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Rafael Bastos

Professor da Faculdade de Educação da Uerj e do programa de Pós-Graduação e do Laboratório de Políticas Públicas

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Como ficou a condensação das forças políticas nas eleições municipais de Petrópolis?

"Tendência reflete um ar conservador, porém de continuidade alternada"

Centro de Petrópolis (Foto: ABr)

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Petrópolis tem elementos que colaboram para a fama de ser um município conservador. Talvez o pendão de cidade imperial seja o motivo-chave. Todavia, os dados que trago nesse texto ajudam a esclarecer alguns aspectos mais paradoxais do âmbito eleitoral, que demonstram que a política real é bastante complexa. 

O atual prefeito é o experiente Rubens Bomtempo (PSB), cujo vice é Paulo Mustrangi (PT), também candidato à reeleição. A chapa ficou com 27.158 votos (17,23%) no primeiro turno. Se Bomtempo tivesse triunfado, seria a quinta vez que ele seria conduzido à prefeitura. No entanto, a memória da maior tragédia climática já vivida pelo município, em 2022, foi um fator importante para que outros dois pleiteantes seguissem para o segundo turno, finalizado no último 27 de outubro.

Hingo Hammes (PP) e Yuri Moura (PSOL) duelaram pela liderança nas duas voltas. O candidato do PP manteve larga margem em ambas, o que o habilitou para assumir o cargo de prefeito com muita contundência e um recorde de diferença de votos.


1º Turno 

2º Turno 

Hingo Hammes 

78.734 (49,96%)

 108.306 votos (74,74%)

Yuri Moura 

28.001 (17,77%)

 36.611votos (25,26%)

Fonte: TSE 

Hingo é um político jovem, de 44 anos, que vem se mostrando hábil na vida pública. Ele já teve a oportunidade de administrar Petrópolis por um breve período (onze meses), pois do início de 2021 até dezembro do mesmo ano, a chapa vencedora de Bomtempo esteve sub judice.

Na ocasião, Hingo teve uma postura republicana ao reconhecer que, na condição de presidente da Câmara Municipal, deveria fazer uma conciliação de poderes internos para viabilizar um mandato interino, mas com legitimidade social. Considerando sua vitória em 2024, pode-se entender que a população aprovou seu breve governo que, aliás, teve que lidar com o início da pandemia da Covid-19. O tom dele é marcado pelo diálogo, assim foi ao retomar o cargo de Presidente da Câmara. Esta campanha eleitoral guardou esta característica e é provável que assim siga no mandato de 2025 a 2028.  

Vale dizer que o desempenho de Yuri Moura não foi nada desprezível, apesar da derrota. Ele saiu do cargo de vereador mais votado em 2020 (3.742 votos) e se tornou deputado estadual em 2022 (25.479 votos). Na oportunidade, foi o candidato à ALERJ mais votado de Petrópolis. Agora, se gabaritou para um segundo turno, alcançando 36.611 votos. Com a contínua visibilidade e com o mandato na ALERJ, vai se consolidando como uma forte liderança local.

Chama atenção os dados sobre os tamanhos das coligações dos três primeiros colocados, no primeiro turno. A de Bomtempo e a de Hingo foram bem maiores do que a de Yuri. Hingo contou com o apoio do governador Cláudio Castro (PL) também. Deve-se observar criteriosamente a capacidade da equipe do candidato psolista. Bomtempo, por outro lado, não conseguiu transformar este potencial em votos. 


Rubens Bomtempo (PSB)


Coligação / Federação


PARA PETRÓPOLIS SEGUIR AVANÇANDO (PDT / PSB / PSD / CIDADANIA / PSDB / PC do B / PT / PV)


Hingo Hammes (PP)


Coligação/Federação


PETRÓPOLIS RENOVANDO COM EXPERIÊNCIA E CREDIBILIDADE (PP / PL / PRD / MOBILIZA / MDB / UNIÃO / DC)


Yuri Moura (PSOL)


Coligação / Federação


Federação PSOL REDE (PSOL / REDE)


Fonte: TSE

Surpresa, no campo da esquerda parlamentar, foi a eleição da professora Lívia Miranda (PCdoB). Ela foi candidata a prefeita em 2020, galgando 4.968 votos. Este ano, foi eleita vereadora com 2.152 votos. Declaradamente lésbica, ela é também a primeira comunista eleita na cidade. Além disso, Júlia Casamasso (PSOL) conseguiu a continuidade do mandato, conquistando 3.135 votos. Em 2020, haviam sido 2.561. Ambas as vereadoras são feministas.

