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    Marco Damiani

    Marco Damiani é jornalista e consultor na área de comunicação

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    Como um ‘coach’, Lula dá aula, roteiro e motes para Bolsonaro começar, enfim, a governar

    Jornalista Marco Damiani diz que ex-presidente "ensinou do básico ao avançado" e que "Bolsonaro, oportunista como é, assimilou rapidamente as dicas". No entanto, "usar máscara, que ele sempre considerou desnecessário, é fácil, já ter um projeto de Nação vai ser bem mais difícil. Esse, quem tem, é o mestre", avalia o colunista

    Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

    Por Marco Damiani

    Como se fosse um ‘coach’, o ex-presidente Lula aplicou hoje uma dura lição no presidente Jair Bolsonaro. Ensinou do básico ao avançado. Começou por dizer ao adversário que a terra é redonda. Em caso de persistência na dúvida, recomendou que pergunte ao astronauta Marcos Pontes, “se ele não estiver dormindo”, que voou pelo espaço durante os tempos do governo petista. O mesmo governo, como lembrou o professor, que levou o Brasil à posição de sexta maior economia do mundo, à frente da França e da Itália: “Eu queria ultrapassar a Alemanha”.

    Lula lecionou a Bolsonaro que ele precisa usar máscara contra a Covid-19, comprar vacinas e tratar de políticas de emprego, renda e combate à desigualdade – dirigindo-se nesta parte da aula ao ministro Paulo Guedes, “que só fala em vender, vender, vender”. Num tema caro ao primeiro mandatário, elucidou que o povo não está precisando de armas, mas sim o Exército e a polícia, “que usa revólver ‘trinta e oito’ enferrujado”. Acentuou que o que Bolsonaro faz, neste campo, só ajuda as milícias. Didático, Lula deixou claro que não há serventia em um governo que diz que os problemas nacionais não são da conta da administração pública. “Se é assim, para que existe governo então?”, perguntou o ex-presidente, concluindo: “Não temos governo”.

    É certo que, tim tim por tim tim, Bolsonaro assistiu tudo o que Lula disse a ele. Depois de cinco anos com os direitos políticos cassados, o ex-presidente teve finalmente abertas as câmeras de ao vivo de emissoras poderosas como a GloboNews e a CNN. Não deu para cortar. Lula hipnotizou. Foi tocante desde os agradecimentos, quando contemplou de Alberto Fernández à Pepe Mojica, de Martinho da Vila e Chico Buarque à Raduan Nassar e Noam Chomsky, contemplando com ênfase do Papa Francisco. E foi emocionante ao dizer que, apesar de ter todo o direito de estar magoado pelas “cem chibatadas” que levou, representadas em seus mais de 500 dias de prisão, não está. “Estou tranquilo, eu tinha certeza de que esse dia chegaria. E chegou!”, saudou ele, referindo-se à anulação de todas as acusações contra si feitas pela “quadrilha” da Lava-Jato.

    Ao contrário do presidente que gosta de ser um ‘mito’, que faz arminhas para se mostrar valente e cultiva a fama de duro, Lula mostrou que o caminho é outro. “Não tenham medo de mim”, solicitou, dizendo estar disposto a conversar com todos, políticos, empresários, sindicalistas, “qualquer um que queira melhorar a dignidade do povo brasileiro, porque sem dignidade no povo não haverá crescimento”.

    Bolsonaro, oportunista como é, assimilou rapidamente as dicas do ‘coach’ Lula. Em mensagens ao longo do dia, ele, negacionista, garantiu que desde agosto liberou dinheiro para a compra de vacinas. E em um evento no Palácio do Planalto, ao lado de vários de seus áulicos, apareceu em público, finalmente, usando máscara de proteção. E não só o presidente se tocou. Enrolado no caso da mansão de R$ 6 milhões que comprou em Brasília sabe-se lá com que dinheiro, o filho Flávio Bolsonaro apareceu no Twitter para dizer que vacinar significa criar empregos. Talvez tenha sido a primeira vez que digitou essa última palavra.

    No centro de sua palestra, Lula pontuou que a maior diferença entre seus tempos na Presidência e os dias atuais é que, antes, com ele à frente, “tínhamos um projeto de Nação”. Agora, completou noutro trecho, o que o Brasil tem é “um fanfarrão”. Bolsonaro ouviu, não deve ter gostado, mas já está fazendo a lição de casa ministrada pelo mestre. Usar máscara, que ele sempre considerou desnecessário, é fácil, já ter um projeto de Nação vai ser bem mais difícil. Esse, quem tem, é o mestre. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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