Confesso que chorei
"Quando vi a destruição do plenário do Supremo Tribunal, não pude conter as lágrimas", relata Kakay
Pintou estrelas no muro e teve o céu ao alcance das mãos - Helena Kalody
Confesso que chorei. Quando vi a destruição do plenário do Supremo Tribunal, não pude conter as lágrimas. Aquela Tribuna sagrada que ocupei tantas vezes, em nome da liberdade e da democracia, usurpada por bárbaros.
Quando vi as cenas daqueles energúmenos se vangloriando da invasão vil, eu entendi, de maneira definitiva, a força deletéria da mensagem de ódio e de violência inoculada nesses idiotas pelo chefe deles, o ultradireitista Jair Bolsonaro.
O país só será pacificado com a condenação desse líder fascista e deletério. Vamos dar a ele todos os direitos constitucionais, inclusive o direito de só ser preso definitivamente após o trânsito em julgado da sentença condenatória. Digo definitivamente, porque, se ele insistir em promover atos insurrecionais, estarão presentes os requisitos para uma prisão cautelar.
A invasão das sedes dos Três Poderes comprova o que tenho escrito há meses: Bolsonaro sempre intentou uma ruptura institucional. Só não conseguiu quando era presidente por não ter nenhum prestígio junto à intelectualidade das Forças Armadas. Qualquer pessoa com razoável descortino racional tem solene desprezo por esse ser escatológico. E nossos chefes militares são, em regra, preparados intelectualmente. Bolsonaro nunca teve o respeito que seria natural como comandante em chefe.
É necessário olhar com a acuidade os fatos graves dessa tentativa de golpe de Estado. Estamos ainda no meio da intentada criminosa. E ter a maturidade para apoiar o governo no repúdio ao golpe. Um governo, com uma semana de exercício do poder, para enfrentar uma tentativa violenta de golpe tem que ter muita competência para resistir. E esse governo teve. Induzido em erro por um irresponsável secretário de segurança do Distrito Federal, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que convenceu o governador do DF de que existia segurança, enquanto alimentava o golpe.
A cena da Polícia Militar do Distrito Federal protegendo e acompanhando os terroristas até a porta dos três palácios na Praça dos Três Poderes é revoltante. Dá asco. Desce um sentimento punitivista que leva à certeza da necessidade de retirar tais pessoas do convívio social.
Nesta nossa resistência democrática, devemos ter a humildade para reconhecer os erros, talvez o excesso de confiança, depois de uma posse pacífica, histórica, comovente, mas também a maturidade da reflexão dos nossos acertos. A postura de estadista do presidente Lula fez toda a diferença.
Depois de um forte discurso em Araraquara, onde estava em solidariedade cívica, junto com o prefeito Edinho, ao povo sofrido pela chuva, Lula desceu em Brasília e foi direto mostrar que ele é o nosso condutor da estabilidade democrática.
A visita do presidente Lula aos escombros do interior do plenário do Supremo Tribunal, acompanhado da Ministra Rosa Weber, presidente da Corte, do ministro Barroso e do ministro Tofolli, é carregada de forte simbolismo. O respeito aos poderes institucionais. O apreço à democracia. O necessário resgate da independência entre os poderes, mas com o apoio institucional.
O presidente Lula só não foi ao Congresso por recomendação de sua equipe de segurança. Por ele, iria. O espírito indomável de um estadista tendo que se submeter aos cuidados em plena tentativa covarde de um golpe de Estado.
A resistência se faz com cada um exercendo seu papel na sociedade. O repúdio frontal ao golpismo. A palavra sem medo, em nome da democracia. A alegria, os fascistas cultuam o ódio. A recitação de poesia em público, eles não suportam poesia. A demonstração pública de afeto e carinho, eles são, em regra, enrustidos, não assumem a sexualidade.
Enfim, vamos vencer a barbárie, porque o tempo deles, que nem deveria ter existido, acabou. Ninguém mais vai rasgar o Di Cavalcanti, ou quebrar a Peretti, ninguém vai estuprar novamente nossa esperança em tempos mais leves e felizes.
Ser feliz é um destino revolucionário, não a felicidade individual ensimesmada no individualismo, mas a felicidade coletiva, aquela que invadiu a rampa do Palácio do Alvorada no dia da posse do Lula. O símbolo mais significativo de um país tomando posse de si mesmo. A pluralidade representada pelos invisíveis sociais.
Eu não tenho dúvida de que o que impulsionou o ataque fascista ao Palácio do Governo foi o inconformismo com o fato de o povo ter subido democraticamente a rampa. Os fascistas enlouqueceram. Vamos vencê-los e vamos esperançar juntos. O povo brasileiro merece.
Lembrando nosso Pessoa, no Livro do Desassossego na Estalagem da Razão: "A meio caminho entre a fé e a crítica está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível".
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