Como desenvolver uma Inteligência Artificial brasileira
"Incentivo deve ser direcionado para garantir que empresas emergentes e cientistas independentes tenham a capacidade de competir"
Nesta semana, o presidente Lula publicou em suas redes sociais questionamentos interessantes sobre o motivo de não podermos ter uma inteligência artificial genuinamente brasileira. Ele deve ter se inspirado no acalorado debate sobre a proteção de dados brasileiros e na recente proibição para que as chamadas Big Techs, como Google, Facebook e outras grandes empresas de tecnologia, utilizem dados coletados do nosso povo para treinar seus avançados modelos de I.A.
A ideia de desenvolver uma I.A. própria é extremamente louvável e visionária, mas enfrenta uma série de desafios econômicos significativos. Para que esse empreendimento seja bem-sucedido, é preciso compreender que, antes de se aventurar no desenvolvimento de software, especialmente no campo das inteligências artificiais, é necessário um incentivo robusto e contínuo.
Este incentivo deve ser direcionado para garantir que empresas emergentes e cientistas independentes tenham a capacidade de competir em igualdade de condições no desenvolvimento e compra de hardware, que está intrinsecamente ligado às pesquisas avançadas conduzidas no exterior. Sem esse suporte inicial e a infraestrutura adequada, o progresso no desenvolvimento de uma I.A. própria pode ser severamente limitado, comprometendo a capacidade de inovação e a competitividade no cenário global.
As taxas de importação, que tanto encantam a equipe econômica do governo federal, atrapalham significativamente a paridade de compra de equipamentos avançados, como GPUs e os novos chips dedicados ao aprendizado de máquina. Esses componentes são essenciais para o progresso tecnológico e científico, mas enfrentam barreiras burocráticas e financeiras que dificultam a sua aquisição. Não temos uma política séria de desenvolvimento de hardware e também não facilitamos a importação de tecnologia de ponta.
Existem essencialmente dois caminhos a serem seguidos para resolver esse impasse: a facilitação para a utilização - como nos casos europeus onde políticas são implantadas para reduzir impostos e simplificar processos de importação; ou o incentivo para a indústria alcançar autonomia - como no caso chinês onde o governo investe maciçamente em pesquisa e desenvolvimento, além de proporcionar subsídios e apoio financeiro para empresas locais. Sem uma mudança significativa em nossa abordagem, continuaremos sempre atrás na inovação tecnológica.
Na esteira da resolução desse problema físico, de montagem de equipamento necessário para o real desenvolvimento de tecnologia de ponta, temos o incentivo ao uso de software livre, modular, onde diversos pesquisadores podem contribuir para o mesmo projeto ou da utilização desses esqueletos para montar programas específicos. A vantagem como pesquisa é enorme ao utilizar meios não proprietários, indo na linha da chamada Open Science e um desenvolvimento horizontal, em que um contribui com o outro para avançar.
O Brasil precisa de uma grande política nacional desenvolvimentista que passe por hardware, software e a valorização da ciência brasileira. Menos impostos para garantir estrutura e incentivo através de redes de colaboração, protocolos abertos de pesquisa e a real valorização dos bolsistas da CAPES sendo encarados como pesquisadores, trabalhadores da ciência, e não como estudantes que o governo está fazendo um favor.
Só assim, poderemos de fato, ter uma I.A. brasileira. Ciência encarada como trabalho e futuro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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