A bancada feminina do Palácio Amarelo contará também com a vereadora Gilda Beatriz (PP) que chegou à reeleição com 3.306 votos. Em seu quarto mandato, ela estará na base política de Hingo e já se credencia como uma das principais lideranças da cidade. Será a primeira vez que esse espaço legislativo contará com três mulheres eleitas, um feito importante.

Metade da Câmara passou por renovação e o desenho das siglas partidárias tem a predominância do PP, que obteve três vagas. Na sequência, vêm PSD, PSB e PSDB, cada um com duas vagas. Depois, vêm PSOL, PCdoB, PRD, MDB, União Brasil e PL, com uma vaga cada. A base de apoio de Hingo conta, de partida, com 7 cadeiras, o que não garante a maioria, mas não tornou a vida do futuro prefeito tão difícil assim para governar com o legislativo, vide os apoios recebidos no segundo turno. 

Em uma Câmara com quinze representantes, a fragmentação partidária é considerável. Praticamente a metade é de centro-direita, mesmo campo do prefeito Hingo. O presidente atual da casa, Júnior Coruja (PSD), foi o candidato mais votado, com 5.715 votos. Assim, o desenho geral aponta para uma tendência não tão grande para a direita radical, algo demonstrado pela solitária cadeira conquistada pelo PL (através do vereador Octavio Sampaio). Em uma cidade que já deu tanto espaço para o bolsonarismo, esse é um fato que merece destaque. Ainda sobre orientação ideológica e a transformação disso em apoio ao governo, no Brasil, a dinâmica da governabilidade, não costuma ser tão automática, exige negociação para aprovação de Projetos de Lei. Hingo sabe fazer este papel, afinal presidiu a Câmara.  

Em perspectiva comparada, no parlamento, a esquerda talvez tenha empatado com o bolsonarismo mais visível, no 2024 petropolitano, e terá espaço para debates ainda de pouco avanço na vereança, via bancada feminina. A pauta dos costumes tende a ser encampada pelo vereador eleito Wesley Barreto (PRD) que foi candidato do Deputado Federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Vejamos como será o tom geral da produção legislativa e o diálogo político e cultural com a sociedade.  

Algumas ausências também foram notadas, como a falta de representatividade negra, que contrasta com o Censo de 2022 (IBGE), onde 27,9% da população se declara como parda e 13,2% preta. Figuras importantes como Bernardo Rossi não estavam na linha de frente das campanhas (aparentemente), tampouco foi uma eleição marcada pela nacionalização. O Lulo-petismo sofreu impactos, seja pela não reeleição de um representante majoritário, quanto por não fazer um(a) vereador(a). Mas a maior ausência foi mesmo a dos votos, quando 87.513 cidadãos deixaram de comparecer no segundo turno.   

Uma curiosidade a ser pensada é o comportamento eleitoral da cidade e a dificuldade de continuidade, pois desde 2008, há segundo turno, coincidindo com um revezamento de prefeitos, não sucessões e alguns retornos de pessoas conhecidas. Esse fenômeno é um desafio para a gestão de Hingo Hammes nos próximos anos.

Resultado do segundo turno

Vencedor

Derrotado

2008

Paulo Mustrangi (PT) 

65%

Ronaldo  Medeiros (PSB) 34%

2012

Rubens Bomtempo (PSB)

56,05% 

Bernardo Rossi (PMDB)

43,95%

2016

Bernardo Rossi (PMDB)

52,65%

Rubens Bomtempo (PSB)

47,35% 

2020

Rubens Bomtempo (PSB)

55,18% 

Bernardo Rossi (PL)

44,82%

Fontes: TSE, G1 e UOL Eleições 

Fechando esta análise, o quadro acima e demais dados sobre as eleições majoritárias, mostram uma tendência à manutenção de nomes expressivos no cenário político, o que reflete um ar conservador, porém de continuidade alternada. No quesito orientação ideológica, há um revezamento entre forças progressistas, de centro e de direita.  

Grato pela revisão cuidadosa de Natalia Veiga. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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