seu objetivo, inclusive matar pessoas".

    Ainda na entrevista: "I must point out that you can not expect anything good from any military coup. No return to democracy. And the worst democracy is preferable to any kind of military dictatorships and coups" ("Eu quero enfatizar que não se pode esperar nada de bom de nenhum golpe militar. Nenhum retorno à democracia. E a pior democracia é preferível a quaisquer formas de ditaduras militares e golpes").

    Conterrâneos: mais claro, impossível.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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